Não abrir um guarda-chuva dentro de casa. Evitar partir um espelho para não ter sete anos de azar. Não passar por baixo de escadas ou atravessar a rua para o outro lado se estiver a passar um gato preto. Todos nós temos aquelas superstições comuns do dia a dia. Se para alguns isto parece ridículo, então preparem-se porque não é nada comparado com o meu círculo familiar.
Existem duas palavras que descrevem a minha família na perfeição: superstições e truques. Quem me conhece sabe que vivo na teoria constante de que tudo tem uma solução e um significado. “Acordar com comichão na mão direita quer dizer que vais receber dinheiro em breve”, disse ninguém nunca, sem ser o meu pai que é a única pessoa no mundo que acha que o dinheiro vai parar às nossas contas bancárias se tivermos comichão na pele. Picadas de insetos? Uma alergia? Isso nem sequer são hipóteses.
Mas calma, não fica por aqui. Sabiam que se três pessoas beberem da mesma garrafa de água, dá azar? Esta é aquela que eu acho (mesmo) absurda, no entanto, o que se torna ainda mais absurdo é que respeito sempre esta regra e não percebo porquê. Lá em casa somos quatro — eu, os meus pais e o meu irmão —, e se três decidirmos beber água pela mesma garrafa, é obrigatório que a quarta pessoa beba também. "Porque senão vai dar azar, Marta", diz sempre a minha mãe. Eu sei, não faz sentido, mas ai de alguém que desrespeite esta regra e corra o risco de ter azar para o resto da vida.
Toda a gente tem azar. Não é por alguém me pedir para lhe passar o sal e eu dar-lho na mão em vez de o deslizar pela mesa que estou a condenar a minha sorte. Não, mãe. Condenar a sorte é atravessar a estrada sem olhar para os dois lados — passar o sal de mão em mão é apenas um ato simpático. Já bem basta ter que chamar o pai para ser a quarta pessoa a beber água da garrafa lá de casa.
Mas todo este manual de como não ter azar da família Proença foi escrito, principalmente, pela Vitória ou avó Nita (para a família) — a seguidora de todos os ditados e provérbios. Além disso, é também a pessoa com mais dicas e truques que conheço, e apesar de alguns serem fora deste mundo, dou uso a um bom número deles. E até hoje não me falharam.
A minha infância foi passada na casa da minha avó e ela sempre quis transmitir-me aquilo que aprendeu, com o objetivo de me tornar numa pessoa mais desenrascada e inteligente. “Sabes que uma mulher prevenida vale por duas, Marta”.
E esta frase leva-nos ao cerne da questão.
Há uns anos estava de férias com os meus amigos no Algarve, um grupo de seis adolescentes com a mania que já conseguiam, sozinhos, gerir uma casa e as tarefas domésticas durante uma semana. Fomos derrotados logo no primeiro dia quando fazíamos o almoço e decidimos preparar o refogado. Começámos por meter o azeite na frigideira para depois juntar a cebola. Foi aí que descambou: a minha amiga Cláudia teve um ataque de choro enquanto tentava cortá-la e não havia maneira de as lágrimas pararem.
Portanto, naquele momento estavam cinco miúdos a olhar para a Cláudia sem saber o que fazer. Cada um tentava cortar um pouco da cebola — como diria a minha avó, dividir o mal pelas aldeias —, mas acabámos todos a chorar.
Até que finalmente me lembrei do truque que a minha avó usa sempre que prepara refeições em casa: “Se morderes um fósforo ou um palito enquanto cortas a cebola, isso faz com que pares de chorar”, dizia-me sempre. E resultou. Acabámos o almoço sem lágrimas e nunca uns bifes de frango com arroz me tinham sabido tão bem.
Este é apenas um dos vários truques que a minha avó me ensinou ao longo destes 20 anos. Por isso, na tentativa de ajudar mais pessoas em desespero com os problemas do dia a dia, estão aqui mais 11 truques da avó Nita.