Este domingo, 6 de junho, Luís Dias completou 28 dias de greve de fome em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa. No mesmo dia, interrompeu o protesto contra "a indiferença destrutiva do Estado", por apelo de Marcelo Rebelo de Sousa, que o visitou e com quem conversou ao longo da tarde de domingo.

"Há precisamente quatro semanas, iniciei uma greve de fome em protesto contra a indiferença destrutiva do Estado que, depois de ter reconhecidamente boicotado a viabilidade de um projeto agrícola exportador numa das mais deprimidas regiões do País, mantém-se hoje mais empenhado em encobrir os seus próprios erros do que em remediar a situação e recuperar o investimento público e privado já cometido ao projeto", escreve na carta publicada este domingo na sua página de Twitter.

O caso em questão data desde 2015. Nessa altura, Luís Dias candidatou-se, junto da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), para um apoio financeiro que lhe permitiria a exploração de amoras em Idanha-a-Nova. A candidatura foi recusada depois de a DRAPC considerar que não havia condições bancárias para que aquele projeto avançasse, decisão de que o agricultor recorreu.

O caso foi para o Tribunal de Contas Europeu que ficou do lado de Luís Dias, afirmando que não lhe poderiam ser exigidas garantias bancárias, escreve o jornal "Público".

Dois anos depois, o mau tempo destruiu toda a exploração e Luís Dias voltou a pedir o apoio da DRAPC. Esta, por sua vez, voltou a recusar. O caso seguiu para a provedora de Justiça e para o ministério da Agricultura que, nessa altura, garantiu que a Quinta da Zebreira, a área afetada, teria direito a verbas do Estado. Apesar disso, nunca nenhum pagamento foi efetuado, escreve o mesmo jornal.

Foi isso, juntamente com a ineficiência do governo que até então só aceitou um inquérito ao sucedido, que motivou o protesto do agricultor em Belém, onde permaneceu durante 28 dias, das 8 às 19 horas, sem comer e alimentando-se apenas de água e de vitaminas para se manter vivo. Ao 28.º dia garante que, apesar do fim do protesto, "nada mudou e tudo mudou".

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"Nos últimos dias, fiquei profundamente sensibilizado com as manifestações de apoio e solidariedade que recebi, de transeuntes que me visitaram em frente ao Palácio de Belém, de personalidades da vida política e cívica e de organizações da sociedade civil. Este domingo, além de uma visita da ex-eurodeputada Ana Gomes, João Paulo Batalha e de outros ativistas, recebi uma visita do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa", lê-se na nota divulgada pelo agricultor.

"Estou grato ao presidente Marcelo pela visita que me fez e pela conversa substantiva que manteve comigo sobre o processo. Estou grato pelo interesse do presidente em manter-se informado sobre o caso e espero que exerça a sua magistratura de influência no sentido, não de defender o meu interesse particular, mas de garantir o regular funcionamento das instituições democráticas que a Constituição lhe confia, para chegarmos tão rapidamente quanto possível a uma solução", escreve.

Ana Gomes vai levar o caso a Bruxelas

Terá sido o apelo de Marcelo Rebelo de Sousa a ditar o fim do protesto, tal como Luís Dias o descreve na mesma nota. "Sensibilizado pelo apoio de tantos que recebi e pelos apelos, incluindo o do presidente da República, a que preservasse a minha saúde, decidi interromper a greve de fome".

Terminado o protesto, Ana Gomes já fez saber que pretende levar o caso a Bruxelas com o objetivo de alertar a Comissão Europeia para "eventuais fraudes" no que toca à atribuição de fundos comunitários. "Este é um sinal de alerta porque há evidência em relação a um fundo que já estava em vigor, houve uma situação de manifesto abuso e de esquema corrupto que hoje continua a ser encoberto. É evidente que isto não é bom sinal para a utilização dos outros fundos que estão para vir", explica em declarações à Agência Lusa, citada pelo jornal "Público".

A ex-eurodeputada deixa ainda críticas ao governo: "Estou triste por todos nós, pelo governo que é do meu partido e que não teve a compaixão e se enreda em justificações burocráticas para não olhar para um caso que é da justiça".