O perigo das novas vagas, os comportamentos do futuro, o ainda grande desconhecimento da doença e o levantamento das restrições. Foi sobre estes temas que Fernando Almeida, presidente do  Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), falou em entrevista à Agência Lusa, a propósito da COVID-19.

Apesar de as regras estarem prestes a mudar, com o levantamento do Estado de Emergência, o novo coronavírus não vai dar tréguas e, por isso, os cuidados continuam a ser absolutamente vitais para que se controle a doença, que em março ganhou o estatuto de pandemia.

"Não podemos facilitar porque isto tem ondas e pode acontecer uma onda muito pior, porque é aquilo que se diz: basta levantar um bocadinho o pé da mola, a mola volta a disparar", diz, lembrando que estamos perante um vírus sobre o qual pouco se sabe, excepto que se propaga "com muita facilidade".

Sobre os comportamentos sociais, Fernando Almeida explica que as medidas especiais têm de manter. Mas não é só nos próximos tempos: "Os nossos comportamentos daqui para o futuro jamais serão os mesmos, mas não é para agora, um ou dois anos ou três anos, jamais serão os mesmos", diz. "Há uma lição que nós temos que aprender é que nunca mais isto vai ser igual, os nossos hábitos, as nossas opções estão mudadas totalmente e vão ser mudadas totalmente", acrescentou, mais à frente.

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Apesar dos esforços científicos, ainda há um longo caminho a percorrer para que se compreenda o novo coronavírus, até porque o resultado dos estudos, seja relativamente à imunidade, tempo de incubação ou segurança, têm sido "muito contraditórios". O presidente do laboratório de epidemiologia e saúde pública dá o exemplo da imunidade: "Se dá muita imunidade, se a imunidade é duradoura, ainda se sabe muito pouco, porque a ciência ainda não é suficientemente robusta para tirarmos conclusões muito concretas".

Fernando Almeida frisa que o impacto do novo coronavírus se sente na vida das populações e nas economias de todos os países. Lembra que estamos todos susceptíveis. "Não vale a pena dizermos que só acontece aos outros. Não, também nos acontece a nós e temos que estar sempre preparados para o pior, esperando que aconteça o melhor".

Sobre as medidas aplicadas no País, o presidente do INSA considera que "Portugal teve a vantagem de perceber o que se estava a passar em outros países, como Itália, Espanha e França, e de se preparar com algum tempo". Assim, "as decisões que foram tomadas são, e foram, fundamentais para que esta epidemia, sobretudo a pandemia em Portugal, não atingisse aquilo que era expectável por aquele crescimento exponencial dos quadros."

Fernando Almeida considera que está tudo a correr bem, desde a resposta dos hospitais, aos níveis de teste. Mas, novamente, realça que não se pode facilitar.

Por isso, o levantamento das restrições a 2 de maio e a abertura da atividade tem de ser gradual, "feita cirurgicamente, começando por determinados setores", destaca o coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica, do INSA, Baltazar Nunes

"Façam-no de forma gradual, desenvolvam sistemas de vigilância que permitam perceber qual foi o impacto do levantamento de cada uma destas medidas, assegurando que as pessoas têm que ter comportamentos diferentes daqueles que tinham antes da epidemia."

Este é o método que permite manter o controle: "Isso é essencial para conseguirmos que o tal crescimento que venha a ocorrer seja lento e gerível", termina o investigador.