Quando Jeff Bezos anunciou que se ia divorciar, a discussão pública precipitou-se para quanto vale a Amazon — e em particular quanto iria MacKenzie ganhar com isto tudo. Sem acordo pré-nupcial e uma fortuna avaliada em 138,5 mil milhões de euros, o estado de Washington, onde residem, prevê que seja tudo dividido ao meio.
De repente, todos os canais noticiosos viraram-se para o mesmo: aos 48 anos, MacKenzie preparava-se para se tornar na mulher mais rica do mundo. Já Bezos poderia muito bem perder o lugar na lista de multimilionários da revista "Forbes", onde se encontra na tão cobiçada primeira posição.
É uma forma um tanto ou quanto peculiar de analisar o tema, salienta a Bloomberg. A verdade é que MacKenzie já era a mulher mais rica do mundo — bastava estar casada com o homem mais rico do mundo. Além disso, foram muitos os que se esqueceram de destacar o papel da norte-americana na fundação da Amazon.
Não estamos a falar de uma mulher que ficou sentada em casa enquanto o marido trabalhava numa garagem. Na verdade, se não fosse MacKenzie não haveria Amazon.
Quanto ao facto de Bezos perder o primeiro lugar, talvez não seja isso que lhe tire o sono. Bem mais preocupante deverão ser as mensagens enviadas à amante, que caíram nas mãos da imprensa.
"Quero-te abraçar bem apertada... quero beijar os teus lábios... amo-te"
Na publicação feita no Twitter, Jeff Bezos anunciou um divórcio amigável. "Como casal tivemos uma grande vida juntos, e vemos um grande futuro no horizonte como pais, amigos, companheiros de aventuras e projetos, e também como indivíduos em busca de mais aventuras e projetos", escreveu.
Tudo indicava, portanto, para uma decisão tomada em conjunto. Talvez fosse o desgaste natural da relação, talvez ao fim de 25 anos já não houvesse amor. O que ninguém pensou é que pudesse ter havido uma traição — segundo o "The National Enquirer", porém, foi exatamente disso que se tratou.
O tablóide escreve que Jeff Bezos envolveu-se com a apresentadora de televisão Lauren Sanchez. O caso terá alegadamente começado em abril do ano passado, e é mais complexo do que à partida se poderia imaginar — é que Sanchez é casada com o conhecido Patrick Whitesell, agente de famosos como Matt Damon e Christian Bale, sendo os quatro amigos de longa data. A relação era próxima, e chegaram inclusivamente a fazer férias juntos.
O "The National Enquirer" não tem dúvidas da infidelidade. Jeff Bezos e Lauren Sanchez encontraram-se no jato privado do CEO da Amazon, em hotéis e até nas casas um do outro. Segundo a revista, os autores do artigo conseguiram localizar o casal em cinco estados diferentes.
Segundo a publicação, MacKenzie começou a desconfiar de que algo se passava quando olhou para a lista de passageiros que viajaram no jato e viu que só aparecia o nome de Sanchez. Mas acabou por ignorar o assunto, assumindo que seriam apenas negócios.
Há mais. O "The National Enquirer" divulgou também várias mensagens de teor sexual, trocadas entre Lauren e Jeff. "Quero cheirar-te, respirar dentro de ti", lia-se numa delas. "Quero mostrar-te o meu corpo, os meus lábios e os meus olhos, muito em breve". "Quero-te abraçar bem apertada... quero beijar os teus lábios... amo-te. Estou apaixonado por ti."
A revista disse ainda ter tido acesso a várias fotografias, no entanto o seu conteúdo era de tal forma chocante que não se atreveram a publicá-las. A escolha de palavras foi feita pela publicação. Há uma foto do bilionário em frente ao espelho só de camisa, outra apenas com uma toalha à volta e outra ainda que revela um "close-up impiedoso". Mais uma vez, palavras do "The National Enquirer".
O anúncio do divórcio foi feito 48 horas depois de os representantes de Bezos serem contactados pela revista. De salientar que a revista é uma aliada bem conhecida de Donald Trump, inimigo de longa data de Jeff Bezos, dono do "The Washington Post". Não há como ignorar, afirmam alguns jornalistas e comentadores políticos, que pode haver uma motivação política por detrás da publicação desta história. A CNN fez mesmo um artigo onde explica porque é que o "The National Enquirer" decidiu investigar Jeff Bezos — correr atrás de celebridades é prática habitual do tablóide, mas nunca tal tinha acontecido com um empreendedor tecnológico.
Como MacKenzie foi fundamental para o nascimento da Amazon
MacKenzie conheceu Jeff depois de tirar o curso em Princeton, seis anos depois de o futuro marido terminar o curso na mesma universidade. Decorria o ano de 1992 quando a jovem de 22 anos começou a trabalhar na empresa de investimento e desenvolvimento tecnológico D. E. Shaw. Ela era investigadora associada, ele vice-presidente. Bezos foi o primeira a entrevistá-la.
"Eu acho que a minha mulher é engenhosa, esperta, inteligente e sexy, mas tive a sorte de ver o seu currículo antes de a conhecer, portanto sabia exatamente quais eram os seus SATs [testes de avaliação standard]", contou Bezos à "Vogue" em 2013.
Eles abdicaram de um estilo de vida muito confortável e carreiras bem-sucedidas para se mudarem para o outro lado do país e começarem qualquer coisa na internet"
MacKenzie e Jeff tornaram-se colegas de escritório. "Passava o dia inteiro a ouvir aquela gargalhada fabulosa", recordou MacKenzie à revista. "Como é que alguém consegue não se apaixonar por aquela gargalhada?".
Foi ela quem deu o primeiro passo e convidou Jeff para almoçar. Seis meses depois do primeiro encontro, estavam casados.
Estávamos em 1993. Em 1994, estavam a conduzir em direção a Washington, com MacKenzie ao volante e Jeff a fazer o primeiro plano de negócios da Amazon no seu computador. Para trás ficava uma vida estável em Manhattan, de acordo com "The Everything Store: Jeff Bezos and the Age of Amazon" — um livro que MacKenzie não gostou particularmente, mas já vamos falar melhor sobre isso.
"Eles abdicaram de um estilo de vida muito confortável e carreiras bem-sucedidas para se mudarem para o outro lado do país e começarem qualquer coisa na internet", escreveu Brad Stone, o autor do livro. "A única razão porque [Jeff] conseguiu fazer isto foi porque tinha uma mulher extremamente encorajadora."
Foi um enorme risco. A internet era um mundo novo por explorar na década de 90, mas o que não faltavam também eram histórias de negócios fracassados. De repente, tanto Jeff como MacKenzie estavam a abdicar de tudo para dar um salto para o escuro.
"Disse à minha mulher MacKenzie que queria despedir-me e ir fazer esta coisa louca que provavelmente não iria resultar, tendo em conta que a maioria das startups não funciona, e que não tinha a certeza do que iria acontecer a seguir", contou Bezos num discurso em Princeton, em 2010. "A MacKenzie disse-me que eu deveria ir".
À "Vogue", a mulher de Jeff Bezos contou que, apesar de não ser uma "pessoa de negócios", conseguia sentir a paixão na voz do marido.
Em Bellevue, um subúrbio de Seattle, Jeff alugou uma garagem para ser a primeira sede da Amazon. MacKenzie foi uma das primeiras contratadas — passava cheques e ajudava a acompanhar as encomendas dos livros.
Nos primórdios da Amazon, Bezos, Shel Kaphan e Paul Barton-Davis, os primeiros funcionários da empresa, reuniam-se no Starbucks da livraria Barnes & Noble, no centro de Bellevue. De acordo com um perfil de Bezos da revista "Wired", foi aqui também que MacKenzie negociou os primeiros contratos de transporte de mercadorias.
À medida que a empresa foi crescendo, MacKenzie começou a afastar-se das operações diárias da Amazon. Ainda assim, continuava a fazer questão de apoiar o marido nos eventos da empresa.
A nota de uma estrela na Amazon ou o dia em que MacKenzie não teve papas na língua
MacKenzie não gostou particularmente do livro "The Everything Store: Jeff Bezos and the Age of Amazon", de Brad Stone. Após o lançamento em 2013, a norte-americana deixou uma estrela no livro na Amazon, e um comentário a contestar as imprecisões do livro.
"Eu trabalhei para o Jeff na D. E. Shaw, eu estava lá quando ele escreveu o plano de negócios e trabalhei com ele e outras pessoas na garagem, no armazém, nos escritórios com cheiro a churrasco, nos centros de distribuição para o Natal e nos balcões das salas de conferência nos primeiros anos da história da Amazon. O Jeff e eu estamos casados há 20 anos".
Este é apenas um excerto do longo comentário de MacKenzie. A crítica tinha 930 palavras e terminava de forma muito pouco simpática: "Idealmente, os autores têm o cuidado de assegurar que as pessoas sabem se estão a ler uma história ou ficção de entretenimento. Hollywood costuma usar um rótulo mais honesto: 'História baseada em factos reais'. Se os autores não admitirem que cruzaram essa importante linha, as suas personagem podem fazer isso por eles".
Jonathan Leblang, atual diretor do Kindle na Amazon, e Rick Dalzell, ex-vice-presidente sénior, também comentaram o livro na plataforma — e salientaram essas mesmas imprecisões. Dalzell escreveu: "Embora tenha achado bastante interessante, faltam muitas histórias ou são imprecisas. Brad pintou uma imagem unidimensional de Jeff como um capitalista implacável."
Continua: "Uma das coisas de que mais gosto em Jeff é da sua gargalhada. Mas a citação que Brad fez de mim implica exatamente o oposto: 'Não podes interpretar mal', diz Rick Dalzell, ex-diretor de informática da Amazon, que diz que Bezos costuma lançar as suas gargalhadas quando os outros não cumprem os seus altos padrões. 'É desarmante e punitivo. Ele está a punir-te'. Na verdade, a gargalhada de Jeff é espontânea, sincera, calorosa e afetuosa. Acalma em situações stressantes. Claramente, Brad entendeu-me mal."
MacKenzie é uma autora premiada — e elogiada por um prémio Nobel
No momento em que a Amazon começa a crescer, MacKenzie vira-se para a escrita. Licenciada em Inglês, MacKenzie estudou escrita criativa com Toni Morrison, Prémio Nobel de Literatura em 1993.
"[MacKenzie] foi uma das melhores alunas que alguma vez tive nas minhas aulas de escrita criativa... Mesmo uma das melhores", disse Toni Morrison à revista "Vogue", em 2013.
De facto, não tardou muito até MacKenzie se destacar. Em 2006, recebeu o American Book Award com o seu primeiro livro, "The Testing of Luther Albright". O segundo título chegou em 2013: "Traps". No primeiro, MacKenzie ia mostrando os excertos ao marido à medida que ia escrevendo. No segundo, só lhe mostrou quando acabou de escrever.
"Queria acabar o livro depressa para lhe dar a ler e falarmos sobre aquelas personagens que me ocuparam a cabeça durante tanto tempo", contou à "Vogue". "Nos últimos três meses, elas eram tão reais e importantes para mim que eu podia começar a chorar só de pensar nelas enquanto conduzia para apanhar os miúdos na escola."
Não é fácil descrever MacKenzie. Apesar do longo comentário deixado no livro de Brad Stone, a verdade é que é muito reservada — raramente aparece em público, da mesma forma que raramente dá entrevistas.
Mas sabe-se algumas coisas sobre ela. De acordo com um perfil do "The New York Times", o seu primeiro livro foi escrito quando tinha apenas 6 anos. Tinha um total de 142 páginas e chamava-se "The Book Worm". Infelizmente, anos mais tarde ficou totalmente destruído numa inundação.
Durante a universidade, MacKenzie fez quase tudo: lavou pratos, serviu às mesas, foi rececionista num restaurante, babysitter, até vendeu roupa. Quando se juntou à empresa de investimento e desenvolvimento tecnológico D. E. Shaw, queria apenas ter o suficiente para pagar as contas enquanto escrevia.
A dedicação à escrita manteve-se. Em entrevista à "Vogue", Jeff contou que às vezes acordava de manhã durante as férias e encontrava a mulher a trabalhar na casa de banho.
O primeiro livro demorou dez anos a estar pronto. Apesar de o sucesso da Amazon a ter libertado, continuava a ter de cuidar dos filhos. Tiveram quatro: três rapazes e uma menina adotada na China.
"Depois do terceiro filho, eu sabia que não poderia ser o tipo de mãe que queria ser e continuar a escrever. Aqueles anos estavam a ser muito ocupados", contou à revista.
A família era muito importante para o casal. Tanto que Jeff nunca marcava reuniões para o início da manhã, de forma a poderem tomar o pequeno-almoço todos juntos. Sobre a relação um com o outro, MacKenzie admitiu que tinham personalidades diferentes mas que se complementavam.
"Ele gosta de conhecer pessoas. É um homem muito social. Para mim as festas conseguem dar-me cabo dos nervos. A brevidade das conversas, a quantidade delas — não é o meu ponto forte."