Antes de o ser, já era "O velho". "The old man", assim ficou conhecido desde os 38 anos, o empresário americano que se tornou numa celebridade quando a sua loja de penhores virou o palco do segundo programa televisivo mais visto dos Estados Unidos da América. Até morrer, na segunda-feira, dia 25 de junho, com 77 anos, Richard Benjamin Harrison foi uma das figuras principais do reality show "O Preço da História" ( "Pawn Stars") e tal foi o seu êxito que em 2012 fez parte dos nomeados para a lista anual das 100 pessoas mais influentes da TIME.
O programa, transmitido em Portugal no Canal História, retrata, através de quatro personagens, Richard, o filho Rick, o neto Corey e o melhor amigo deste, Austin Russel, o dia a dia do seu negócio — a loja de penhores mais famosa do país, aberta desde 1989, a Silver & Gold Pawn Shop.
Criado em 2009, bastaram dois anos ao programa, que vai na sua 16ª temporada, para ascender a número 1 do Canal História, ao mesmo tempo que fazia do estabelecimento comercial um caso de sucesso. Em apenas dez semanas após a estreia de "O Preço da História", a loja, que tinha 70 visitas por dia, passou a ter 700. Em fevereiro de 2012, o número aumentou até cinco mil visitas diárias.
Lixo branco
Um desfecho que Richard Harrison dificilmente poderia prever quando, aos 14 anos trabalhava como condutor de um autocarro escolar onde recebia cinco euros por semana na zona rural da Carolina do Norte. Conta o filho Rick, na sua autiobiografia, "License to Pawn: Deals, Steals, and My Life at the Gold & Silver", que o pai era como "lixo branco deixado para sobreviver apenas com a inteligência".
Aos 17 anos, Richard Harrison foi apanhado a roubar um carro, o que lhe deu duas hipóteses: cumprir pena ou alistar-se no exército. Após servir 20 anos na Marinha, trabalhou na imobiliária de Joanne Rhue, a sua mulher na altura, com quem teve quatro filhos: Sherry, Joseph, Rick e Chris. O declínio das vendas no ramo da imobiliária fez com que o negócio falisse nos anos 80, o que levou a família a mudar-se para Las Vegas.
Com apenas 4.300 euros e a ajuda do filho Rick, abriu a Gold & Silver Coin Shop na famosa rua Las Vegas Boulevard. Mais tarde, mudaram a loja duas vezes de local até assentarem em Las Vegas Boulevard South onde é hoje conhecida pelo nome World Famous Gold & Silver Pawn Shop. É fácil perceber que a fama em todo o mundo lhe veio pelo programa, um "negócio" arranjado por este filho.
Um negócio de família
Rick Harrison, tal como o pai, embarcou ainda jovem no mundo adulto. “Quando eu tinha 8 anos, a minha mãe costumava chegar a casa com uma série de livros chamados ‘Pequeno Grande Cérebro’. Era sobre um rapaz, na altura da minha idade, que arranjava formas de fazer dinheiro. Tinha pequenos planos de negócios e eu apaixonei-me pelos livros” afirma à CBS NEWS. Quando a família se mudou para Las Vegas, tinha um negócio: vender malas falsas da Gucci.
Aos 23 anos juntou-se finalmente à loja do pai, mas foi em 2009 que a sua vida mudou ao fechar um acordo com o Canal História: "Eu queria que conseguíssemos uma ou duas temporadas para ajudar o negócio. Nunca pensei que pudéssemos alcançar 152 países e 38 línguas". O programa tem como foco explorar a interação entre os funcionários da loja e os clientes, que podem vender ou penhorar artefactos após ser avaliado o seu valor e o historial por especialistas.
Um dos três filhos do primeiro casamento de Rick Harrison, Corey Harrison deixou a escola no 10º ano já com um emprego: polir jóias na Silver & Gold Pawn Shop. Agora é gerente e tem 10% do negócio — prometendo seguir as pisadas do pai e do avô. Austin Russel, também conhecido por Chumlee e amigo de infância de Corey Harrison, integrou a equipa com 21 anos tendo sido uma presença constante tanto na loja como no programa. O seu trabalho inclui receber clientes atrás do balcão, testar e anotar artefactos comprados ou penhorados.
Uma paixão até ao fim
Richard Harrison era sempre o primeiro a chegar à loja de manhã, não tendo faltado nem um dia desde 1994. No programa, é descrito por Austin Russel como “velho e irritadiço”. No entanto, mesmo limitado pela doença de Parkinson, "o velho" não tinha intenção de se reformar tão cedo. A prova disso está numa entrevista em 2012 à Hagerty: "As pessoas perguntam-me muitas vezes quando me vou reformar. Eu respondo sempre que a partir do dia em que eu entrar por aquela porta e já não me divertir, eu reformo-me."
A doença fechou-lhe a porta, mas não sem antes de, através do programa, ter entrado "na vida de muitas pessoas ensinando-lhes o valor de família, trabalho árduo e boa disposição”, como disse Rick Harrison numa publicação no Instagram depois de anunciar a sua morte.