A Câmara Municipal de Lisboa (CML) enviou à embaixada russa, em Lisboa, e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, os dados pessoais de três organizadores de uma manifestação contra Putin em Lisboa após a detenção, em janeiro, do ativista Alexei Navalny. A informação foi avançada esta quarta-feira, 9 de junho, pelo jornal "Expresso" e "Observador".
O envio dos dados surge depois de três manifestantes, dois deles de dupla nacionalidade, russa e portuguesa, terem pedido autorização à CML para a realização de uma manifestação realizada em janeiro — que requer sempre o envio dos dados pessoais de pelo menos três organizadores para que, depois, sejam cedidos à Polícia de Segurança Pública (PSP), escreve o jornal "Expresso".
O objetivo é simples: no caso de necessidade de alteração do trajeto da manifestação, a PSP tem de saber como contactar os organizadores responsáveis. Esses dados, no entanto, acabaram também por ser enviados não só para a embaixada russa em Portugal, mas também para a própria Rússia.
Após a divulgação da notícia, Carlos Moedas, candidato do PSD à CML, reagiu oficialmente dizendo que, a confirmar-se, "Fernando Medina só tem uma saída: a demissão". A reação oficial por parte da CML surgiu esta quinta-feira, 10, num comunicado oficial.
O gabinete de Fernando Medina confirma o envio dos dados para a PSP, Ministério da Administração Interna e para a embaixada russa em Lisboa, o local onde se realizou a concentração. E ainda que reconheça que a "reprodução dos procedimentos instituídos para situações de normal funcionamento democrático não se tenha revelado adequada", o órgão diz rejeitar, "de forma veemente, quaisquer acusações e insinuações de cumplicidade com o regime russo, a maioria das quais tem apenas como propósito o óbvio aproveitamento político a partir de um procedimento dos serviços da autarquia", cita o "Observador".
Na mesma nota, a CML garante que os procedimentos para este tipo de concentrações foram alterados, mas não esclarece em que outras situações terá sido usado. A única garantia que dá é que, nas manifestações que aconteceram após a alteração do protocolo, nomeadamente a propósito de Israel, Cuba e Angola, "não foram partilhados quaisquer dados dos promotores com as embaixadas", escreve o mesmo jornal.