Cristina Ferreira foi entrevistada por Rita Nabeiro para o “D de Delta”, onde abordou a sua saída da SIC, estação pela qual trocou a TVI em 2018. Cerca de dois anos depois, em julho, regressou a Queluz de Baixo, onde é atualmente apresentadora do “Dois às 10”, das galas e do “Especial” do “Secret Story”, para além de diretora de Entretenimento e Ficção da TVI e acionista da Media Capital.
“É um sonho que dá muito trabalho e que às vezes me coloca algumas dúvidas. Tenho tudo o que quis – e, às vezes, ando à procura de outras coisas. Porque gosto de recomeços, não gosto de me sentir a fazer a mesma coisa durante muito tempo, e isso é muito difícil. Quando saí da SIC, percebi que já tinha feito tudo o que podia ter feito ali. Seria muito difícil manter-me num sítio onde ia ser só o ramerrame diário. Isso é tramado, porque pode levar-te por caminhos apertados”, disse a apresentadora, quando questionada se sentia que estava a viver um sonho, garantindo que repetiria “tudinho”, já que tem “zero medo de andar para a frente”.
Cristina Ferreira abordou ainda como lida com as críticas, nomeadamente quando regressou à TVI em 2020. “Aprende-se. Só tens uma hipótese, quando tens milhares de pessoas que dizem que gostam muito de ti e milhares que dizem o contrário: é não absorver nem umas, nem outras. Fazeres o teu caminho, de consciência tranquila. Sempre o fiz. Fui amada por um País durante muitos anos e, quando decido voltar para a TVI, não estava a fazer mal a ninguém… Só queria voltar a um sítio onde estava bem. Porque já não estava feliz onde estava e tinha tido uma proposta irrecusável. Mas as pessoas não perceberam, e magoaram-me”, disse, acrescentando que se sentiu injustiçada nessa altura.
A apresentadora relatou ainda como é ser mulher no meio televisivo e mediático. “Para seres só apresentadora, até é muito bom seres mulher. Agora, quando começas a atingir posições de poder, de decisão, aí começam a aparecer as dificuldades. Aí tens de provar que mereces a oportunidade, tens de falar mais alto, de mostrar porque é que estás ali. Sou contra as quotas. Se nós, mulheres, quisermos, acho que temos. Mas temos de ser nós. Sou a prova disso: ganhei mais do que qualquer homem na televisão em Portugal. É possível. Mas será possível muitas vezes? Não, e é por isso que temos de batalhar. Agora, se uma mulher quiser, ela vai conseguir. O que é que tem de eliminar? Sentimentos de culpa, que há muitos, quando se tem família e filhos. Sinto que isso é que aprisiona a maior parte das mulheres”, explicou.
“Se tens uma reunião no estrangeiro, perguntam-te com quem ficou o teu filho – se um homem vai, ninguém lhe pergunta isso. Se um homem chega a casa todos os dias tarde, não lhe perguntam se foi dar o jantar ao filho, mas à mulher perguntam. Isto vai ecoando de forma a que a mulher se sinta mal, porque sente que não está a dar à família o que lhe era imputado. Quando te libertas disso e percebes que o teu filho será muito mais feliz se tiver uma mãe que seja realizada profissionalmente e que faça aquilo de que gosta, percebes que estás a dar ao teu filho muito mais do que comida num prato. Tentei sempre dizer isto em televisão, nem sempre sendo entendida”, continuou.
Cristina Ferreira abordou ainda a importância das audiências no meio televisivo. “As empresas privadas ainda têm de ser reféns da audiência, que dá o retorno necessário para continuarmos a fazer programas. É óbvio que estamos todos em transformação. A forma de ver televisão mudou, o público mudou, o dinheiro é escasso. Há grandes plataformas com grandes orçamentos. Não consegues fazer uma série que custa um milhão de euros por episódio, não tens esse dinheiro em Portugal. Portanto, como é que consegues atrair a atenção em produtos muito menos dispendiosos? Só tens uma hipótese: trabalhar na emoção, seja ela qual for. É a única coisa que prende. Por isso é que um jogo de futebol prende a atenção, uma novela prende a atenção, um reality show…”, disse.
Além disso, não escondeu que gostava de ser anónima fora da TV. “Há milhares de vantagens. Mas adorava que, quando saio da televisão, ninguém soubesse quem sou. Era aquilo de que eu mais gostava, porque preciso tanto de ser, só ser. Tento manter sempre essa distância, entre a Cristina da televisão e a Cristina da vida real. A da televisão é a mesma, só que está numa situação de purpurinas”, explicou.