Os desacatos e destruição que aconteceram no bairro do Zambujal, na Amadora, na noite da passada segunda-feira, 21 de outubro, como ato de revolta contra a PSP por ter baleado Odair Moniz, continuaram durante a tarde e noite de terça-feira, 22, e espalharam-se por mais zonas da Grande Lisboa.
Nas últimas horas, vários autocarros e carros foram incendiados, paragens foram vandalizadas, contentores foram utilizados para bloquear estradas e houve a tentativa de incendiar uma bomba de gasolina. Sabe-se ainda que alguns agentes da polícia terão invadido a casa de Odair Moniz e agredido uma jovem.
Tudo começou quando o homem de 43 anos foi morto a tiro pela PSP na madrugada de domingo para segunda-feira na Cova da Moura, também na Amadora. Odair Moniz foi atingido no tórax, na cabeça e no abdómen, e acabou por morrer no Hospital São Francisco Xavier, local para onde tinha sido transportado. As autoridades já tinham adiantado, segundo a SIC Notícias, que o suspeito estava em fuga e que tinha uma arma branca, e que acabou por ser baleado quando resistiu à detenção. Os desacatos no bairro do Zambujal, local onde Odair Moniz morava, começaram na noite seguinte, em protesto à sua morte, onde existiram contentores incendiados, um autocarro destruído e muita revolta.
Apesar de uma Unidade Especial da Polícia ter ficado no bairro para acalmar a população e controlar a zona, a noite de terça-feira, 22 de outubro, voltou a ser um pesadelo para os moradores do bairro do Zambujal. De acordo com o jornal “Público”, voltaram a ser ateados fogos nas ruas, ouvidos disparos e petardos e foi neste bairro que decorreu a primeira detenção ligada a estes desacatos, de um homem que tinha na sua posse material combustível. Um autocarro foi também vandalizado e incendiado, como tinha acontecido na noite de segunda-feira.
No entanto, o caos não ficou apenas pelo bairro do Zambujal e espalhou-se a mais bairros da Grande Lisboa. Na Portela de Carnaxide, em Oeiras, ardeu também um autocarro da Carris, e foram relatados vários pequenos incêndios durante a noite, pneus queimados nas estradas e um veículo em chamas. O chefe da área operacional do Comando de Lisboa da PSP, Manuel Gonçalves, admitiu que estes incidentes tinham tudo para ser também um ato de protesto à morte de Odair Moniz.
Ao mesmo tempo, segundo o “Diário de Notícias”, a PSP estava a reportar situações de incêndio em caixotes do lixo em Lisboa, Loures, Odivelas, Sintra e noutros bairros na Amadora. Em Loures, um carro chegou mesmo a arder, e foi também atirado um objeto contra a esquadra da PSP de Casal de Cambra, em Sintra. Já na estrada que liga Alfragide à Damaia, na Amadora, um grupo de indivíduos encapuzados, de acordo com a SIC Notícias, usou um colchão em chamas para tentar incendiar um posto de gasolina, que se encontra próximo a uma zona de habitação.
Contudo, os agentes da PSP que se encontram perto a vigiar o local conseguiram apagar o fogo com um extintor. Até ao momento, dois novos suspeitos foram detidos, estes por incêndio e agressões a agentes da polícia, e as autoridades reforçaram a presença nestes bairros caso exista um novo ato de protestos.
Polícia terá invadido casa de Odair Moniz e agredido uma jovem
Na terça-feira, 22 de outubro, a polícia terá invadido a casa de Odair Moniz, de acordo com o jornal “Expresso”, no bairro do Zambujal, estando a família da vítima em casa. Ao que tudo indica, terão entrado 15 agentes e um móvel foi destruído, assim como a porta de casa, e uma jovem de 19 anos foi agredida. “Estávamos aqui todos sentados, e de repente ouvimos um barulho e vieram os polícias a gritar e a dar com [cassetetes] aqui na porta”, começou por dizer Sílvia Silva, irmã da viúva do homem de 43 anos, citada pelo meio.
“Agrediram a minha sobrinha de 19 anos e só os conseguimos parar quando eu disse 'já mataram um e querem matar outros'. Se eu não [tivesse falado], eles entravam aqui dentro e batiam em todas as pessoas", acrescentou. Sílvia Silva disse ainda que a jovem foi agredida sem motivo aparente, e que os agentes da PSP apenas agarraram na primeira pessoa que apareceu. Também Sílvia foi agredida com um cassetete nas costas. O motivo da entrada repentina dos agentes, pelo que disseram à irmã da viúva, tinha que ver com o facto de a polícia ter sido apedrejada, mas Sílvia Silva garantiu que a família nada teve que ver com os desacatos.
Na versão da família, depois de a PSP ter transmitido um comunicado a dizer que Odair Moniz tinha fugido e que possuía uma arma branca, o homem de 43 anos não apresentava qualquer perigo para as autoridades, não percebendo como é que a morte de Odair Moniz foi o desfecho da situação. Além disso, a família garante que o carro onde a vítima estava era o seu pessoal, e não um carro roubado como as autoridades tinham dito. "Os polícias perceberam que cometeram um erro. São polícias inexperientes, nem sabem o que estão a fazer. Para mostrarem serviço, chegam e matam", disse.
Segundo o “Expresso”, o agente que disparou contra Odair Moniz foi constituído arguido, tendo entregado a sua arma às autoridades. Sabe-se também que o polícia entrou agora num período de férias.