A grande mágoa que Maria das Dores revela ao longo de todo o livro que lançou esta semana, "Eu, Maria das Dores, me confesso" é nunca mais ter visto o filho mais novo, Duarte, que tinha 7 anos no dia em que a socialite foi presa, por ter mandado matar o marido. A criança, que ficou sem pai, e com a mãe na prisão, foi entregue aos cuidados dos avós paternos, que nunca permitiram que Duarte visitasse a mãe ou, sequer, que falasse com ela pelo telefone. Desde 2007, Maria das Dores só ouviu a voz do filho por duas vezes, pelo telefone, e essa é a maior dor da vida da mulher condenada a 21 anos de prisão pelo crime.

No livro, escrito em co-autoria com a espanhola Virginia López, Maria das Dores começa por contar como foram os primeiros tempos na cadeia, longe do filho. "Sentia-me tão sozinha (…) Há semanas que não sabia do Duarte e de cada vez que chegava o dia das visitas e ninguém vinha visitar-me um vazio gigante apoderava-se de mim. Onde está o meu filho, porque não mo trazem?", questionava-se.

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Maria das Dores contava apenas com o apoio do filho mais velho, David, que, no entanto, regressara a Nova Iorque. Ou seja, ninguém mais a visitava na prisão. "Eu não tinha ninguém a quem abraçar. O David estava em Nova Iorque e o resto tinha-me posto de lado". Foi então que tentou contactar o filho mais novo pelo telefone. "Uns dias depois de entrar na prisão, aproveitei a chamada diária de cinco minutos para entrar em contacto com o Duarte (…) Nervosa, marquei o número do colégio.

— Olá, mãe, onde está?

Já a primeira pergunta era de difícil resposta. Como pude, aguentei as lágrimas.

— Num sítio feio, filho, mas estou bem. E tu, como estás? (…)

— Eu não choro (…)

— Duartinho, se tens vontade, chora. Não faz mal. Queres vir visitar-me?

— Sim, quero (…)

— Filho, um dia vou voltar, não te esqueças disso, sim?

— Mãe, ligue-me todos os dias.

— Claro, meu filho. Amo-te muito".

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A conversa foi breve, e Maria das Dores ficou convencida de que, através deste telefone, conseguiria, pelo menos, atenuar as saudades  e a solidão. "Queria dizer-lhe tantas coisas, explicar-lhe tantas coisas… mas eram apenas cinco minutos e ele só tinha 7 anos". Maria das Dores sabia que seria difícil ver o filho, que estava ao cuidado dos pais de Paulo, o homem que ela tinha mandado matar. "Os avós paternos tinham ficado a cuidar do Duarte e, tendo em conta que me culpavam pela morte do Paulo, não iria ser fácil ter a sua cooperação para o levarem a visitar-me na prisão".

No dia seguinte, Maria das Dores voltou a ligar para o colégio para falar com o filho. Mas não correu como esperava. "Tinha passado 24 horas a pensar nele, em como estaria ele a lidar com aquela situação toda. Quando no outro lado da linha atenderam a minha chamada, a resposta foi como um balde de água fria.

— Infelizmente, devo informá-la de que não podemos chamar o seu filho porque os avós não autorizam".

Maria das Dores escreve que "aqueles cinco minutos eram a única coisa" que lhe restava "para manter contacto" com o filho. "Como podiam ser tão cruéis comigo?", questiona-se. "O Duarte tinha de ouvir a minha versão, eu não podia deixar que crescesse a pensar que a mãe era a assassina do pai dele (…) Eu continuaria a ser a sua mãe e estava disposta a cumprir a minha promessa de cuidar dele".

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Maria das Dores pediu então à sua irmã, Laura, que lhe levasse o filho a uma visita. A irmã acordou que o faria. Mas no dia da visita acabou por não o fazer. "Chegou o dia da visita e, embora estivesse combinado que o faria, a minha irmã não trouxe o Duarte". A justificação da irmã foi simples: "Acho que é melhor para ele". Maria das Dores garante que isso revelou aquilo que já haviam feito à irmã. "Não era necessário mais nada para compreender que também ela se tinha posto do outro lado". Mas Maria das Dores não desistiu de tentar ver o filho. "Fiz tudo o que me lembrei de fazer para voltar a vê-lo, mas, até hoje, nunca mais voltei a ver o Duarte. Nunca mais pude falar com ele pelo telefone e nunca veio ver-me numa das visitas".

A segunda e última vez em que conseguiu ouvir a voz do filho foi a mais dolorosa de todas. "Ainda tentei ligar para casa da minha cunhada. Embora a nossa relação não fosse boa, sentia-me tão desesperada que não me importava de me humilhar para poder voltar a ouvir a voz do Duarte (…) Mas a alegria que senti por voltar a ouvir a voz dele foi temporária.

— Duarte vem dizer à tua mãe o que lhe queres dizer — escutei a minha cunhada dizer, do outro lado da linha (…)

— Não quero falar mais consigo — disse o Duarte.

E depois desligou. E nunca mais me permitiram voltar a falar com ele".

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