Depois de durante anos não ter dado crédito a denúncias de abusos sexuais a menores feitos na Igreja, o Bispo do Porto está agora envolvido numa nova polémica, depois de ter escrito que "o apego a um qualquer anima de estimação" é uma coisa "típica das sociedades decadentes".

Numa mensagem publicada no site da Diocese do Porto, o sacerdote começa por falar de um episódio de uma família com um filho com leucemia e que superou a doença. Manuel Linda escreve algumas linhas sobre esse encontro e sobre o "mistério da paternidade". Depois, o bispo do Porto descreve outros dois episódios.

"Passado pouco tempo, vi o que nunca tinha presenciado 'ao vivo': um homem e uma mulher, na casa dos trinta, empurrando, cada um deles, um carrinho onde não iam bebés, mas… cães. E como se fosse pouco, à noitinha, mais outra cena: dois atletas em bicicleta, cada uma delas com atrelado. Porque me chamou a atenção o perigo que corriam as crianças, fixei-me melhor: afinal, não eram miúdos, mas… outros dois cães", descreve o responsável pela diocese do Porto.

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Manuel Linda cita ainda João Maria Batista Vianney, padroeiro dos párocos, que, numa das suas homilias, citada por Daniel Rops, comparou os sacerdotes a Deus e afirmou que uma sociedade sem padres iria venerar animais. “Ah! Como o padre é qualquer coisa de grande! O padre só poderá ser compreendido no Céu. Se o compreendêssemos neste mundo, morreríamos – não de terror, mas de amor... Depois de Deus, o padre é tudo! Deixai uma paróquia vinte anos sem padre: hão de adorar os animais!”.

A mensagem foi partilhada na rede social Twitter, onde Manuel Linda escreve que o "apego a um qualquer animal de estimação" é "típico das sociedades decadentes".

Bispo acusado por mulher alegadamente abusada por padre de desvalorizar o caso

Empossado em 2018, Manuel Linda foi anteriormente bispo das Forças Armadas. Tem 65 anos, é natural de Vila Real, distrito onde foi bispo auxiliar. Desde que está à frente da maior diocese portuguesa, tem sido notícia por proferir publicamente afirmações polémicas, em particular sobre os casos de abusos sexuais de menores no seio da Igreja Católica.

Em 2019, antes da criação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, o bispo do Porto afirmava, em entrevista à TSF, ser contra a criação de uma comissão e classificava os abusos sexuais como "asneiras". "Ninguém cria, por exemplo, uma comissão para estudar os efeitos do impacto de um meteorito na cidade do Porto", disse na altura.

Já após a criação da comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, Manuel Linda tem, em várias ocasiões, desvalorizado os abusos sexuais ocorridos no seio da Igreja, tendo chegado a afirmar que "o crime de abuso não é um crime público" não havendo, assim, obrigatoriedade de denúncia às autoridades.

Esta quinta-feira, 13 de outubro, a CMTV emitiu uma reportagem onde uma mulher natural de Vila Real diz ter sido abusada sexualmente por um padre (de quem, posteriormente, teve uma filha). Os abusos aconteceram há 18 anos e começaram quando a mulher tinha apenas 12.

A alegada vítima contou à CMTV que falou com Manuel Linda, então professor de Educação Moral e Religiosa, na Escola Secundária Camilo Castelo Branco, de Vila Real, e que este não só desvalorizou o seu testemunho como a culpou. "Contei-lhe que, mesmo sendo menor, tinha um envolvimento com o padre Heitor. Ele disse que a culpa era minha. Que eu é que andava a atrás dele", relatou a mulher, citada pelo "JN". Ao "Correio da Manhã", já após a emissão da reportagem, D. Manuel Linda diz não se recordar do episódio.