Matthew Perry, o Chandler Bing da famosa sitcom “Friends”, foi encontrado morto aos 54 anos na piscina aquecida de sua casa em Los Angeles, Estados Unidos, na manhã deste sábado, 28 de outubro. O ator lutou ao longo de quase 30 anos contra a dependência do álcool e de medicamentos.

Da toxicodependência aos milhões de euros gastos em reabilitação, dos problemas de saúde que teve, tendo estado em coma durante duas semanas, aos amores falhados, a MAGG reuniu dez dramas que provavelmente não sabia sobre Matthew Perry e que marcaram a sua vida.

1. A infância conturbada

A infância de Matthew Perry foi conturbada, devido ao divórcio dos pais, tendo-se sentido abandonado por ambos. A mãe foi jornalista e secretária de imprensa do ex-primeiro-ministro Pierre Trudeau. O pai era um ator norte-americano que protagonizou anúncios da Old Spice.

Veja o vídeo que mostra o último abraço de Matthew Perry aos seus "Friends"
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A maior parte da educação do ator de “Friends” foi em Ottawa, Canadá, e devido ao trabalho da mãe este passava muito tempo sozinho, tendo sido nesta altura que apurou o seu humor. “O facto de eu ser engraçado tendia a acalmá-la [à mãe] o suficiente para que ela cozinhasse um pouco, se sentasse à mesa de jantar comigo e me ouvisse — depois que eu a ouvisse, é claro”, partilhou na sua autobiografia “Friends, Lovers and the Big Terrible Thing”. Quanto ao pai, Matthew via “a cara dele com mais frequência da TV ou nas revistas do que na realidade”. Contudo, este era o seu “herói”.

Aos 10 anos o comportamento do ator começou a ser cada vez pior. Começou a roubar dinheiro, a fumar, as notas pioraram e chegou mesmo a espancar o seu colega de escola Justin Trudeu, agora primeiro-ministro do Canadá. Aos 13 anos bebeu pela primeira vez e tinha como objetivo deixar de se sentir abandonado, revela a "BBC".

2. O desejo pela fama e a pressão de fazer rir

Os primeiros papéis de Matthew foram nas comédias dos anos 80 “Charles in Charge” e “Growing Pains”, e, depois em “Sydney”, em 1990, e “Home Free”, em 1993. Acabou então por interpretar Chandler Bing em “Friends” e identificava-se bastante com a personagem. “Um personagem em particular destacou-se para mim. Não pensei que poderia interpretar Chandler. Eu era Chandler”, disse no livro.

Matthew acreditava que a sitcom iria ser um sucesso e teve razão. Neste projeto, o ator conseguiu a fama que tanto queria, mas isso não eliminou os seus problemas. “Eu sentia que ia morrer se o público ao vivo não se risse, e isso não é saudável, com certeza, mas às vezes eu podia dizer uma frase e eles não se riam, e eu suava e tinha convulsões”, contou. “Se eu não conseguisse fazer rir como deveria, eu passava-me. Eu sentia isso todas as noites. Essa pressão deixou-me numa situação má”, afirmou.

3. Dependência de álcool e drogas

Aos 24 anos, quando começou a trabalhar em “Friends”, Matthew já tinha problemas com álcool, mas os colegas da sitcom apoiavam-no. “Eles eram como pinguins. Quando um pinguim está doente, os outros pinguins cercam-no e ajudam-no a endireitar-se, andam à volta dele até que ele possa andar sozinho. Foi isso que o elenco de ‘Friends’ fez por mim”, contou.

A dependência foi piorando, mas teve épocas de sobriedade, como durante a nona temporada da sitcom. Matthew começou então a beber mais na esperança de que o álcool resolvesse as coisas que a fama não resolveu.

Jennifer Aniston, que deu vida a Rachel Green, chegou a confrontar Matthew, dizendo de forma “estranha, mas amorosa”, que todos conseguiam “sentir o cheiro” a álcool. O facto da atriz ter usado o “plural” marcou-o bastante.

4. As piores temporadas de “Friends” para Matthew

Apesar de ser uma série de comédia, a vida de Matthew não estava nada fácil. No pior momento da sua adição, numa das últimas temporadas da sitcom, o ator revelou que tomava 55 Vicodin, um analgésico opióide, por dia e pesava apenas 58 quilos.

Numa entrevista ao Tom Power, em 2022, o ator revelou que era muito difícil para si rever episódios antigos, porque conseguia lembrar-se da droga que consumia em cada temporada. “Posso dizer quando bebia, tomava opioides, cheirava cocaína. Poderia dizer temporada por temporada pela minha aparência. É por isso que não quero ver, porque é o que vejo”, explicou.

Em 2016, o ator revelou que não se lembrava de três temporadas inteiras de “Friends”, devido ao seu estado durante as gravações. “Eu quase me matei”, escreveu no livro. “Eu nunca fui festeiro – consumir todas aquelas drogas, e eram muitas drogas, foi apenas uma tentativa fútil de me sentir melhor”, confessou.

5. Problemas de saúde provenientes da toxicodependência

Os problemas de saúde de Matthew atingiram um ponto crítico em 2018. O seu cólon rebentou, devido ao uso excessivo de analgésicos opióides, tendo sido submetido a uma cirurgia de sete horas. O ator tinha 2% de hipóteses de sobreviver na primeira noite e, depois, esteve as duas semanas seguintes em coma e cinco meses hospitalizado. Aém disso, usou um saco de colostomia durante nove meses.

Este período deixou-o com o corpo marcado de cicatrizes, sendo estas 14 no total, devido às 14 cirurgias a que foi submetido no estômago. “São muitos alertas para me manter sóbrio. Basta só olhar para baixo”, disse à “People”.

O ator foi colocado numa ECMO (Oxigenação por Membrana Extra Corporal), máquina que recebe o sangue do paciente e substitui o dióxido de carbono por oxigénio (substituindo o trabalho dos pulmões) e devolve-o ao corpo já oxigenado. “E isso é mesmo último recurso. Ninguém sobrevive a isso”, contou o ator.

6. Gastou 9 milhões de dólares em reabilitações

As tentativas de recuperação da toxicodependência foram difíceis, tendo entrado e saído de reabilitações várias vezes. Em 1997, um acidente de jet ski deixou-o viciado no analgésico Vicodin. Teve problemas com álcool, Metadona e anfetaminas e, em 2000, foi hospitalizado com pancreatite.

Numa entrevista à BBC Radio 2, Matthew chegou a confessar que não se lembrava de ter gravado três anos de “Friends”. “Eu estava um pouco fora de mim na altura, entre a terceira e a sexta temporada”, admitiu. Depois de mais tentativas de tratamento, ele escreveu no seu livro que estava praticamente sóbrio desde 2001, “exceto por cerca de 60 ou 70 acidentes”.

O ator contou que gastou “provavelmente 9 milhões de dólares ou qualquer coisa do género a tentar ficar sóbrio”, participou em 6 mil reuniões dos Alcoólicos Anónimos, esteve 15 vezes em clínicas de desintoxicação e fez terapia duas vezes por semana durante 30 anos.

7. Os amores falhados de Matthew Perry

Matthew nunca encontrou um amor duradouro e evitava compromissos. Na sitcom “Friends” estava “apaixonado” por Jennifer Aniston, mas esse sentimento desapareceu, devido à sua “falta de interesse ensurdecedora”. Mais tarde, envolveu-se com Julia Roberts quando a atriz co-estrelou a sitcom, em 1996.

Como as inseguranças do ator não desapareciam, este estava constantemente convencido que Julia iria terminar a relação com ele, já que achava que “não era o suficiente”. “Então, em vez de enfrentar a agonia inevitável de perdê-la, terminei com a bela e brilhante Julia Roberts”, disse na autobiografia.

Matthew teve outros relacionamentos, nomeadamente com Tricia, a meia-irmã de Carrie Fisher, as atrizes Lizzy Caplan e Yasmine Bleeth e a gestora de talentos Molly Hurwitz. Contudo, o ator não deixava as pessoas entrarem na sua vida. “Preciso de amor, mas não confio nele. Se eu fizer como o Chandler e mostrar quem eu realmente sou, podem conhecer-me - mas pior, podem conhecer-me e podem deixar-me, e eu não posso permitir isso”, revelou.

8. O coração de Matthew parou durante 5 minutos

Na autobiografia, Matthew explicou o motivo que o fez desistir de participar no filme “Não Olhem Para Cima”, de Adam McKay, onde ia interpretar um jornalista republicano. Enquanto estava numa clínica de reabilitação na Suíça, o ator mentiu aos médicos e alegou que tinha graves dores de estômago.

Os especialistas receitaram-lhe medicamentos para as dores, que era o seu objetivo, e tal serviu para alimentar a sua adição. “Levei uma injeção às 11 da manhã. Acordei 11 horas depois num hospital diferente”, escreveu Matthew Perry no livro.

“Aparentemente, o Propofol tinha parado o meu coração. Durante cinco minutos. Não foi um ataque cardíaco, mas nada estava a bater. Disseram-me que um suíço robusto não queria que o tipo de ‘Friends’ morresse na sua mesa, então ele fez-me RCP [reanimação cardiopulmonar] durante os cinco minutos inteiros, a bater no meu peito”, contou. “Se eu não tivesse entrado em ‘Friends’, teria ele parado aos três minutos? “Será que ‘Friends’ me salvou a vida outra vez?”, questionou o ator.