Está a ver aquele mergulho que acaba num enorme "chapão", ou que pura e simplesmente não corre como planeado, e que é capaz de provocar algumas gargalhadas? Pode acabar mal, e consegue causar danos cervicais tão graves como a paraplegia ou tetraplegia.
Os acidentes de mergulho são a quarta maior causa de lesão medular, e ocorrem, sobretudo, em lugares com uma profundidade inferior a 150 centímetros. Mas não é só a profundidade que conta: se a velocidade do impacto for superior a três metros por segundo, pode causar lesões cervicais irreversíveis.
O alerta, dado por Luís Teixeira, ortopedista, especialista em patologia da coluna vertebral, é para todos – para quem só dá "mergulhos de verão", e para quem pratica desportos aquáticos como surf, bodyboard ou stand up paddle.
"Na execução do mergulho, a pessoa atinge uma velocidade de cerca de 15 km/h, mas quando o mergulho é executado numa posição quase vertical, a velocidade tem uma trajetória descendente muito veloz em direção ao fundo da piscina", esclareceu o médico em comunicado de imprensa. E, segundo o Serviço Nacional de Saúde, é precisamente em piscinas que ocorre a maior parte destes acidentes.
Na praia, o problema é um bocadinho diferente, e o médico salienta a importância de se saber onde se está a mergulhar – "Em praias com muita ondulação, as pessoas tendem a mergulhar em zonas de rebentação em que ainda têm pé, e aí é mais frequente uma postura incorreta. No momento do impacto do solo, a posição da cabeça e da coluna vão determinar tudo, mas antes, é a análise do espaço que é fundamental." Até porque, de acordo com um estudo da revista de Cirurgia Ortopédica e Traumatológica Francesa, na maioria dos casos, a vítima não conhece, ou conhece mal o local onde ocorreu o acidente.
No grupo de risco estão normalmente jovens entre os 15 e os 30 anos, e do sexo masculino – representam mais de 75%. Mais, o médico lembra que uma boa parte dos acidentes de mergulho (entre 38% a 47%) dá-se após o consumo de drogas, ou álcool.
E as estatísticas do Serviço Nacional de Saúde também falam por si. As vítimas dos acidentes de mergulho são, em 92% dos casos, homens. 96% dos traumatismos atinge a coluna cervical e 15% das vítimas acabam tetraplégicas. Finalmente, os acidentes de mergulho apresentam alguma sazonalidade e acontecem, na sua maioria, entre maio e setembro (85%).
Mas é possível prevenir estes acidentes, trabalhando a velocidade do impacto e a forma como se entra na água, e tendo sempre muita atenção à zona onde se mergulha.
Como ocorre uma lesão de mergulho?
Luís Teixeira explica que "ao mergulhar com o corpo curvado num local raso, a cabeça bate no solo. Após o impacto com o solo, é o pescoço que vai receber todo o peso do corpo. Vai absorver o impacto e produzir uma flexão ou extensão, que pode ocasionar uma fratura ou um deslocamento de uma vértebra cervical (geralmente, a C5 ou a C6), e resultar num trauma da medula espinal."
A medula, por sua vez, continua o ortopedista, "é a responsável pela transmissão das ordens vindas do cérebro para todas as regiões do corpo humano, e a fratura ou luxação das vértebras comprime-a. Esta compressão causa uma necrose – morte dos tecidos e células da região atingida – que vai impossibilitar a transmissão dos estímulos vindos do cérebro, bem como da sensibilidade dos membros."
O que acontece depois, é que "a vítima fica paralisada, e como tal, não sente os membros. O grau da lesão da medula varia, e pode acabar numa condição de tetraplegia, em que há uma paralisação dos braços e das pernas, ou paraplegia, em que a paralisação é só das pernas."
E quais são os conselhos para mergulhos mais seguros?
Luís Teixeira dá quatro conselhos para que se possa mergulhar em maior segurança:
1.Verificar o espaço (a cor da bandeira, se está numa área protegida, as condições envolventes, a sinalização no local, a profundidade da água) para nunca correr o risco de mergulhar numa zona que desconhece.
2.Confirmar que não existem obstáculos à volta com os quais possa haver uma colisão (rochas, pranchas, pessoas, etc.)
3. Tentar que a entrada na água seja feita numa posição mais oblíqua (menos vertical) de forma a atingir uma menor profundidade e a “amortecer” a velocidade do impacto.
4. Esticar os braços e manter as mãos à frente, para que a cabeça esteja protegida durante o mergulho.