Mommune é um termo norte-americano que designa uma espécie de comunidade de mães. Foi isto que, sem querer e naturalmente, Jane Hoggart, Vicky e, mas tarde, Nicola criaram: uma família, com três adultas e cinco crianças, sem a responsabilidade dos laços de sangue, mas com as vantagens de se viver inserido numa estrutura, onde há ajuda, aconchego e companhia. É a história desta casa atípica, em Londres, que é narrada em “The Single Mum’s Mansion”, o livro escrito por Janet, publicado a 4 de outubro, disponível na Amazon.
Tudo começou com uma chamada telefónica entre duas amigas que se encontravam na mesmas circunstâncias. Não estavam a atravessar um período fácil. Janet Hoggarth era, há um ano, mãe solteira de três crianças, na altura com 5, 3 e 1 ano. Ao "The Guardian", contou a 29 de setembro que estava a viver “uma meia-vida”. A “adrenalina” da separação já se tinha esgotado, para dar lugar ao desgosto de ter sido substituída por outra pessoa, depois de um projeto, o casamento de 11 anos, ter falhado e de lhe ter retirado, colateralmente, a vida social.
O contexto de Vicky era semelhante, com as diferenças de que tinha as responsabilidades inerentes à vida com uma bebé de dez meses e a obrigação de pagar uma renda que já não podia suportar.
Íamos ao supermercado juntas, cozinhávamos juntas, comíamos juntas, partilhávamos os cuidados infantis. Os nossos pais conheceram-se. Os nossos filhos tornaram-se irmãos."
Foi neste estado que Janet fez o convite. Disponibilizou o quarto vago que tinha em sua casa, para lá acolher Vicky e o seu bebé. Na altura, parecia ser uma medida temporária. Pouco tempo depois, conheceram Nicola, também mãe solteira. Números trocados, cafés combinados, começou a ser uma presença permanente naquela casa. Era lá, na companhia das duas novas amigas, que dormia durante os fins de semana e era lá que passava tardes e serões durante a semana. Passaram sete anos até que cada uma seguir o seu caminho.
“Éramos uma família”, diz Janet à edição online do jornal inglês. “Íamos ao supermercado juntas, cozinhávamos juntas, comíamos juntas, cuidávamos dos miúdos juntas. Os nossos pais conheceram-se. Os nossos filhos tornaram-se irmãos.”
A “casa das mães” salvou esta mulher. A experiência de viver com pessoas que passavam pela mesma situação que ela, que a compreendiam, foi “profunda”, quase terapêutica. “Não foi um grande plano, pareceu só uma solução prática. Deixámos, instantaneamente, de nos sentir tão quebradas.”
A empatia era tão grande que dispensava palavras. “Todas sabíamos o que é que cada uma estava a passar, sem termos de nos explicar. Partilhávamos a dor. Podíamos estar tão zangadas como queríamos”, diz Janet. Só nesta casa é que Vicky compreendeu o conceito de família. “Muito rapidamente, pareceu que estávamos a construir uma unidade familiar diferente. Era baseada na partilha, no apoio. É isso que faz uma família.”
Nicola, que ora estava, ora não estava, também encontrou ali o seu porto seguro. “Eu era a única pessoa divorciada que conhecia, até esbarrar com Janet e ver como nos espelhávamos uma na outra. Estarmos juntas foi tão importante para que as crianças parassem de se sentir estranhas — por saberem que havia outras no mesmo barco. E podíamos fazer coisas de família normais, estar só uns com os outros, beber chá, ir ao parque.”
A nova dinâmica de casa fez com que Janet desistisse dos seus planos de se mudar para outro sítio. Apesar das duras memórias que aquele espaço guardava, tinham-se construído outras, novas. A “atmosfera”, como descreve o jornal inglês, tinha mudado. “Voltei a sentir-me em casa. Quando o meu ex-marido se foi embora, parecia que [a casa] tinha morrido. Mas, depois, o seu coração voltou a bater”, diz Janet. “O sítio voltou a ser importante para mim outra vez.”
“Era como um casamento, só que melhor"
Janet tratava das papeladas, Vicky cozinhava, assim como Nicola, ao fim de semana. As tarefas eram divididas e partilhadas. A rotina doméstica havia-se instalado de uma forma harmoniosa. “Era como um casamento, só que melhor. Tínhamos uma espécie de rota invisível. Preparávamos jantares umas para as outras, todas as noites. Tínhamos os nossos papeis.”
Mas e os filhos? Seria a solução perfeita para as mães tão recompensadora para os miúdos? Não se estariam a impor novas relações familiares? “Garantirmos que os miúdos tinham uma experiência positiva foi fundamental. Tivemos de criar uma casa para eles também”, diz Janet. “Mas só o facto de nos termos o apoio umas das outras deu-nos a estabilidade emocional para sermos melhores mães.”
As crianças formaram laços, que se mantêm sete anos depois. “Havia profundidade real, por isso, sempre foi muito mais do que uma amizade em que só brincavam, mas sem a pressão da relação familiar misturada. Eles não tiveram de se tornar irmãos, de repente.” Hoje continuam a combinar dormidas na casa umas das outras. “Elas [as crianças] falam nesses tempos muitas vezes: da festa de fogo de artificio que quase incendiou a casa, as viagens, os natais com a árvore que era tão grande que tivemos de serrar o topo para caber em casa.”
A forma de educar era semelhante, mas com estilos diferentes. Acreditavam nos mesmos valores, nos mesmos princípios, mas havia mães mais relaxadas e outras que apostavam em mais disciplina. Mas todas se entendiam. “Não tínhamos o mesmo estilo de educar. A Vicky era a mais relaxada, mas sabíamos que concordávamos nas questões mais fundamentais.”
A comunidade das mães já não existe. Janet conheceu Neil, aquele que viria a ser o seu futuro marido. “Senti que ia abdicar de tanto. Eu não precisava de uma relação, portanto deixei que as coisas andassem muito devagar.” Com a mesma naturalidade, as coisas foram se arrumando. Vicky e a filha Daisy precisavam de um espaço maior e Nicola tinha iniciado uma nova carreira. Todas temeram, mas todas souberam que era a altura certa para se despedirem. Não de forma absoluta. Todas as semanas, continuam a encontrar-se e estão sempre disponíveis para quando precisam, diz Janet. O espaço já não existe, mas os laços mantêm-se fortes.