Vivem-se tempos excitantes no que diz respeito a inventar palavras novas. Depois de décadas a tirar auto-retratos decidimos que afinal aquilo eram selfies, mais recentemente introduzimos no nosso vocabulário termos como ghosting, haunting e benching para explicar as "novas" práticas do namoro — que na realidade não são assim tão novas, mas vamos passar essa parte à frente.
Nem sempre é fácil acompanhar os novos desenvolvimentos do dicionário urbano, mas é para isso que cá estamos. Uma relativamente recente é o mansplaining, uma junção entre man (homem) e explaining (explicar). E o que é isto exatamente? É quando um homem, no auge da sua sabedoria, elucida uma mulher de que dois mais dois é igual a quatro, ou de que a terra é redonda. Por outras palavras, tenta ensinar-lhe, de forma muito didática, um tema, tudo porque assume que sendo ela mulher não é certamente capaz de compreender certas coisas.
Esta é a nossa explicação, mas o melhor para compreender o termo é mesmo ver os cartoons criados pelo site The Nib. Nesta série de tiras de banda desenhada, eles explicam com humor o que é afinal o mansplaining.
Começa assim.
— E foi assim que acabei no Tinder.
— Ah!
— Isto é bom. O último homem com quem saí era um verdadeiro mansplainer.
— "Mansplainer". Nunca percebi essa palavra. As mulheres explicam coisas a toda a hora.
— Ó?
— Felizmente já estive em encontros suficientes para me preparar para esta situação.
— Mansplaining não é um ataque pessoal à tua pessoa. É uma palavra que descreve um padrão de comportamento na nossa cultura. Um padrão de negligenciar e ignorar o conhecimento, experiências e vozes das mulheres.
Depois de a autora Rebecca Solnit documentar este padrão de comportamento no seu muito popular ensaio de 2008, "As Coisas que os Homens me Explicam", jovens mulheres no LiveJournal [comunidade virtual] criaram o termo mansplaining para descrevê-lo.
"Mansplaining não é um defeito universal do género, apenas uma interseção entre excesso de confiança e a falta de noção onde uma parte desse género fica presa". Rebecca Solnit, 2012.
Este padrão de dar mais importância às vozes dos homens manifesta-se por toda a sociedade.
Nas salas de aulas do ensino primário, os rapazes gritam as respostas oito vezes mais do que as raparigas. Às raparigas que gritam as respostas geralmente é-lhes dito que levantem as mãos.
Um estudo de 2004 descobriu o que o padrão persistia no curso de Direito da Universidade de Harvard — os homens tinham duas vezes mais probabilidade de responder durante as aulas.
As mulheres eram interrompidas mais vezes do que os homens — tanto por mulheres como por homens.
Mesmo que a mulher estivesse numa posição de autoridade. Os pacientes têm duas vezes mais probabilidade de interromper uma médica do sexo feminino.
— Não pagou impostos durante muitos anos. E a outra coisa...
— Teria sido esbanjado, acredite em mim.
Trump interrompe Clinton 39 vezes durante o primeiro debate.
Quem tem espaço para falar interessa — é um reflexo da dinâmica de poder da nossa sociedade.
Em 2008, 97% dos artigos escritos por especialistas no "The Wall Street Journal" eram assinados por homens.
De quem são as ideias consideradas válidas? Quem é visto como um especialista?
Direitos reprodutivos. Quem decide?
Acreditamos nas experiências de quem?
A credibilidade é uma ferramenta básica de sobrevivência.
Claro, a questão de quem tem poder e uma plataforma na nossa sociedade não se limita ao género. Está relacionada com outras identidades, como a raça, sexualidade, classe social e incapacidade.
Vemos padrões de whitesplaining por toda a parte.
Olha à tua volta e coloca-te duas questões: quem é que está a falar? Que vozes é que estamos a perder?
— Vou ser advogado do diabo agora: esta palestra não estará a provar o meu ponto de vista? Não será isto chamado de, por exemplo, femsplaining?
— A isto chama-se educação.