O alívio das medidas de combate à COVID-19 em Portugal durante o Natal poderá ter impacto no aumento de casos de infeção que se espera vir a ser registado nas primeiras semanas de janeiro. Quem o diz é Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, que embora considere ainda ser muito cedo para avaliar, com clareza, o impacto do relaxamento das restrições no número de contágios, não tem dúvidas de que os picos que têm vindo a ser registados até agora têm "seguramente um pouco a ver com isto", explica ao jornal "Público".
Para o especialista, só a partir da próxima quarta-feira, 6 de janeiro, é que será possível ter-se acesso àquilo que considera serem valores mais próximos da realidade. No entanto, ressalva que a forma como os vários países europeus agiram durante o período do Natal se traduzirá em aumentos distintos.
É que apesar dos alívio das restrições em países como Espanha, Alemanha, Reino Unido, França e Bélgica, todos estes "tiveram medidas mais apertadas do que as nossas", o que leva Ricardo Mexia a prever um crescimento de "maior dimensão" do número de casos de infeção em Portugal decorrente dos ajuntamentos familiares.
Este aumento, no entanto, era previsto não só em Portugal, mas nos restantes países europeus. "Toda a gente sabia que o aumento do número de casos ia acontecer, independentemente de alívios [das medidas]. A questão que se coloca é a dimensão. Quando se aligeiram as medidas, passa-se uma mensagem e as pessoas acabam por adotar comportamentos que se calhar não teriam se a mensagem fosse outra", diz ao mesmo jornal.
Por isso, garante que agora o necessário passa por "reforçar os meios, melhorar a comunicação" e "antecipar os problemas em vez de estar a correr atrás do prejuízo". E não tem dúvidas de que o arranque do programa de vacinação contra a COVID-19 poderá ter criado "um certo sentimento de que está tudo resolvido", já que terá levado algumas pessoas a "descurar algumas das medidas mais básicas".
"A vacina só vai ter um impacto daqui a vários meses, nada muda em relação às medidas nem vai poder mudar num horizonte próximo", afirma.
"O que é facto é que temos os números a subir. Esta segunda-feira, com dados de domingo, estamos acima dos 4 mil. É um valor importante”, e avisa, apoiado nos relatos que tem ouvido de "colegas no terreno", da possibilidade de a situação se "agravar nos próximos dias".