Um vídeo captado no jardim do Arco do Cego, em Lisboa, está a circular na rede social Twitter desde esta segunda-feira, 24 de maio, e tem causado polémica ao mostrar agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) a abordar um casal de mulheres. Segundo a descrição do vídeo, a situação começou com a intervenção de um senhor, que terá dito que as jovens estavam a perturbar as crianças presentes no jardim.
"Eu e uma amigas fomos para o Arco, tal como já é normal, e passado já algum tempo de lá estarmos, um senhor mais de idade dirige-se ao casal que estava ao nosso lado e assim que ele chega ao pé dela, eu meio que percebi o que ia acontecer", conta à MAGG Beatriz Feliciano, autora do vídeo partilhado no Twitter. "Ele começou a dizer que o que elas estavam a fazer ali era impróprio, que havia lá crianças e se elas achavam bem. Obviamente que elas tentaram defender-se. Perguntaram se elas fossem um casal de um rapaz e de uma rapariga, se ele também iria intervir. E depois deram o exemplo de que, tal como elas lá estavam, outros casais também. E, pronto, o senhor começou a afastar-se", relata Beatriz, versão que corresponde àquela que partilhou no tweet viral.
Tal como é possível ver no vídeo, apareceram posteriormente agentes da PSP que foram falar com o casal. "Momentos depois, aparece a guarda e o meu instinto foi mesmo começar a gravar. Entretanto, uma das guardas dirige-se ao nosso grupo e é aí que eu paro de gravar", diz. A abordagem da agente de autoridade, que disse "estão a gravar, estão a achar piada?", fez com que o grupo de Beatriz deixasse de conseguir ouvir tudo o que os agentes da PSP disseram ao casal. Contudo, Beatriz apercebeu-se de algumas coisas.
"Elas perguntaram se tinha sido o senhor, e eles responderam que não iam dizer que sim ou que não", conta Beatriz, acrescentando que os agente disseram que tinham recebido "imensas queixas". "Depois começaram a falar da COVID-19, por causa dos ajuntamentos", acrescenta a jovem, considerando esse argumento "ridículo".
"Havia imensos grupos. Aliás, inclusivamente havia um grupo ao nosso lado que tinha imensa gente, dez a 15 pessoas, com imenso álcool e a eles não disseram nada", continua. A autora da partilha no Twitter não conseguiu acompanhar a situação até ao fim, depois de ter sido, juntamente com o grupo com quem se encontrava, convidada pela PSP a abandonar o local de modo a não serem multados, uma vez que estavam a consumir álcool e é proibido beber na via pública.
A partilha feita no Twitter conta já com mais de 2 mil retweets e centenas de comentários, muitos deles a criticar a PSP. "'Tamos em Portugal, nunca vi um país que odiasse mais LGBT, especialmente gays, o tanto de nome que existe ofensivo para gays...". Também o cantor Agir falou sobre o que aconteceu, repudiando a ação da polícia. "Nojento como sempre".
A crítica continuou em mais duas publicações, sendo a última o resultado dos vários comentários que viu sobre a polémica. "Já li aqui que as pessoas têm direito ao pudor, não importa a orientação sexual em questão. 'São sempre os homossexuais que se queixam.' Não são os homossexuais que se queixam. As pessoas é que chamam a PSP e curiosamente só chamam quando de homossexuais se trata. Mas não é homofobia", pode ler-se.
Contudo, há também quem aponte que o vídeo não corresponde ao que realmente aconteceu. "Punição por atos sexuais públicos não se prende com homofobia. Eu estive lá, história não contada", escreve um utilizador. "Como sempre... vou a saber e a história está mal contada. Pelos vistos foram mesmo avistadas em atos impróprios por transeuntes. E o número de agentes prende-se com a vigilância que a PSP anda a fazer a ajuntamentos em espaços públicos em Lx", pode ler-se noutro.
Outras teorias dizem que a intervenção da polícia tem que ver com um grande número de ajuntamentos, mas a autora do vídeo partilhado no Twitter refere que não foi isso que aconteceu. "Não faz sentido nenhum. Nós estávamos numa das pontas do parque e a polícia atravessa o Arco todo e vai diretamente a elas. Se fosse por causa dos ajuntamentos, assim que entrassem começavam a dirigir-se aos grupos, o que não foi o caso", relata.
A MAGG entrou em contacto com uma das jovens em questão, mas esta não respondeu ao nosso pedido de entrevista.
Contactada pela MAGG, a PSP esclarecer a intervenção através de um comunicado. "A Polícia de Segurança Pública informa que nos foi transmitido telefonicamente por um cidadão que se encontrava naquele local um grande grupo de pessoas a consumir bebidas alcoólicas e a provocar desacatos", informa a PSP, justificando a ida dos agentes ao local. "Não tendo sido visualizada qualquer situação de desordem ou de consumo de álcool na via pública, os polícias foram, no entanto, abordados por um cidadão que informou estar um casal deitado na relva a praticar publicamente atos de teor sexual, sentindo-se incomodado", esclarece a PSP.
No entanto, de acordo com a versão de Beatriz Feliciano, as jovens estavam apenas "deitadas na relva a beijarem-se, assim como estavam outros casais à volta a fazer exatamente o mesmo".
A PSP continua a relatar que "os polícias abordaram as pessoas indicadas e informaram-nas do motivo da interpelação". "Não constando qualquer infração, muito menos do teor que havia sido reportado aos polícias pelo cidadão em apreço, não se justificou a adoção de qualquer outra medida", termina a PSP.