Se já deu por si a achar que a passagem de ano foi há meses e a questionar-se como é que ainda estamos em janeiro, não está sozinho. A sensação de que este é um mês interminável é comum a muitas pessoas, tanto que já há memes famosos com a mensagem: "Sinto que estamos no dia 74 de janeiro".
Mas qual será a razão que leva muitos de nós a sentirmos que estes primeiros 31 dias do ano demoram muito mais a passar, dado que existem outros meses exatamente com a mesma quantidade de dias?
"Tanto quanto é do meu conhecimento, não estou a par de nenhum estudo ou bases científicas que abordem razões para esta sensação", relata à MAGG Maria Veiga, psicóloga clínica. No entanto, a especialista também afirma que, pegando numa lógica de senso comum e de testemunhos que recebe dos seus pacientes, "existe realmente a perceção de que janeiro é um mês que demora muito a passar".
De acordo com a psicóloga, esta sensação pode estar relacionada com a agitação do mês de dezembro, que Maria Veiga considera ser um período "muito ansiogénico [que provoca muita ansiedade] para toda a gente". A especialista explica que é no último mês do ano "que as pessoas querem, em 31 dias, fazer tudo o que não fizeram nos meses anteriores. Compram presentes para amigos e família, retomam contacto com pessoas com quem não falam há imenso tempo, valorizam o convívio com familiar, condensam neste mês uma série de coisas".
Dezembro é um mês de consumo, de festas, de muita agitação. "Trata-se de um período em que tudo é feito à última da hora, de forma impulsiva", salienta Maria Veiga. Por oposição, janeiro é um mês de rescaldo. "É um bocadinho o acalmar da correria, e acabamos por descer com os pés à terra. Também estamos perante o primeiro mês de um novo ano, o que leva a uma maior consciencialização — aliás, muitos de nós encaram janeiro como um novo começo", afirma a psicóloga clínica.
O dia 31 de janeiro nunca mais chega? Esta sensação também pode ter a ver com gastos
Prendas, jantares de Natal, festas, escapadinhas de Ano Novo e muito mais: tudo isto contribui para os gastos excessivos de dezembro. Em janeiro, são poucas as pessoas que não são obrigadas a fechar os cordões à bolsa e, por essa razão, evitam saídas, refeições fora e viagens — e tal também pode contribuir para a ideia de que janeiro, o mês infernal que também acolhe o dia mais depressivo do ano, nunca mais acaba.
"Dezembro é, para muitos, um mês de muito consumo. Segue-se janeiro, um mês muito grande, que pode fazer com que as pessoas sintam que nunca mais recebem o ordenado, e aí a parte ansiogénica volta a funcionar", afirma Maria Veiga.