
A coligação Aliança Democrática (AD) foi a vencedora das eleições legislativas deste domingo com 32,7% dos votos, batendo o Partido Socialista, que obteve o terceiro pior resultado de sempre, com 23,4%, e o Chega, que teve um grande resultado, com 22,6%. Com este resultado, a AD assegura uma vitória clara, embora sem maioria absoluta, o que abre agora um período de negociações para a formação de um governo estável, algo pouco provável. Isto porque a Iniciativa Liberal, apesar de ter subido de votação, conseguiu 9 deputados que, juntamente com os 89 da AD, totaliza 98, ou seja, ficam a 18 dos 116 necessários para existir uma maioria absoluta. Faltam ainda apurar 4 deputados pelos ciclos de Europa e Fora da Europa, que deverão ser distribuídos por AD, CHEGA e PS. Falta saber se, com isso, o CHEGA conseguirá ultrapassar o PS em número de deputados, o que lhe valerá o estatuto de líder da oposição. Como consequência deste resultado desastroso, Pedro Nuno Santos demitiu-se da liderança do PS.
Ainda assim, os dois partidos daquilo a que foi chamado por Rui Tavares de direita democrática conseguem, juntos, mais deputados do que toda a esquerda junta. Ou seja, para chumbar um orçamento ou fazer cair o governo, a esquerda precisará sempre do apoio do CHEGA. Este cenário não se coloca no próximo ano, já que o Presidente da República não poderá dissolver o Parlamento nos últimos 6 meses do seu mandato, que já se terão iniciado aquando da votação do Orçamento do Estado, e o novo Presidente, eleito em 2026, não poderá dissolver a Assembleia da República nos seus primeiros seis meses de mandato.
Já eram quase 1 da manhã quando Luís Montenegro fez o discurso de vitória. "Quero saudar a minha família, pelo apoio, pela força e pela solidariedade. O povo falou e exerceu o seu poder soberano e aprovou um voto de confiança no governo, na AD e no primeiro-ministro", começou por dizer. "Todos devem saber colocar o interesse nacional acima de qualquer outro interesse. Os portugueses não querem mais eleições antecipadas. Querem uma legislatura de 4 anos e querem que todos respeitem a sua palavra livre e democrática. Às oposições caberá cumprir a vontade popular, honrando os seus compromissos".
A derrota socialista e da esquerda a toda a linha
O Partido Socialista sofreu a terceira maior derrota da sua história e o líder Pedro Nuno Santos assumiu a derrota e anunciou que irá abandonar a liderança. "Vou convocar eleições internas às quais não serei candidato", disse. Reconheceu ainda a noite negra, mas garantiu que não será ele, ou o PS, a viabilizar o governo de Luís Montenegro. “São tempos duros para a Esquerda. São tempos duros para o Partido Socialista. Nós não provocámos estas eleições, mas não as conseguimos ganhar. O povo falou com clareza e nós respeitamos a voz dos portugueses. Não me cabe ser o suporte deste governo e penso que esse papel não deve caber ao Partido Socialista.” Apesar da derrota, o PS teve mais 50 mil votos do que o CHEGA, mas poderá ficar com menos deputado. O resultado dependerá da eleição dos ciclos da Europa e Fora da Europa.
À direita, a Iniciativa Liberal alcançou 5,5% dos votos, assegurando um resultado que, embora abaixo das ambições traçadas no início da campanha, garante um grupo parlamentar com mais um deputado. “Estaremos disponíveis para as conversas que tivermos que ter nos próximos dias. Mas não vamos trair a confiança daqueles que hoje votaram em nós”, afirmou Rui Rocha, abrindo portas a entendimentos pontuais com a AD, sem compromissos duradouros.
À esquerda, o Livre destacou-se ao ficar em quinto lugar, com 4,2%, superando o Bloco de Esquerda e o PCP. Rui Tavares passou também de 4 para 6 deputados.
O Bloco de Esquerda (2,9%) e a CDU/PCP (2,8%) registaram perdas face a eleições anteriores. O Bloco passou de 5 para apenas 1 deputado (Mariana Mortágua), e caiu de 5.ª para 7.ª força política nacional. O resultado desastroso fez com que os números da CDU não parecessem tão maus. Os comunistas superaram o Bloco em número de votos e deputados, embora tenham passado de 4 para 3 parlamentares.
O PAN, com 1,4%, garantiu a manutenção da presença parlamentar de Inês de Sousa Real, algo que esteve tremido quase até à última hora.
A grande novidade da noite foi o Juntos Pelo Povo (JPP), que elegeu o seu primeiro deputado à Assembleia da República, beneficiando do bom resultado obtido na Madeira (0,3%). Bastaram pouco mais de 20 mil votos para conseguir um assento no Parlmaneto.
O Presidente da República deverá indigitar Luís Montenegro nos próximos dias, iniciando formalmente as conversações para um novo executivo. As eleições de 2025 abrem, assim, um novo ciclo político em Portugal, marcado pela necessidade de entendimento parlamentar e pelo reposicionamento de várias forças ideológicas num cenário cada vez mais polarizado.