Há 20 anos, um anúncio televisivo chamou-lhe à atenção. A TVI procurava novos talentos e, sem expectativas, decidiu arriscar. Por sorte, diz, de 20 mil candidatos, chegou aos 10 finalistas. No entanto, não por sorte, mas por mérito, hoje, continua por cá. Falámos com Diogo Martins, o "puto maravilha" que entretanto cresceu e que, aos 30 anos, conta com um dos currículos mais completos da ficção portuguesa.

À MAGG, explica como tudo começou, esclarece a realidade financeira de um ator em Portugal e descarta por completo a ideia de que "todos os atores são ricos". Afinal, considera-se um "privilegiado" pelo trabalho que tem, palavras suas, mas basta olhar para os últimos dois anos da sua carreira para perceber a velocidade alucinante com que integrou novos projetos.

O ator atualmente dá vida a Nuno Macedo, assistente de Renata Jones (interpretada por Rita Blanco), na novela da SIC "Por ti", e também ao futuro rei Afonso IV, na série da RTP1 "A Rainha e a Bastarda". No entanto, entre novelas, teatro e férias, Diogo Martins participou em mais de 9 produções só nos últimos dois anos. O que faz com que já não se lembre da última vez em que teve mais do que uma semana de férias, "fora de casa".

"Consegui entrar porque era criança e eles precisavam de uma criança"

Entrou no universo da representação por acaso, mas ficou por opção. Diogo Martins recorda o arranque da sua carreira e admite que o "timing" foi importante para hoje fazer o que faz. "Eu entrei numa fase em que os atores eram quase sempre os mesmos a fazer televisão. Porque não havia essas oportunidades e eu consegui entrar porque era uma criança e eles precisavam de uma criança. Mas era muito difícil e não havia castings tão regularmente", explica.

O ator de 30 anos — que se estreou aos 10 na novela da TVI  "Amanhecer", em 2002, e se tornou muito conhecido depois de fazer parte da primeira temporada de "Morangos com Açúcar" — explica que, entre os 10 e os 17 anos, não lha faltaram projetos. "Eram uns a seguir aos outros", conta, até ao dia em que deixaram de aparecer. Muito por conta de ser reconhecido apenas como uma criança.

"Dos 10 aos 17, tive sempre trabalho em televisão. Dos 18 aos 23, estive a fazer, apenas e só, teatro. Os projetos em televisão não apareceram, eu também não procurava – até porque, na altura, não estava agenciado. Mas a verdade é que não existiam papéis, porque eu estava ali num meio termo. Nem era adulto nem era adolescente, estava ali na fase de transição", conta. 

Diogo Martins regressou ao ecrã na novela "Coração d'Ouro", em 2015, onde dava vida a Leandro Silva. O ator confirma que, sim, esteve ausente da televisão por uns tempos, mas que nunca esteve parado. Ainda assim, admite que já se sentiu ‘esquecido’ pelo público, ainda que nunca de forma literal.

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"É tudo muito temporário. As pessoas estão habituadas ao que acontece no momento. Portanto, é raro o projeto televisivo ou teatral que faças que seja de tal forma marcante [que isso não aconteça], porque o mercado já está muito lotado. É lógico que antigamente os projetos marcavam mais, porque também eram muito menos. E as pessoas consumiam mais. Não havia redes sociais, era muito mais fácil as pessoas ligarem a televisão e ficarem a assistir a uma novela. Agora, a oferta é demasiada e, assim, é muito mais difícil marcar", avança.

"No entanto, eu não me estou a queixar, porque as pessoas sempre me reconheceram, neste caso pelo meu trabalho e não pela pessoa que eu sou. Muitas delas nem sabem o meu nome, conhecem a minha cara e reconhecem algum trabalho que eu fiz. Ainda hoje me reconhecem pelos ‘Morangos com Açúcar’ e foi há 18 anos", acrescenta.

"O dinheiro não é tudo"

Para se ser ator em Portugal, Diogo Martins esclarece que é preciso trabalhar muito, mas a recompensa monetária nem sempre é tão elevada quanto as pessoas assumem. Também por isso, não tem por hábito recusar projetos e tem vindo a aceitar trabalhos consecutivos, por vezes, com apenas um dia de intervalo.

O ator descarta a ideia, já enraizada na sociedade, de que "todos os atores são ricos" e garante: "não tem nada a ver". "Quando estamos a fazer muita televisão, ganhamos um ordenado que realmente é fora do comum. Mas a verdade é que temos muitos descontos para fazer e, no fundo, estamos sempre a pensar no amanhã", conta.

"Nunca sabemos se vamos ficar seis meses ou até um ano parados, assim que terminarmos um projeto, ou se por acaso vamos ter a sorte de ter trabalho imediatamente a seguir. Claro que a gestão do dinheiro é fundamental, mas a do tempo também". E é precisamente a segunda que Diogo Martins confessa ter de melhorar.

"Às vezes, queixo-me de não ter tempo, mas a verdade é que sou um afortunado por ter a sorte de estar sempre a trabalhar. Agora, sinto falta de descansar. Nem que seja um mês", diz.

"Nunca tive o privilégio de poder viajar muito, porque, como atores, temos de estar sempre aqui e temos de estar disponíveis. Mas é uma coisa que quero contrariar também, porque sinto que necessito mesmo disso", acrescenta, revelando que nem sempre é fácil conciliar horário com a namorada, a cantora, Aurea. O ator falou publicamente sobre a relação no "Alta Definição" do passado sábado, 12 de março. Em entrevista à MAGG, também não poupou elogios à namorada. Mas já lá vamos.

Diogo confessa que já não se recorda da última vez que teve uma semana de férias "fora". "Não me recordo. Consegui ir de férias, sem estar em casa, durante uma semana, há cerca de quase um ano. Mas, para trás, também não me recordo de ter muito mais do que isso", avança, com a garantia de que se trata de uma escolha sua, enquanto ator freelancer.

Diogo Martins explica que, ao contrário do que se julga, a maioria dos atores em Portugal trabalha sem contratos de exclusividade, com liberdade total para aceitar projetos em diversos canais. "No mercado todo, nem me arrisco a dizer que há 10 [atores com contrato de exclusividade]. São mesmo muito raros", revela.

"As produtoras e os canais também já perceberam que isso não viável, até porque nem sempre há trabalho. E, para um ator, acaba por ser bom porque não desgasta a imagem. Dá-te, sim, essa independência financeira, mas o dinheiro não é tudo", remata.

Para Diogo Martins, no caso, protagonizar projetos de que se orgulhe terá sempre primazia e, até à data, mostra-se satisfeito com os trabalhos que tem vindo a integrar. A produção "Até Que A Vida Nos Separe", que chegou a 198 países e foi a primeira a ser comprada pela Netflix, é um deles.

Diogo Martins revela-se feliz com a conquista, mas triste com (a falta de) reconhecimento nacional

A história ternurenta e um pouco espalhafatosa da RTP1 já está disponível na plataforma global da Netflix, legendada e dobrada em vários idiomas, desde 10 de fevereiro. No entanto, a notícia de que a série da RTP teria alcançado um feito inédito na ficção nacional chegou a 2 de fevereiro.

O ator explica que este alcance nunca foi o principal objetivo da produção, mas confessa que, já que aconteceu, é preciso reconhecer a dimensão do "marco histórico".

"Nunca trabalhámos para isso [chegar à Netflix], nem nunca pensámos nessa hipótese sequer, mas claro que é importante. É importante para mim, mas, acima de tudo, é importante para o nosso País. E tenho pena de que, de facto, a divulgação que foi dada, pela imprensa e pelos meios de comunicação, tenha sido tão pouca", diz.

"Marcámos definitivamente a história: fomos a primeira série em Portugal a ser vendida para tantos países. E isso é um marco tão bonito, que eu acho que devia ser mais falado. Temos de acreditar, acima de tudo, em nós e no talento que temos por cá. Até porque somos sempre os primeiros a duvidar e acreditar no que há lá fora", acrescenta.

Para Diogo Martins, trabalhar no estrangeiro nunca foi um objetivo. Não descarta a hipótese, diz, mas trabalhar em português é o que, neste momento, faz mais sentido.

"Nunca pensei nisso, na verdade, gosto muito de estar no meu País e de falar na minha língua. Acho até que é um desafio, porque a nossa língua é muito complicada. Claro que não temos noção, porque a falamos todos os dias, mas acaba por ser uma dificuldade acrescida para o ator. Representar em inglês ou até em português do Brasil é uma coisa muito mais natural. Parece que a coisa fica mais natural e é mais fácil", explica.

"Representar em português é aquilo que eu quero, no entanto nunca vou pôr de parte a oportunidade de trabalhar lá fora e de estar um tempo fora do País. Mas não é uma coisa com que me preocupe: se acontecer, aconteceu", remata.

Veste a pele de Afonso IV, na nova série da RTP1

Enquanto por cá trabalha, Diogo Martins garante que gosta de assistir aos projetos em que entra, principalmente às séries, que diz serem "o futuro" e aquilo que as pessoas se mostram mais disponíveis para acompanhar.

Atualmente, dá vida ao futuro rei Afonso IV, na série "A Rainha e a Bastarda", que estreou a 23 de fevereiro, na RTP1. Um dos projetos que mais o "pôs à prova" até hoje, garante. "É muito diferente, porque é um período histórico que nenhum de nós viveu, estamos a fazer uma suposta realidade, como base naquilo que idealizámos", diz.

"É difícil falares ‘àquela’ época, de uma forma tão natural como falamos atualmente. Acho que esse foi o maior desafio: tentarmos ser o mais naturais possíveis, com diálogos do século XIV.  E, claro, todo o trabalho físico que esteve envolvido. Ninguém sabia andar de cavalo, tivemos de aprender todos a andar de cavalo. Nunca tinha pegado numa espada e tive de ter aulas de esgrima, o que também foi complicado", acrescenta.

Diogo Martins explica que "A Rainha e a Bastarda" foi um dos projetos fisicamente mais exigentes que integrou até hoje, mas revela que todas as cenas íntimas, tanto em novela como em série, são difíceis de realizar.

"Tínhamos de nos beijar de verdade"

Atualmente, o ator dá também vida a Nuno Macedo, assistente de Renata (interpretada por Rita Blanco), na novela "Por ti", da SIC, em que vive uma paixão ardente com a alegada patroa, às escondidas de tudo e todos. À MAGG, explica que o facto de se tratar de uma relação "proibida", posta em "pausa" à frente de todos, faz com que, nos momentos a sós, as coisas tenham de ser muito mais intensas. Mas garante que tudo é mais fácil quando se trata de contracenar com Rita Blanco.

"As cenas íntimas obviamente que custam sempre. Para já, porque tens uma exposição muito maior e tens de ter um à vontade com uma pessoa com quem, às vezes, nunca estiveste. E isso é difícil. Mas depois apanhar a Rita vem alterar tudo isso. A Rita é das melhores atrizes com quem eu já trabalhei na vida, senão talvez a melhor, e isso torna tudo mais simples. A disponibilidade que ela tem é tão grande, que é impossível eu não estar disponível para, naquele momento, para fazer a cena com a maior verdade possível", avança.

“E foi exatamente sobre isso que falámos antes de fazer estas cenas. Foi: 'nós temos de nos beijar de verdade, temos de sentir o que estamos a fazer. Até porque o público não é parvo e vai perceber'", diz.

"E a relação destes dois [personagens] é muito engraçada. Perante todos, é uma relação meramente profissional, mas depois, quando se encontram sozinhos, acabam por se envolver. E isso pede uma intensidade maior. Quando não podem fazer algo e depois acontece quando estão só os dois, tem de ser mesmo muito mais intenso. E nós fazemos isso e a Rita é brilhante. Fosse sempre assim e tudo resultaria melhor", acrescenta. "Eu não olhei para a idade, não olhei para nada disso. Simplesmente fiz, tal como a Rita. E nem queríamos criar esse preconceito nas nossas cabeças, porque isso é só um preconceito. O amor não se define pela idade que tens: as pessoas gostam-se ou não"

"Nunca nos fazemos valer um do outro para sermos melhores"

Fora do ecrã, Diogo Martins não esconde o namoro com a cantora Aurea, mas só falou publicamente da relação no passado sábado, 12, em entrevista ao Daniel Oliveira, na SIC. À MAGG, recorda o momento e explica que, se não tivesse sido questionado, também não teria puxado o assunto.

"Na verdade, não fui eu que puxei o assunto. À partida, nunca seria eu. Agora, o Daniel também o fez com o máximo cuidado possível e houve ali uma insistência, que, a determinada altura, tive quase de dizer que ‘sim’. Mas não levei isso a mal, acho que é uma coisa natural. Nunca vou desmentir [a relação], mas é algo que só nos diz respeito a nós", explica.

"Não ando com ela por ela ter a exposição que tem, nem o contrário. Portanto, estamos juntos porque gostamos um do outro e acho que isso é mais importante do que qualquer outra opinião externa que tenham", acrescenta.

Quando questionado sobre a prestação da namorada na última edição do Festival da Canção, Diogo Martins não poupou elogios. "Gostei muito e acho que merecia um pouco mais. Mesmo que não ganhasse, acho que a votação do público foi uma questão assim meio estranha. Ela merecia mais enquanto artista, claro que sim", diz. "A música pode não ser a preferida de todas, mas artisticamente [a Aurea] é exímia. E quanto a isso não há dúvida nenhuma, é facilmente visto por aquilo que ela faz".

"Já gostava muito do trabalho dela [antes de namorarmos]. Nós conhecemo-nos há muito tempo, de circunstância, e depois o destino acabou por nos levar até aqui, bem mais tarde. Mas acho que ela é uma das melhores cantoras portuguesas", continua. "Não é por ela ser minha namorada, mas ela é brilhante. Para mim, representa facilmente um dos 10 melhores músicos em Portugal, pela voz e pelo talento que tem. E só isso já a torna bem mais visível".

Diogo Martins acredita que, em comparação, Aurea "tem muito mais exposição", mas garante que isso não o preocupa. "Eu quero é que ela seja o mais feliz possível e que brilhe, como é lógico. Tem mesmo muita qualidade".

No entanto, o ator frisa que cada um tem a sua carreira, totalmente independente da relação amorosa. "Nunca nos fazemos valer um do outro para sermos melhores, porque uma coisa não tem nada que ver com a outra. Ela tem o seu trabalho e eu tenho o meu", remata.