Com a entrada de Rui Sinel de Cordes no universo do streaming, o objetivo, tal como explicou à MAGG em entrevista, era o de disponibilizar em exclusivo a todos os subscritores, conteúdo que tivesse produzido e protagonizado ao longo da sua carreira. Por isso, quando a plataforma CordesFlix foi lançada, no final de dezembro, do catálogo faziam parte os novos formatos "Prima" e "Duetos", bem como todos os espetáculos a solo que já tinham sido apresentados um pouco por todo o País. A única exceção tinha que ver com o espetáculo "Memento Mori", cujos direitos de transmissão pertencem à TVI até agosto de 2021.

Sabe-se agora, no entanto, que a SIC terá disponibilizado na OPTO, a plataforma de streaming do canal, um dos formatos do humorista sobre o qual já não detinha os direitos. O anúncio foi feito esta quinta-feira, 14 de janeiro, pelo próprio humorista na sua página oficial de Instagram. "Chegou ao meu conhecimento que a SIC lançou uma plataforma de streaming paga [OPTO SIC] e nela incluiu o programa 'Very Typical' que fiz para a [SIC] Radical em 2015", lê-se na mesma nota.

Terá sido após consulta com os advogados da agência que representa o humorista que ficou claro que "a SIC já não detém os direitos sobre esses conteúdos". Além disso, Rui Sinel de Cordes diz que a isto junta-se a "agravante de [a SIC] o estar a lançar numa plataforma concorrente à CordesFlix", anunciada há quatro meses.

Após consulta com os advogados, a equipa do humorista contactou a estação no sentido de que o programa fosse retirado. O pedido foi acedido pela estação, escreve o humorista que, acima de tudo, critica o canal pela falta "de decência e respeito que devem nortear as relações nesta indústria".

"Nunca recebi um telefonema da SIC a informar de que iria usar o meu trabalho"

"Não pretendia levar isto para tribunal — honestamente, por falta de saco para burocracias parvas —, mas não teria qualquer problema em fazê-lo. Acima de tudo, esta é para mim uma questão de decência e de respeito que devem nortear as relações nesta indústria, a mesma indústria que neste momento assume o formato de selva, em que as TVs julgam que são Tarzans e nós apenas macaquitos", escreve.

E continua: "Gostava também de referir que durante todo este processo, nunca recebi um telefonema, um e-mail, um lembrete da SIC a informar de que ia usar o meu trabalho na sua plataforma online. Não estou a falar de dinheiro, mas de ter educação."

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No mesmo comunicado, o humorista aproveitou para recordar outro episódio, também com a SIC, em que diz ter sentido "a mesma falta de respeito". Aconteceu em 2019, na altura dos Globos de Ouro e que coincidiu com as férias de Rui Sinel de Cordes. "A SIC queria que eu tirasse um dia para ir gravar um sketch para uma entrega de prémios para a qual não tenho qualquer interesse como espectador ou participante. Quando comuniquei o meu cachet de um dia de trabalho, a resposta foi de surpresa, estranheza e até falta de educação, indicando que nenhum dos outros nomeados tinha falado nisso."

"Talvez os humoristas no geral façam parte deste problema", continua na mesma nota. "Talvez faça falta uma geração que se respeite mais, que valorize o seu trabalho e consiga fugir da labreguice de achar que meter a cara num ecrã de televisão é cool e desiderato final que dispensa pagamento."

Na mesma linha, o humorista aproveita para se dirigir a toda a classe artística que, considera, é a principal responsável por regular a relação entre as televisões e os artistas.

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"Nos últimos 15 anos ouvi muitos humoristas queixarem-se dos valores baixos que recebem em televisão e do tratamento em algumas estações. O que tem de ser compreendido, é que quem regula essa relação somos nós — produtores, criadores, inventores. Nós estabelecemos como querermos ser tratados, nós definimos o nosso valor e nós exigimos os nossos direitos. Artistas existiam muito antes da televisão, televisão não existe sem artistas."

A nota termina com a garantia de que todos os trabalhos de Rui Sinel de Cordes serão disponibilizados, em exclusivo, na sua plataforma de streaming.

Após o lançamento do comunicado, a MAGG contactou diretamente fonte oficial da OPTO SIC com o objetivo de esclarecer o que terá motivado o uso indevido de conteúdo sobre a estação já não detinha direitos de transmissão. Responsáveis da plataforma decidiram não comentar. O mesmo contacto foi estendido a Rui Sinel de Cordes que decidiu não comentar mais do que aquilo que já tinha escrito no seu comunicado.