Deputada há 14 anos pelo Partido Socialista, Isabel Moreira tem, ao longo de mais de uma década, defendido causas como a igualdade de género, os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQI+. No podcast "Um Género de Conversa", conduzido por Paula Cosme Pinto e Patrícia Reis, a advogada de 48 anos contou que, ao longo da sua carreira política, já sofreu ameaças, tendo mesmo chegado a ter a vida em risco.

"Eu vivi um período de enorme violência. Na altura do debate dessas leis [legalização do casamento homossexual, coadoção, adoção por casais do mesmo sexo, eutanásia], pontapearam várias vezes, em vários dias diferentes, a minha caixa do correio. Escreveram com um prego 'puta', 'lésbica', por aí fora. Fizeram o mesmo ao meu carro. Eu estava na rua com a minha sobrinha pela mão, pequenina, e um homem agarrou-me pelo braço, abanou-me e chamou-me muitos nomes. A minha sobrinha começou a chorar. As ruas são muito iluminadas, é fácil chamar alguém. Eu aí fiquei muito preocupada foi com o estado da minha sobrinha. Mas depois com a maneira como eu reagi, ela ficou muito sossegada", conta Isabel Moreira.

Questionada pelas anfitriãs sobre a sua reação, a deputada do PS explicou que conseguiu manter a calma. "Disse 'largue-me imediatamente, está aqui uma criança, o senhor está a embaraçar-se a si próprio'. Eu transmiti muita segurança à minha sobrinha e estavam pessoas presentes. Depois descobriram onde é que eu morava, tocaram-me à campainha às 3 da manhã a dizer que iam matar-me e violar-me... por aí fora. Na altura nunca falei nisso, mas a verdade é que isso criou um grande estado de ansiedade. Telefonavam-me muitas vezes por dia, a dizer que vai acontecer isto e aquilo. Aquilo era constante", relatou.

Com o advento das redes sociais, Isabel Moreira diz que as ameaças, agora, chegam via digital, mas que não se dedica a ler o conteúdo de comentários e mensagens. E conta que se viu obrigada a apresentar queixa numa única ocasião. Quando o pai, Adriano Moreira, advogado e figura basilar da democracia portuguesa, que morreu em 2022, foi alvo de ameaças de morte.

"Continuo a receber muitas mensagens de ódio. Menos. Nesse tempo era tudo físico, entrava em casa. Atingia o meu património, a minha casa, a minha intimidade. Ameaçaram matar o meu pai, aí sim fiz queixa. Aí sim, tive um ataque de pânico porque deixou de ser comigo. O meu pai ficou absolutamente sossegado, foi à policia prestar declarações, porque assim foi obrigado. Achou que eu lhe causei um transtorno. Ficou deliciado a falar com o polícia, a explicar-lhe que o pai dele também era polícia. Ficou ali encantado, a falar com os polícias, e eu nervosíssima (risos)! Quando não é comigo eu fico muito mais nervosa do que quando é comigo", contou Isabel Moreira.