É um momentos histórico. Nove meses corridos desde que a pandemia foi declarada, o esforço da comunidade científica está à vista. Já há vacina, que está a ser distribuída, armazenada e administrada em vários países.
Em Portugal, o Plano Nacional de Vacinação, arrancou no domingo, 27 de dezembro, com os profissionais de saúde. Segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, até às 18 horas de terça-feira, 29 de dezembro, já foram administradas em Portugal 16.701 vacinas contra a COVID-19 da BioNTech-Pfizer.
Em 10 perguntas e 10 respostas, reunimos tudo o que deve saber sobre aquilo que vai marcar os primeiros meses de 2021. Ora veja.
1. Quando posso ser vacinado?
O objetivo passa por vacinar toda a população portuguesa, mas, como foi anunciado, o plano de vacinação é constituído por três grupos, começando pelos prioritários, mais susceptíveis aos sintomas graves provocados pelo novo coronavírus. O esquema pode vir a sofrer alterações, consoante as novas descobertas científicas que possam surgir, assim como as indicações ou contraindicações que venham a ser aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos.
Fase 1, a partir de dezembro de 2020:
- Profissionais de saúde envolvidos na prestação de cuidados a doentes
- Profissionais das forças armadas, forças de segurança e serviços críticos
- Profissionais e residentes em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e instituições similares
- Profissionais e utentes da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI).
A partir de fevereiro de 2021:
Pessoas de idade superior a 50 anos, com pelo menos uma das seguintes patologias:
- Insuficiência cardíaca
- Doença coronária
- Insuficiência renal (Taxa de Filtração Glomerular < 60ml/min)
(DPOC) ou doença respiratória crónica sob suporte ventilatório e/ou oxigenoterapia de longa duração
Fase 2 (a partir de abril de 2021):
Pessoas de idade superior a 65 anos, que não tenham sido vacinadas previamente;
Pessoas entre os 50 e os 64 anos de idade, inclusive, com pelo menos uma das seguintes patologias:
- Diabetes
- Neoplasia maligna ativa
- Doença renal crónica (Taxa de Filtração Glomerular > 60ml/min)
- Insuficiência hepática
- Hipertensão arterial
- Obesidade
- Outras patologias com menor prevalência que poderão ser definidas posteriormente, em função do conhecimento científico
Fase 3 (em data a determinar após a conclusão da segunda fase):
Toda a restante população elegível, que poderá ser igualmente priorizada.
Pode simular a data em que vai ser vacinado aqui.
2. Onde posso ser vacinado?
"Para a primeira fase, toda a logística da vacinação estará montada de forma a que se possa começar a vacinar em todo o país, utilizando a rede do Serviço Nacional de Saúde (SNS)", diz a Direcção-Geral de Saúde.
Já nos "lares e estruturas similares, os trabalhadores e residentes irão ser vacinados no local por profissionais do SNS que irão deslocar-se às instituições para o efeito e, eventualmente, com apoio de recursos do local."
Os profissionais de saúde e outros profissionais prioritários serão vacinados no âmbito dos Serviços de Saúde Ocupacional das instituições onde trabalham ou de outros serviços de saúde próprios.
3. A vacina é obrigatória?
A mensagem enviada a milhões de portugueses no sábado, 26 de dezembro, informou os cidadãos que a vacinação já tinha arrancado. Frisou ainda que a sua toma é "facultativa", ainda que "recomendada."
4. Vou ter de pagar?
Não. A vacina é gratuita.
5. Que vacinas vão chegar a Portugal?
De onde vêm? A Comissão Europeia contratualizou vacinas em nome de todos os Estados Membros, por via de contratos de aquisição prévia. Assim, chegou a acordo com as seguintes empresas farmacêuticas.
- AstraZeneca, para a compra inicial de 300 milhões de doses, com a opção de compra de 100 milhões de doses adicionais;
- Sanofi-GSK, para a compra de até 300 milhões de doses;
- Janssen Pharmaceutica NV, uma das empresas farmacêuticas Janssen da Johnson & Johnson, para a compra de 200 milhões de doses, com a possibilidade de adquirir 200 milhões de doses adicionais;
- BioNTech-Pfizer para a compra inicial de 200 milhões de doses, com a opção de compra de 100 milhões de doses adicionais;
- CureVac para a compra de 225 milhões de doses, com a opção de compra de 180 milhões de doses adicionais;
- Moderna para uma compra inicial de 80 milhões de doses, com a opção de compra de 80 milhões de doses adicionais.
6. Como é a vacina?
As vacinas que se encontram numa fase mais avançada de desenvolvimento e aprovação incluem a toma de duas doses, intercaladas por entre três a quatro semanas. A expectativa é de que sejam estas as administradas na primeira fase. A DGS destaca, no entanto, que "estão em desenvolvimento e investigação vacinas para as quais poderá ser necessária apenas uma dose."
Depois de o cidadão receber a primeira dose, deverá, junto dos profissionais de saúde, agendar logo a segunda, fundamental para uma proteção eficaz.
7. Mas o que é que leva mesmo?
De acordo com a americana Food and Drug Administration, a vacina da Pfizer é constituída por:
- Ingrediente ativo: RNA mensageiro modificado com nucleosídeo (modRNA) que codifica a glicoproteína de pico viral (S) de SARS-CoV-2
- Lipídios
- (4-hidroxibutil) azanodiil) bis (hexano-6,1-diil) bis (ALC-3015)
- (2-hexildecanoato), 2 – [(polietilenoglicol) -2000] -N, N-ditetradecilacetamida (ALC-0159)
- 1,2-distearoil-snglicero-3-fosfocolina (DPSC)
- colesterol - Sais
- Cloreto de Potássio
- Fosfato de potássio monobásico
- Cloreto de Sódio
- Fosfato de sódio básico desidratado - De outros
- Sacarose
Nós sabemos: tudo extremamente confuso. Mas o mais importante é que compreenda o que é o mRNA. No fundo, é um tipo de molécula que transporta cópias de instruções genéticas ao redor de uma célula para orientar a montagem de proteínas. Isto é relevante porquê? É utilizada na vacina uma sequência de RNA retirada do próprio vírus, que faz com que as células criem a proteína 'pico' que é o que o novo coronavírus usa para se aglomerar às nossas células e entrar. Desta forma, o corpo fica imunizado e repele o vírus real.
8. A vacina tem efeitos secundários?
Sim. Mas, calma. Em princípio, as reações serão aquelas comuns na toma de outras vacinas, uma vez que, "ao estimular as nossas defesas, podem causar efeitos secundários ligeiros e de curta duração", diz a DGS. Nos ensaios clínicos, alguns dos que foram vacinados relataram dor no local da injecção, fadiga, dor de cabeça, dores musculares, dor nas articulações e febre. Em menos de um caso por cada dez, foram relatados outros efeitos como "vermelhidão no local da injeção e náuseas ocorreram em menos de 1 em cada 10 casos."
Segundo a DGS, estes efeitos tendem a desaparecer ao fim de 24 a 48 horas. "Embora a sensação de febre não seja incomum por dois a três dias, uma temperatura alta é rara e pode indicar que tem COVID-19 ou outra infeção."
Após a vacinação, os sintomas duram menos de uma semana, pelo que em caso de persistência "ou se surgir outra reação que o preocupe, contacte o seu médico assistente ou a Linha SNS24."
9. Então e as alergias?
Já aconteceu pessoas desenvolverem reações alérgicas à vacina, mas segundo os reguladores europeus e norte-americanos, estes episódios são "eventos raros". Basta olhar para os números: houve seis reações alérgicas num milhão de vacinados nos Estados Unidos.
Ainda assim, por precaução, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), defende que a vacina Pfizer-BioNTech "não deve ser administrada a doentes com antecedentes de reações alérgicas graves a vacinas".
Considera ainda que um imunoalergologista deve avaliar a relação risco-benefício da nova vacina "nos casos de anafilaxia prévia a medicamentos, alimentos, latex, venenos de himenópteros e ainda nos casos de anafilaxia idiopática, síndromes de ativação mastocitária e imunodeficiências primárias”.
10. Já tive COVID-19. Posso e devo ser vacinado?
A grande maioria das pessoas que já tiveram COVID-19 adquiriram proteção contra a doença. Porém, a proteção parece ser limitada, durando "pelo menos, três ou quatro meses, mas só com o tempo se saberá por quanto tempo mais se prolonga."
Assim, a Direcção-Geral da Saúde aponta que "a maioria dos especialistas considera ser seguro que quem já teve a doença tome a vacina." Realça, no entanto, que "enquanto o número de vacinas for muito limitado, as pessoas que tiveram COVID-19 no passado não serão priorizadas."
Sobre se é seguro para quem já contraiu o vírus, "não existe evidência que justifique quaisquer preocupações de segurança ao vacinar pessoas com história anterior de infeção por SARS-CoV-2, ou com anticorpos contra a COVID-19 detetáveis."
11. Se estiver assintomático e não souber, é perigoso tomar a vacina?
"Não existem evidências científicas que sugiram que a vacinação representa um risco para uma pessoa com infeção assintomática por SARS-CoV-2", diz a DGS.
12. Estou em isolamento profilático. Posso levar a vacina na mesma?
A DGS recomenda que fique em caso, quer no contexto de teste positivo, quer no contexto suspeita de infecção pelo vírus SARS-CoV-2.
"Se estiver com febre, tosse, dificuldade respiratória, alterações do paladar ou do olfato não deve ser vacinado e deverá contactar o SNS 24 (808 24 24 24)", pode ler-se. "Também não deve ser vacinado enquanto estiver em isolamento profilático. Não deve ser vacinado se estiver em isolamento, à espera de um teste COVID-19, ou se não tiver a certeza que está bem."
13. A vacina pode infetar-me?
Não, a vacina não o pode infetar com o vírus. "As vacinas não contêm vírus que causam a doença", diz a DGS. O que pode acontecer, ressalva, é ter contraído o vírus nos dias antes ou imediatamente após a vacinação, surgindo assim sintomas da doença.
14. Posso ficar infetado depois de ter levado a vacina?
Aconteceu com um enfermeiro nos Estados Unidos, que ficou infetado com a COVID-19 uma semana depois de ter tomado a primeira dose da vacina da Pfizer. Mas isto não quer dizer que esta não seja eficaz. O profissional de saúde ainda só tinha tomado a primeira de duas doses da vacina, sendo que não havia decorrido o tempo necessário para que a imunidade se começasse a desenvolver.
15. Quanto tempo demora, então, a imunidade a desenvolver-se?
Depois da primeira dose, a imunidade demora entre 10 a 14 dias a desenvolver-se, explicou Christian Ramers, especialista em doenças infeciosas, ao canal americano ABC. E, mesmo assim, a armadura não fica completa — só a segunda dose permitirá concluir o processo de imunização.