Entrar num cabeleireiro pode ser um pesadelo para muita gente. Para quem tem ansiedade, problemas de autoimagem, dificuldades em socializar ou concentrar-se, aquele momento que deveria ser de autocuidado pode transformar-se numa experiência desconfortável e que só queremos esquecer. Mas e se fosse possível adaptar o atendimento às necessidades de cada pessoa? No SLASH Creative Hair Studio, há muito que isso não é uma utopia.

Com o apoio de uma equipa de psicólogos da Mind Me, assim como formações atribuídas à equipa de profissionais que veste a camisola do SLASH, o salão conta, desde novembro de 2024, com vários serviços pensados para tornar a experiência mais confortável e inclusiva – e nós vimos os cuidados em primeira mão, tendo sido guiados por Olga Hilário, diretora artística do espaço, que fica no número 87A da rua de Dona Estefânia e está de portas abertas há uma década.

O conceito é pioneiro em Portugal e nasce do olhar atento às necessidades dos clientes – não só por parte da responsável do espaço, como de uma das fundadoras da Mind Me, que é uma cliente do mesmo. "Todos nós temos dias em que só queremos silêncio ou em que não nos sentimos bem a ver-nos ao espelho. Mas para algumas pessoas, estas questões não são passageiras, são desafios reais", explica Olga Hilário, durante a visita.

E a verdade é que cada um destes serviços faz todo o sentido. E não é só fogo de vista – desde o momento em que entramos, sentimos que há um cuidado diferente. A equipa é atenta, sem forçar interações consideradas desnecessárias por muitos, e é bastante respeitadora do espaço de cada um. Por outro lado, se for falador (como nós, admitimos) também não lhe vão poupar uns tão desejados dedos de conversa.

O próprio ambiente reflete essa preocupação: iluminação acolhedora, um design moderno, mas sem aquele ar frio e impessoal que muitos salões têm. Aliás, mesmo antes de os tratamentos serem implementados, a iniciativa estava escrita nas estrelas, visto que o salão parece ter sido pensado para proporcionar o máximo de conforto e privacidade a quem por lá passar. Este está organizado em cabines individuais, permitindo que cada cliente tenha um atendimento mais reservado, sem distrações – e sem olhares indiscretos, diga-se.

Espreite o espaço

Se isto, por si só, já pode ser um chamariz para quem manifesta algumas reticências em entrar em cabeleireiros, aliando esta realidade à parceria com a Mind Me a experiência torna-se absolutamente única. No total, são cinco os serviços disponíveis no SLASH (e, em breve, talvez o repertório venha a ser adaptado, confidenciou-nos Olga Hilário), que vão da ausência de espelhos à de ruídos, passando por jogos interativos. Nós explicamos.

A começar pelo Me, Myself & I, no qual pode estar sozinho com o cabeleireiro no espaço – sim, leu bem. Para isso, "há um horário específico, como a primeira ou última hora do dia" ou, caso tenha disponibilidade, pode sempre marcá-lo à segunda-feira, o dia da semana em que o salão está reservado especificamente para este serviço. As vantagens? Zero ruído de outras ferramentas de styling, clientes e tudo aquilo que nos afasta de um serão de relaxamento.

No Blind Hair, por exemplo, ficamos sem nos ver do início ao fim – e só percebemos o impacto que isso pode ter quando nos deparamos com a ausência do espelho, que é coberto na totalidade com uma placa colorida, antes sequer de o cabelereiro lhe pôr as mãos em cima. "Há pessoas que entram em pânico ao não se verem e há outras que sentem um alívio enorme", diz Olga Hilário, frisando que o serviço se destina, obviamente, a esta última fação.

Já o Silent Retreat, por outro lado, é o verdadeiro Santo Graal de quem tem problemas de socialização ou, simplesmente, de quem quer relaxar sem sentir a obrigação de manter uma conversa – quem nunca? "Muitas pessoas sentem-se mal por não serem faladoras. Aqui, não há essa pressão", explica a diretora artística, ao dizer que aquilo que o cliente quer fazer ao visual é discutido no início com o profissional, com quem só falará quando (e se) quiser.

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Tem dificuldade em ficar quieto, fruto de diagnósticos como hiperatividade ou défice de atenção, ou quer apenas uma desculpa para fazer um detox momentâneo das redes sociais? É a Fun Box que deve pedir. Mandalas para colorir, cubos para desconstruir de mais de 70 formas diferentes (estivemos com um na mão e garantimos que é absolutamente viciante) são apenas algumas das atividades cativantes pelas quais pode optar, de forma a ter estímulos de valor.

Por fim, o Unplugged também não é de descurar, especialmente para "aquela malta que tem muita sensibilidade ao barulho", confessa Olga Hilário. Assim, como o nome indica, até quem tem hipersensibilidade sonora ou fobias auditivas vai poder sentir-se mais desconectado, visto que lhe serão fornecidos tampões (gratuitos) que mitigam o ruído que ecoa habitualmente por estes espaços. Afinal, melhor que umas férias num destino paradisíaco, só mesmo um tratamento com mãos de fada e sem barulho.

Uma coisa é certa: o feedback tem sido "extremamente positivo", tanto de clientes habituais como de novas pessoas que se sentiram finalmente confortáveis para marcar um corte. E, caso ainda não tenha dado para perceber, nós fazemos questão de salientar este ponto: a abordagem do SLASH não se limita apenas às pessoas com alguns problemas diagnosticados e relacionados com saúde mental. "Isto é para toda a gente", afiança a diretora artística.

"Há dias em que estamos cansados e só queremos paz ou momentos em que precisamos de uma mudança sem ver cada passo do processo. Queremos que os nossos clientes saibam que podem estar à vontade aqui", continua. A par disso, reitera que o objetivo desta iniciativa não é "apontar desigualdades das pessoas", mas garantir que se trata de "um espaço inclusivo" e "criar formas das pessoas se sentirem bem" – especialmente numa era em que a moda também dita os fios que temos na cabeça.

"Eu acho que, especialmente nos últimos anos, com esta questão das tendências, também há pessoas que começaram muito a encarar o cabelo como se fosse um acessório e não é um acessório. É uma coisa que impacta o teu bem-estar, de certa forma", remata a responsável, frisando que o cabelo é uma extensão daquilo que somos e que não podemos sacrificar o nosso visual em prol do que está na moda.