Sempre considerou o amor um conceito intrigante. Como é que um sentimento se expressa de formas tão diversas, mas com comportamentos tão semelhantes entre si? Aos 85 anos, Helena Sacadura Cabral começa o seu mais recente livro — "Dez Mulheres que amaram demais"— a questionar o que é isto do amor e de que formas estranhas ele se manifesta. Debruça-se sobre a forma de amar das mulheres, seja de uma ótica espiritual ou carnal, ainda que não acredite que o amor mude com o género. "O valor dos dois amores [do homem e da mulher] é idêntico. Manifesta-se é de modo distinto", explica à MAGG.
Abre o livro com Maria Callas, "a mulher que amou a música" e fecha com Jackie Kennedy Onassis, "a mulher que amou homens de poder". Pelo meio, ficamos a conhecer as histórias de Gabrielle Chanel, Gala Dalí, Wallis Simpson, Golda Meir, Marlene Dietrich, Marguerite Yourcenar e Madre Teresa de Calcutá.
E nesta entrevista, em que falamos de amor e de mulheres, ficamos a conhecer mais um pouco desta que escreve com o coração perto das mãos. Numa anterior conversa com a MAGG, referiu que não se fecha a nada na vida, nem ao amor. "Tirando tudo o que é exterior a mim, eu, internamente nunca disse ‘não, isto já não é para mim’. Obviamente que sou tontinha, mas não dou nada por encerrado na minha vida", referiu.
Agora fala sobre o amor das outras, num livro lançado no final de 2020 pelo Clube do Autor. E, à MAGG, desvenda qual das mulheres que estudou tem mais power e com qual não se importava de viajar pelo mundo.
No geral, a forma de amar é diferente para homens e mulheres?
Creio que é diferente. Fisiologicamente somos diversos, e depois dos estudos de António Damásio e de outros investigadores, diria que a nossa inteligência emocional – o QE – também apresenta algumas diferenças. Mas estas afirmações não envolvem qualquer tipo de valor, isto é, apesar da diversidade, o valor dos dois amores é idêntico. Manifesta-se é de modo distinto.
Há um género que ama demais? Consegue explicar porquê?
Não creio. Acredito que as mulheres se manifestam mais, se expõem mais, falam mais, demonstram mais os seus sentimentos. Mas a intensidade do amor de um e de outro, só diferirá por questões de natureza pessoal, de características de feitio.
Porquê estas dez mulheres para o livro? Foi uma escolha fácil?
Não foi fácil. Havia outras de que eu também gostaria de falar. Mas estas, de algum modo, representam vários estratos sociais do século em que viveram. No entanto, talvez um dia venha a escrever sobre as outras.
Nesse processo de escolha, não surgiram nomes de portuguesas que amaram demais?
Surgiram várias. Lembro-me de Florbela Espanca, Natália Correia, Amália Rodrigues e outras ainda vivas. Todavia, fazer a biografia de uma mulher viva cuja área sentimental tem especial e verdadeira importância, em alguém que existe é muito delicado, e pode ferir suscetibilidades. Resolvi não ir por esse caminho.
Depois de perceber os meandros do amor feminino que Helena Sacadura Cabral fala no livro, decidimos desafiá-la a um pequeno questionário. Afinal, é como se ela tivesse conhecido de facto cada uma destas mulheres.
Qual a mulher que escolheria para tomar um chá?
Das biografadas, talvez Marguerite Yourcenar
Qual a mulher com quem menos se identifica?
Com todas aquelas que se julgam o centro do mundo e fazem o papel de verdadeiras idiotas. Irritam-me muitíssimo as mulheres pouco inteligentes e aqui só a educação me não deixa referir alguns nomes.
Qual delas sente que foi mais injustiçada/menos compreendida?
Talvez a Maria Callas.
Qual delas gostaria ter tido como amiga?
Das que biografei, diria que nenhuma. O meu mundo nada tem que ver com o delas. E as minhas opções também não, apesar de algumas delas terem tido influência na maneira como me olho e avalio o mundo à minha volta. Estou-lhes grata por isso.
Com qual destas mulheres gostaria de viajar pelo mundo?
Com Coco Chanel.
Qual delas está mais próxima daquilo que chamamos hoje o empoderamento feminino?
Talvez uma mistura de Marguerite Yourcenar e de Coco Chanel. Estranho, não é?!