Esta quinta-feira, 19 de dezembro, está a ser marcada pela "passagem" da depressão Elsa pelo País. O uso das aspas justifica-se na medida em que, na verdade, Portugal não é afetado diretamente pela tempestade, mas sim pela corrente zonal originada entre a depressão e o anticiclone localizado na região sul dos Açores que obriga a que todo o mapa de Portugal continental esteja em alerta laranja e vermelho até sexta-feira, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Mas antes da depressão Elsa já tivemos outras com nomes femininos, como Amelie ou Cecília, que foram sendo intercaladas com outras depressões cujos nomes eram masculinos (Bernardo e Daniel). Mas será que as tempestades com nomes femininos são as mais fortes e, por sua vez, as mais ignoradas? A discussão não é nova e parece surgir ocasionalmente.
Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República, repetiu esta ideia na quarta-feira, 18 de dezembro, durante uma audição com o PCP a propósito do Orçamento do Estado para 2020. "Vamos lá ver como é que corre agora esta frente Elsa. São mais perigosas aquelas que têm nome feminino. É uma visão ainda de género. Uma visão discriminatória", ouve-se a partir do segundo 49 no vídeo publicado pela SIC Notícias.
Será? Na realidade, não. Segundo Nuno Lopes, responsável pela Divisão de Previsão Meteorológica, Vigilância e Observação da Terra do IPMA, a teoria de que a intensidade de uma tempestade está relacionada com o nome que lhe é atribuído não faz sentido.
Segundo explica à MAGG, é previamente definido, ao início da época das tempestades (que não é fixo e que tem início em meados de setembro), "que um grupo de trabalho chamado Grupo Sudoeste, onde estão representados os institutos meteorológicos de Portugal, Espanha, França e Bélgica, envia uma lista ordenada alfabeticamente com os nomes a atribuir a tempestades que atinjam certos critérios de forma sequencial."
O principal critério para atribuir uma nomenclatura à uma tempestade é que essa "dê origem a um aviso de vento laranja ou vermelho". E a sequência é sempre alternada entre nomes masculinos e femininos. Por isso, não faz sentido para Nuno Lopes associar a intensidade de uma tempestade ao género de um qualquer nome.
"Não há qualquer relação entre intensidades de tempestades e género do nome. A relação e atribuição é casuística", garante. O sistema de atribuição de um nome a tempestades e depressões aconteceu a 1 dezembro de 2017 depois de um período experimental em novembro. A primeira tempestade a ganhar um nome foi a tempestade Ana, aos quais se seguiram Bruno, Carmen, David e Emma.
Então de onde surgiu a ideia de que as tempestades mais perigosas são aquelas que têm nomes femininos? Dos estudos, mas não da forma que está a pensar — investigações anteriores confirmam que a população acha que as tempestades com nomes de mulheres são menos graves e, por isso, protegem-se menos. Em consequência, acontecem mais acidentes.
Em 2014, por exemplo, um grupo de investigadores revelou na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" que "os furacões com nomes femininos provocam mais mortes porque induzem as pessoas a considerá-los de risco menor e, consequentemente, a não se prepararem devidamente".
A investigação é apoiada com o número total de mortes provocadas por furacões nos EUA entre 1950 e 2012, o que permitiu aos responsáveis concluir que nas tempestades mais intensas, o número de mortes é maior se o género do nome atribuído for feminino.
Para as próximas tempestades a atingir a região Sudoeste entre 2019 e 20120 os nomes são: Fabien, Gloria, Herve, Ines, Jorge, Karine, Leon, Myriam, Norberto, Odette, Prosper, Raquel, Simon, Teresa, Valentin e Wanda.