Os D.A.M.A lançaram o seu primeiro EP, “Canções Bonitas em Português – vol. 1”, no dia 20 de outubro, onde incluíram os êxitos “Casa”, com o Buba Espinho, e “Loucamente”, com os Los Romeros. Além destes, lançaram “Mãe”, uma música biográfica sobre a relação de cada um com a respetiva progenitora. Em entrevista à MAGG, na qual estiveram presentes Miguel Cristovinho e Miguel Coimbra, os músicos contaram de onde vem este estilo musical mais tradicional, presente em várias músicas recentes.

Os membros da banda também recordaram os três concertos que fizeram nos coliseus do Porto e de Lisboa, esgotados, com “Casa, Bagunça e Viagem” com Buba Espinho e os Amigos do Alentejo, sendo que o de Lisboa foi transmitido na TVI. Cristovinho e Coimbra refletiram também sobre o papel que Cristina Ferreira tem tido no percurso da banda desde que Kasha participou e venceu o “Big Brother Famosos 1”.

Vão lançar esta sexta-feira, 20 de outubro, [n.r.: esta entrevista foi feita a 20 de outubro] o vosso primeiro EP, chamado “Canções Bonitas em Português – vol.1”. O que significa este trabalho e como o descrevem?

Miguel Cristovinho – Primeiro, é especial, porque é o nosso primeiro EP. Nunca tínhamos feito um EP. Os nossos últimos trabalhos foram álbuns grandes, os primeiros quatro. Por isso nesse aspeto tem a particularidade de ser diferente. Tem também a particularidade de nos ter feito pensar que é uma coisa que nós podemos continuar a fazer à medida que vamos lançando álbuns dos D.A.M.A. Por isso é que é o volume 1.

O “Canções Bonitas em Português” foi inspirado na procura de uma raiz. Esta raiz, em específico, foi uma raiz que descobrimos no Alentejo, uma raiz tradicional na música do Alentejo, mas nós temos a intenção de fazer isso com outras raízes da música portuguesa, nomeadamente noutros países falantes da língua portuguesa ou outra região de Portugal.

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Miguel Coimbra – [Queremos] explorar a musicalidade que há na terra, nas pessoas, aquela musicalidade que é passada boca a boca por gerações e que às vezes não está tão acessível num clique. Tens de ir à procura, tens de investigar, tens de falar com pessoas, tens de ir para lá. Foi um bocado o que fizemos no Alentejo e foi isso que tornou este nosso trabalho tão especial. As pessoas com as quais estávamos a trabalhar tinham um respeito tão grande pela música, pelo processo, pelas coisas terem de ser feitas com verdade e conectadas numa só intenção. Só isso é que permitiu que o Alentejo nos recebesse, foi por haver essa atitude e essa abertura mesmo pela arte e pela música. Este EP marca um bocado este ponto. É um ponto de encontro e um ponto de criação de um novo imaginário para nós, do qual estamos muito orgulhosos e que deu muito sentido à nossa vida e a este momento da nossa carreira.

Como surgiu a ideia de lançarem o vosso primeiro EP?

Miguel Cristovinho –
Foi quando lançámos o “Casa”. Nós fizemos a música “Casa” e, depois de a fazermos, nós passámos muito tempo em estúdio com aquela malta e daí começaram a surgir outras maquetes. Consequentemente, nós pensamos: ‘porque é que não fazemos um concerto todos juntos?’. Fizemos os coliseus, depois entretanto lançámos o “Loucamente” também com outro grupo, os Los Romeros, que são uma banda de outra zona do Alentejo, de Serpa, e depois de fazermos essas duas músicas e os coliseus nós achamos que devíamos culminar isto tudo num projeto físico. Físico salvo seja, é digital, vai haver uma expressão em vinil, mas é um conjunto. Foi daí que surgiu a ideia do “Canções Bonitas em Português”. É óbvio que isto não é um álbum tradicional D.A.M.A e por isso é que também existiu a necessidade de se criar um novo mundo à parte daquilo que são os nossos álbuns normais. Mas pronto, é mais um trabalho feito por nós e agora tem uma caixinha onde faz sentido ele estar.

A capa deste EP tem vários detalhes, desde as asas, ao vinho ou à guitarra. O que querem passar com ela?

Miguel Cristovinho –
Primeiro, quero dar aqui os parabéns à Filipa Freire, que foi a designer que a fez. É aberta à interpretação das pessoas. Para mim, por exemplo, é a beleza que está por trás de uma coisa que aparentemente pode ser assim um bocado dura. É um anjo, mas está com os olhos tapados. Os olhos tapados são um símbolo de distância, porque não consegues ver o que a pessoa está a dizer também com os olhos. A imagem é muito bonita, tem a referência do vinho e da guitarra portuguesa que são uma referência à portugalidade, mas aquilo que nós vimos no Alentejo é que as pessoas aparentemente são rijas, principalmente os homens, mas depois por dentro, e quando vais lá um bocadinho mais a fundo, são pessoas extremamente sensíveis e com muita arte dentro delas. E é isso que as torna tão bonitas. É essa dicotomia entre algo que pode parecer distante, mas ao mesmo tempo é muito bonito.

O estilo musical que adotaram em músicas como “Casa”, com o Buba Espinho, ou “Loucamente”, com os Los Romeros, é diferente do vosso habitual e mais tradicional. De onde vem esta mudança?

Miguel Cristovinho – Nós não mudámos de estilo, nós somos um estilo. Isto é o que eu sinto. O “Casa” é uma música com raiz no cante, o “Loucamente” é uma música com raiz no flamenco, agora lançámos o “Mãe” que tem raiz no pop-rock, ou seja, nós não queremos fazer um género específico, porque nós sentimos que D.A.M.A é um género específico, é único.

Miguel Coimbra – No “Casa”, o que nós sabíamos era: ‘nós vamos fazer uma música que englobe cante alentejano, portanto nós temos de ir para o coração da região. Nós temos de ir lá comer a comida que eles comem, estar com as pessoas que o cantam, ir às escolas, abraçar as árvores, beber o seu vinho e passar um tempo de qualidade ali a perceber a terra e a deixar que as palavras nutram dentro de ti conteúdo’. Essa foi a nossa estratégia para abordar o cante alentejano, não foi basicamente ‘agora vamos fazer este estilo’.

Não, nós temos o nosso estilo, conhecemos e confiamos, mas para entrosar uma raiz cultural nós temos de ir ao local, temos de perceber a língua deles. Isto metaforicamente, mas nós temos de perceber o que está por trás das suas almas, o que é que a terra fala, qual é o barulho do vento. Isto tudo foi o que nós fomos buscar ao Alentejo.

Miguel Cristovinho – Isto foi para o “Casa”, mas, por exemplo, depois para o “Loucamente” fomos a Espanha gravar guitarras flamencas. A nossa cena é contar histórias, nós trabalhamos bem as palavras e as melodias e, felizmente, a produção musical. Agora, tudo aquilo que está à volta disso nós sabemos que é preciso ir contactar com outras pessoas que tenham acesso à informação que nós queremos ter. Isto é quase como ler um livro. Tu não consegues fazer um flamenco que soe a flamenco se não estiveres com pessoas que fazem flamenco desde que nasceram, não há hipótese.

Miguel Coimbra – Nós fizemos uma versão do “Menina Estás À Janela”. Não poderíamos fazer uma versão... ou melhor podíamos, mas não teria a mesma veracidade se não a tivéssemos feito com o Vitorino [intérprete da versão original] também. Foi mesmo importante, fez toda a diferença na música. A música sem o Vitorino era bonita, mas não era a mesma coisa. Acho que estas coisas fazem a diferença quando estamos a criar um produto e a criar arte.

O “Casa” tem sido um sucesso, estando a caminho da quádrupla platina e conta com 13 milhões de visualizações no Youtube e 11 milhões de reproduções no Spotify. Enquanto a compunham, alguma vez pensaram que esta música teria esta repercussão?

Miguel Coimbra – Nós ganhámos essa perceção pouco depois de a lançarmos. Quando nós a lançámos e ela ainda não tinha explodido, nós já tínhamos a convicção de que aquela iria ser a maior música dos D.A.M.A de sempre. Eu dizia isto nas entrevistas. O “Casa” ainda nem sequer tinha batido, ainda nem sequer estava a explodir, e eu já dizia assim: ‘esta é a melhor música dos D.A.M.A de sempre. É a música que vai unir o povo português’. Ela aparece numa altura em que ela é muito necessária para unir as pessoas, por toda a envolvência cultural onde nós estamos, pelo amor que ela tem lá dentro por ter a raiz portuguesa.

Enquanto a estávamos a fazer, o que estava na nossa cabeça era só fazer o melhor possível, não estávamos a pensar se ia muita gente ouvir ou não. Tentámos fazer o melhor possível, até porque vínhamos de um contexto onde tínhamos lançado o quarto disco, tínhamos lançado uns singles, portanto não havia nenhuma demanda da nossa parte. Queríamos só entregar tudo e o coração à arte e fazer o melhor possível com aquelas pessoas. Mas quando a lançámos é que foi bastante claro para nós aquilo em que ela se ia transformar.

Saiu hoje [20 de outubro] à meia-noite a música “Mãe”. É uma homenagem às vossas? Como está a ser o feedback do público?

Miguel Cristovinho – O objetivo principal é o de alguma cura para nós, de certa forma. É uma música muito biográfica, nem todas as que fazemos são, mas esta em específico é. É uma música que nós precisávamos de fazer, cada um de nós à sua maneira pela sua experiência com a sua própria mãe. Depois de ultrapassar essa parte mais pessoal, quando nós olhámos para esta canção e para o que ela pode significar para as pessoas quando a música saísse, é óbvio que temos uma conceção de que: ‘ok, nós conseguimos entender que isto é relacionável a todas as pessoas’.

Seja uma pessoa que tenha uma ótima relação com a mãe, seja uma pessoa que já não tem a mãe aqui, seja uma pessoa que não tem uma relação tão boa, todas elas se vão conectar de alguma forma com o tema. Todos tivemos uma mãe, todos fomos transformados por um amor incondicional e por isso é uma música que nós queremos que simbolize união e, em alguns casos, reconciliação.

Miguel Coimbra – Reconciliação, união e cura. Acho que isso são as três palavras-chave do que nós pretendemos com esta música.

Miguel Cristovinho – A música vai chegar aos 100 mil views [“visualizações”, em português] hoje, de certeza, que é assim aquela marca. Nós já estamos habituados a lançar muitas músicas, mas sempre que uma tem assim estes números mais chavões é porque está a tocar as pessoas em larga escala. Mais do que os números, estamos a receber muitas, muitas mensagens. Eu até estava a comentar com eles que a maior parte das mensagens são de pessoas que têm uma experiência mais parecida com a minha, que é a da minha mãe já não estar presente.

Muitas pessoas estão a enviar-nos mensagem a dizer: ‘perdi a minha mãe há 10 anos, perdi a minha mãe há uns meses’. Uma miúda jovem também nos mandou uma mensagem a dizer que perdeu uma criança, estava grávida e perdeu o feto há pouco tempo, e eu nunca na vida tinha pensado nesse cenário, que uma pessoa que estava grávida e perdeu o bebé ficasse tocada pela música. Mas esse é o poder da música, também é revelador, porque percebes que as tuas palavras, que te ajudam a encontrar sentido na tua vida, ajudam outras pessoas a encontrar sentido na vida delas. Isso é o melhor sentimento que qualquer artista pode ter.

"Neste momento, estamos numa fase muito boa e sinto que as pessoas têm D.A.M.A como uma instituição"

Os D.A.M.A são uma banda muito acarinhada pelos fãs. Como é sentir todo esse amor praticamente desde o início?

Miguel Cristovinho – É super feliz, é uma experiência maioritariamente positiva. Ao longo destes dez anos passámos por todas as fases da novidade e da dúvida perante aquilo que nós apresentamos, da consagração, e sentimos claramente as fases todas. Neste momento, estamos numa fase muito boa e sinto que as pessoas têm D.A.M.A como uma instituição. Somos super bem tratados em todo o lado a que vamos, há sempre, sempre, sempre alguma pessoa da família que gosta especialmente de nós e contagia as outras. Só recebemos amor, não me lembro nunca sequer de ter tido uma má experiência com alguém nestes dez anos por termos a vida que temos. É uma bênção enorme, não há mesmo nada do qual nos possamos queixar. Okay, não podemos ir às vezes a um centro comercial descansados (risos).

Esgotaram três coliseus com “Casa, Bagunça e Viagem” com Buba Espinho e os Amigos do Alentejo e o de Lisboa foi transmitido na TVI a 7 de outubro. Consideram que foi um marco no vosso percurso?

Miguel Cristovinho – Foi, claro. Foi uma estreia, nunca tínhamos feito o Coliseu de Lisboa.

Miguel Coimbra – Isso é o ponto número 1. Depois foi um espetáculo completamente diferente, foi um desafio completamente diferente de todos os outros, foi completamente desafiante fazer esse concerto. Depois de fazer o concerto nós gravámos em vídeo, que foi emitido na televisão, e o áudio, que está disponível no Spotify, é como se fosse um disco. Todo esse projeto foi extremamente complexo, foi muito desafiante e em termos de sentimento nem se fala. Foi tudo muito emocional, foi mesmo incrível.

Miguel Cristovinho – Uniu muito as pessoas. Felizmente, como nós estamos sempre a trabalhar e estamos sempre à procura da próxima, tem um lado muito bom, o de que está sempre a acontecer alguma coisa, mas também tem um lado menos positivo, porque não tens grande tempo para aproveitar cada coisa. A coisa acontece, está a acontecer e já aconteceu.

Miguel Coimbra – Onde nós estamos verdadeiramente a desfrutar e é provavelmente o sítio onde nós desfrutamos mais é em cima do palco, quando aquilo está a acontecer. O resto é trabalho árduo mesmo. Preparar desde o vídeo, ao áudio, aos ensaios, aos músicos, aos arranjos. Nós estamos metidos em tudo, é um projeto extremamente complexo, vem tudo das nossas cabeças. Temos uma equipa incrível, como é lógico, mas é muito difícil delegares e teres tempo para apreciar cada momento. Às vezes não tens tempo nem para apreciar, só tens tempo para viver, correr para ali, correr para outro lado e resolver problemas.

Das centenas de concertos que já deram, quais é que guardam com um carinho especial? E porquê?

Miguel Cristovinho –
Um dos concertos que nos marcou mais foi certamente o nosso primeiro Campo Pequeno. Já fizemos quatro, mas o primeiro foi muito fixe. Aliás, qualquer sala grande aqui no nosso País foi emblemático. Os concertos no Campo Pequeno, o Altice Arena, que queremos muito repetir, agora os coliseus e também as arenas lá de cima, o Multiusos de Guimarães e o de Gondomar.

O espetáculo que eu diria que foi mais especial, até pela dimensão e pela situação toda em si quase emblemática que é em Portugal, foi o Rock in Rio. A Roberta Medina fez-nos a bênção de dar um grande elogio, a dizer que foi o melhor concerto de artistas portugueses no Rock in Rio, na opinião dela. Eu acho que é recíproco, que foi dos nossos melhores concertos de sempre, porque foi icónico e acho que vamos recordar para sempre esse concerto como um dos melhores momentos da nossa vida. 

Os D.A.M.A fizeram 10 anos de carreira o ano passado. Desde o início, a vossa vida pessoal já sofreu imensas alterações, nomeadamente o Miguel Cristovinho e o Miguel Coimbra até já foram pais. Isso traz-vos também outra maturidade enquanto artistas?

Miguel Coimbra –
Sim. O artista que nós somos é o homem que nós somos também ao mesmo tempo. No fundo, traz mais maturidade. É sempre uma fase da vida onde tu entras e traz consigo muitas coisas novas, muitos sentimentos novos.

Miguel Cristovinho – Sim. Eu acho que se nós não estivéssemos na fase de vida em que estamos enquanto homens não teríamos sido capazes de fazer esta música “Mãe”, por exemplo. Os artistas não teriam sido capazes de fazer esta música. É preciso viver certas coisas para se conseguir falar delas de uma forma mais real e mais verdadeira. Eu perdi a minha mãe há dez anos e agora é uma altura diferente e mais natural para falar do sentimento perante isso.

Como é gerir a vossa vida pessoal e familiar sendo artistas, tendo concertos e vida de estrada?

Miguel Coimbra –
Há tempo para tudo. O importante é estar presente em cada situação. Quando chegamos a casa estar em casa, quando for para ir para a estrada estar na estrada, quando estamos no estúdio é para estar no estúdio. É um bocado isso que tentamos procurar, quando estamos presentes estamos efetivamente presentes e com toda a intenção no que quer que seja aquilo que estamos a fazer.

"Qualquer projeto que seja individual, se for enriquecedor para um de nós, vai ser enriquecedor para o grupo"

Com todas estas mudanças que vão acontecendo na vida de cada um, como fica a relação entre os três?

Miguel Cristovinho –
Nós não falamos sobre as nossas relações. Somos irmãos. Não falamos sobre se gostamos mais hoje do que gostávamos ontem ou se estamos mais chateados hoje do que estávamos ontem, nós somos capazes de estar a ter uma discussão pelo telefone e chegarmos ao pé uns dos outros e é como se não tivéssemos discutido. Há uma ligação que é tão forte que é indiferente de tudo o resto. Nem sequer questionas. Eu posso estar duas semanas sem falar com a minha irmã, que está a viver em Londres, que quando nós falamos é como se tivéssemos falado há dois dias ou há dez anos, a brincar com Game Boy. Estamos sempre a fazer um percurso juntos e não vamos deixar de estar nunca. E acho que essa sensação traz-nos uma paz mesmo cósmica. Nós não questionamos nada, estamos só juntos a viver uma vida familiar.

Além da banda, vão tendo outros projetos profissionais. Exemplificando, o Kasha lançou um EP a solo, “Esquece”, e o Miguel Cristovinho vai participar no musical de Natal “O Peter Pan no Gelo”. O foco é sempre os DAMA ou já ponderaram cada um seguir o seu caminho a solo?

Miguel Cristovinho – Nós temos abertura para fazer isso. Já foi uma questão há uns anos, pensamos sobre isso. Aliás, logo no primeiro ano que D.A.M.A existiu, quando me convidaram para fazer uma novela, aí foi: ‘não, não quero fazer isto’. E ainda bem que fizemos isso nos primeiros anos, porque isso fez com que agora já estejamos completamente cimentados enquanto artistas, enquanto banda e enquanto seres humanos. Agora não há problema nenhum se algum de nós quiser fazer alguma cena individual, porque estamos a contribuir para o sucesso também do projeto.

O Kasha fazer um EP, esse EP ser bem-sucedido é uma coisa boa para D.A.M.A. Eu fazer uma peça ou ser jurado num programa de televisão é uma coisa boa para nós. O Coimbra ser pai e estar dedicado a isso ou lançar uma música igual. Qualquer projeto que seja individual, se for enriquecedor para um de nós, vai ser enriquecedor para o grupo. Nós também não questionamos nada com D.A.M.A, D.A.M.A é o mais importante para os três e onde os três nos encontramos. É lógico que D.A.M.A nunca vai ser um empecilho para um de nós ter mais um projeto individual, não, vai ser uma coisa em que felizmente temos apoio. Eu agora vou fazer “O Peter Pan no Gelo” e sei que tenho o apoio destes dois. Seria mais difícil para mim se não tivesse. Por isso é que eu acho que os projetos conjuntos têm tanta dificuldade em suceder, porque essa é a parte difícil, quando tu não consegues perceber que o conjunto é mais importante do que o individual.

Miguel Coimbra – E muitas vezes por causa de medo. Às vezes temos tanto medo e achamos que temos de fazer as coisas sozinhos, porque temos de ficar sozinhos, a verdade é essa. É engraçado a forma como o universo funciona dessa maneira, que é o contrário, nós isolamo-nos com medo de ficar sozinhos ou não dizemos que amamos a outra pessoa porque temos medo de não ser amados. Connosco, nós quebramos um bocadinho essa barreira. Nós sabemos que a nossa relação é para a vida e que o que nós estamos a construir é para a vida e se um de nós quer fazer um projeto à parte nós todos apoiamos esse projeto, nós todos apoiamos essa visão. Nós todos queremos dar uns aos outros a voz para ser a voz, que é como se fosse o portal para a nossa existência.

Temos de ganhar a liberdade e a confiança uns dos outros para nos potenciarmos. Depois disto tudo, a verdade é que isto acaba por potenciar o grupo, muito mais. O Kasha ter feito o projeto dele potenciou o nosso grupo, nem que seja pela cena de ser um objetivo pessoal que ele tinha.

Miguel Cristovinho – Ele [Kasha] queria ir para o “Big Brother”. Já viram o que era se ele tivesse ido e nós tivéssemos dito: ‘ew, não devias nada fazer isso’, e ele querer ir? Era horrível. Então foi bué fixe ele querer ir, nós dizermos: ‘bro, queres? Então vai, mano’. Pões tanta intenção boa nas coisas que elas depois correm bem, é lindo, sempre.

Durante cerca de um ano e meio fizeram uma espécie de pausa. Sentem que por vezes é necessário haver um afastamento para depois voltarem renovados?

Miguel Coimbra –
Se houve é porque foi necessária. Não conseguimos pensar demasiado nisso, foi como foi. Se bem que essa pausa foi só um bocado a perceção pública, porque nós efetivamente nunca pausámos, nunca parámos de compor, nunca parámos de fazer música. Sim, passámos um pouco menos tempo juntos, por causa das circunstâncias do COVID-19, mas nós nunca pausámos. Sempre estivemos a partilhar informação, sempre compusemos música e sempre fomos muito transparentes uns com os outros em tudo.

O Kasha participou no “Big Brother Famosos 1” e foi o vencedor desta edição. Desde então, têm uma relação bastante próxima com Cristina Ferreira. Qual é o papel dela no vosso percurso?

Miguel Cristovinho –
Acho que a nossa relação com a Cristina em específico foi uma relação que, sem dúvida, nos aproximou, devido ao Kasha ter participado no programa. Nós não somos artistas que têm muitas relações no meio da televisão, apesar de irmos à televisão e à rádio há anos. Nós estamos sempre um bocado mais na nossa bolha de artistas, recebemos N artistas no estúdio, mas quando encontramos artistas de outras áreas e com quem conectamos, nós conectamos a sério. A relação entre a nossa relação com a Cristina e o Kasha ter ganhado o “Big Brother” é, sem dúvida, inequívoca.

De resto, nós damos amor a todas as pessoas, seja uma pessoa que tenha um cargo como o da Cristina, seja uma pessoa que nos sirva à mesa num restaurante. Nós damos a nossa energia e a nossa essência a qualquer pessoa. Aquilo que essa pessoa nos dá de volta é fruto daquilo que ela sente que recebe, por isso não sinto que haja relação. Há relação em sermos essas pessoas há dez anos para a indústria inteira, acho que aí é que faz toda a diferença. Quando todas as pessoas que se conectam contigo têm a mesma opinião, aí é que podes ter a certeza que vai acontecer alguma coisa.

Miguel Coimbra – As pessoas têm a sua energia, não é? A Cristina é uma pessoa que tem uma energia muito forte, muito forte mesmo, aquela mulher é um furacão. Estando a conviver com ela e sentir aquela energia de perto, tu acabas sempre por dar e receber. Eu sinto que, sem dúvida, a Cristina foi uma pessoa que nos transmitiu muita energia positiva e que nos motivou bastante, por isso eu diria que teve uma influência muito positiva na nossa vida.

Em 2023, muitas bandas têm voltado aos palcos passados vários anos, como é o caso dos D’ZRT, dos Excesso ou NSYNC. Como viram estes regressos enquanto banda também?

Miguel Cristovinho –
Primeiro, existem os regressos das bandas, porque também são as bandas os primeiros projetos musicais a terem de acabar, normalmente. Uma pessoa sozinha ou um projeto a solo normalmente diz: ‘bem, vou parar durante um bocadinho’, mas não se retira porque é só ela, só se quiser mesmo deixar de fazer música para sempre. As bandas acabam, porque alguma daquelas pessoas não quer fazer parte e elas decidem em conjunto parar. O regresso das bandas acho que está mais relacionado com o facto de também serem as bandas que acabam mais frequentemente. E elas regressam, porque existe uma memória dentro de nós de que quando essas bandas em específico existiram marcaram uma geração.

Nós temos o desejo profundo de não acabar e, portanto, esperamos daqui a 30 anos continuarmos a marcar a geração que estiver a existir daqui a 30 anos. Não é o nosso sonho agora parar e daqui a 20 anos voltar para as pessoas que gostam de nós há dez anos. Mas eu percebo perfeitamente o feeling [“sentimento”, em português]. Todos nós já gostamos de artistas que agora não estão a fazer música e se pudéssemos ver mais um concerto deles ficávamos todos contentes. É essa sensação que eu acho que as bandas sentem.

Miguel Coimbra – Nós ficamos super felizes quando as pessoas se juntam e fazem coisas boas. Acho que isso resume um bocado a nossa visão. Ainda bem que é assim e houvesse mais pessoas que se juntam com a mesma intenção para espalhar energia positiva.

Crédito das fotos: @mudsea