Não é só no Natal que as crianças se deparam com mesas cheias. Basta o aniversário de um dos amigos da escola — sempre com direito a mousses de chocolate, gomas e fritos — ou mesmo em casa, numa celebração especial, onde a família se reúne para comer o típico cozido à portuguesa rematado com uma fatia (ou duas) de bolo de chocolate.

Tudo isto se reflete nas elevadas taxas de obesidade reveladas no relatório de 2019 do COSI Portugal (Sistema de Vigilância Nutricional Infantil do Ministério da Saúde), coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). Os dados mostram que a obesidade infantil corresponde atualmente a 15,3% nas crianças de 8 anos e 10,8% nas crianças com 6.

Apesar de o relatório revelar uma diminuição do excesso de peso nas crianças e adolescentes entre 2008 e 2019 (menos 8,3%), os hábitos mantêm-se pouco saudáveis: "40% dos adolescentes bebe refrigerantes diariamente, mais de metade tem um consumo de hortofrutícolas abaixo do recomendável e mais de 20% consome açúcar acima dos níveis recomendados".

E se a noite de Natal durasse um mês? O cenário é apetecível, mas prejudicial
E se a noite de Natal durasse um mês? O cenário é apetecível, mas prejudicial
Ver artigo

Se durante o ano o consumo de alimentos pouco saudáveis pelas jovens já é elevado, no ambiente familiar do Natal e com a oferta de uma mesa cheia de doces durante mais de 24 horas, a tentação é ainda maior. Como controlar?

Foi isso que fomos saber junto da nutricionista funcional e nutricoach Ana Brázia Santos. Começando pela idade, a especialista refere que não há uma altura apropriada para as crianças começarem a consumir açúcar ou doces, como aqueles que são próprios das iguarias natalícias mais calóricas.

"Doces são doces e devem ser evitados ou consumidos de forma pontual e com moderação — tanto em crianças, independentemente da sua faixa etária, como em adultos", indica a nutricionista funcional e reforça que, de acordo com a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de açúcar de uma criança deve ser menos do que 10% face às necessidades energéticas diárias totais.

Além de enfatizar que é necessário que os pais intervenham durante todo o ano, refere que esta é uma época caracterizada por excessos, por isso não basta que as crianças sejam vigiadas em relação ao que comem.

"É necessário que os pais sejam os principais influenciadores, com bons hábitos alimentares, e insistam mesmo que a criança recuse a ingestão de determinado alimento", refere a nutricionista Ana Brázia Santos.

Por outro lado, há alimentos que devem ser reforçados no prato, como os hortícolas: "Em média são necessárias entre oito a dez exposições a um novo alimento para que este seja aceite pela criança".

A especialista deixa o alerta: "Não é apenas nestes dias [de Natal] que o cuidado terá que ser redobrado, mas sim no dia a dia. É necessário reduzir o consumo de açúcar por si, independente da ocasião".

Mas agora que os excessos da noite de consoada estão prestes a começar, resta saber como equilibrar a alimentação dos mais pequenos (que envolve inevitavelmente os adultos, quer através daquilo que preparam, quer pelo facto de serem o modelo que as crianças seguem). A nutricionista Ana Brázia Santos deixa algumas dicas.