Está prestes a chegar à Netflix a segunda temporada de uma das séries portuguesas mais vistas dos últimos anos. "Rabo de Peixe", baseada numa história real que aconteceu na vila açoriana em 2001, regressa à plataforma de streaming já na sexta-feira, 17 de outubro, e promete mais ação, mais desespero, mais humor e mais lealdade entre o grupo de amigos composto pelos "rapexinhos". Protagonizado por José Condessa, André Leitão, Helena Caldeira e Rodrigo Tomás, não pode mesmo perder este novo capítulo.

José Condessa sobre 2ª temporada de "Rabo de Peixe". "É incrível. É muito emocional"
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A história passa-se três meses depois da primeira temporada, com Eduardo (José Condessa) a regressar da América sem que o seu sonho tenha sido realizado. No entanto, tudo em Rabo de Peixe mudou: a droga já não está com Uncle Joe (Pepe Rapazote), Rafael (Rodrigo Tomás) está morto - ou, como vimos a descobrir depois, apenas desaparecido -, Sílvia (Helena Caldeira) está grávida e Carlinhos (André Leitão) está prestes a entrar num buraco sem fim. A amizade do grupo vai ser posta à prova cena após cena, e a verdade é que o espectador não sabe até que ponto vai durar.

Nesta nova temporada também aparecem novas personagens, nomeadamente inesperados inimigos que prometem fazer a vida negra não só aos "rapexinhos" como também à Polícia Judiciária, que é novamente composta pela Inspetora Frias (Maria João Bastos), Francisco (Salvador Martinha), Banha (João Pedro Vaz) e muitos outros. Além do já conhecido italiano Monti (Francesco Acquaroli), agora o espectador também fica a conhecer Offelia (Paolla Oliveira), a mulher brasileira dona de toda a droga que deu à costa na primeira temporada. Por isso, sim, tem muito que explorar nesta nova temporada. 

"Acho que nós temos muito orgulho naquilo que fizemos, e acho que nos lembramos muito do início da primeira temporada, em que havia uma grande dúvida de se seríamos capazes. Tínhamos esse peso às costas desde o início e acho que soubemos não tremer das pernas quando foi preciso entregar alguma coisa de qualidade. Não desviámos a cara e fomos em frente. Tentámos entregar alguma coisa diferente, melhor e que crescesse também. E acredito naquilo que o Augusto está sempre a dizer: nós somos capazes de fazer ainda melhor. É um orgulho gigante fazer parte de uma série que muda o panorama da ficção em nacional", disse José Condessa à MAGG.

Quem são as personagens por dentro: a evolução e a fragilidade

RABO DE PEIXE. Helena Caldeira as Sílvia, Rodrigo Tomás as Rafael, José Condessa as Eduardo in episode 05 of RABO DE PEIXE. Cr. Paulo Goulart/Netflix © 2024 créditos: Netflix

Na segunda-feira, 13 de outubro, a MAGG teve a oportunidade de conversar com o elenco da segunda temporada (e o criador da série) sobre o que aí vem, e a verdade é que não só existe alguma evolução em várias personagens como também um semblante mais pesado em todas elas. "Foi muito bonita esta mudança do Eduardo. Há um Eduardo quase ingénuo na primeira temporada, a acreditar que é possível seguir os sonhos sem magoar ninguém, mas vai vendo que isso é impossível e acaba por voltar a Rabo de Peixe sozinho, sem família, com os amigos cada um para o seu lado, sem a cadela. E não tem casa. Ou seja, ele não tem nada. Ele não só não atingiu o sonho, como perdeu tudo o que tinha", explicou José Condessa à MAGG.

"Ainda assim, acho que é uma personagem que ganha muito em dimensão de ‘sangue na guelra’, como eu costumo dizer. Torna-se um sobrevivente. Os sonhos continuam lá, só que já não olha a meios para atingir os fins", acrescentou. Já Helena Caldeira acredita que a responsabilidade de interpretar Sílvia continua a mesma, apesar de nesta segunda temporada estar grávida e ter perdido o pai, Arruda (Albano Jerónimo). "Tentei fazer o meu trabalho o melhor que consegui, sabendo que tinha que explorar outras zonas diferentes da Sílvia, que não tinha explorado antes, e acho que nós fizemos isso todos juntos", disse.

"Apesar de, de repente, a Sílvia ter aquele negócio, nós continuamos, e mesmo com as divergências que foram surgindo entre as personagens, porque estamos numa temporada em que os conflitos inevitavelmente surgem, unidos. Então, ok, ela está a levar o barco, mas não está a levar o barco sozinha", explicou também. Ao lado dela, e além de Eduardo, estão então Carlinhos e Rafael, um cujo futuro está a ir por água abaixo e outro cujo passado já se afogou completamente. No entanto, uma coisa é certa: são duas personagens que trazem muita leveza e sentido de humor à história, algo que os atores importaram das suas próprias características.

"Eu dei [ao Rafael] a minha gargalhada mais malandra. É uma que, quando às vezes me sai num jantar de família, a minha avó chama-me à parte e diz: ‘Rodrigo, não te rias assim.’ Ela diz: ‘Rodrigo, está quase tudo certo. Está quase tudo certo. Aquela gargalhada que tu mandas, não.’ E, portanto, olha, emprestei essa gargalhada", disse Rodrigo Tomás. "Eu diria que dei esta relação, um bocadinho transcendente, com a música, que torna qualquer pessoa muito mais sensível. Acho que qualquer pessoa que esteja relacionada com a música de alguma forma revela muito sobre o espírito dela", acrescentou André Leitão.

Já Kelly Bailey teve de reinventar a sua Bruna para a segunda temporada, uma vez que a personagem mudou radicalmente de estilo de vida. "Voltar a esta personagem e estar numa zona tão diferente é difícil, ajudava muito mais a voltar ao grupo. Era muito fácil encontrar a Bruna estando com o grupo, inclusivamente com a personagem do Ian, o Afonso Pimentel, as festas e tudo aquilo que nós passámos. E para mim, o grande desafio foi: nada disso existe nesta nova temporada, mas a Bruna tem que estar lá, e acho que há uma mensagem também importante desta personagem nesta temporada, que é a tentativa de deixar, de fugir muito deste grupo. Era o seu grande objetivo", disse.

No outro lado da barricada está então Maria João Bastos, a Inspetora Frias que, como o apelido indica, é uma pessoa com um semblante mais pesado e carregado e que assim continua nesta nova temporada. "A minha personagem é uma mulher muito determinada e forte. Chega aqui a esta segunda temporada a tentar adaptar-se um bocadinho, trazendo a aprendizagem da primeira. Ela era muito dura e percebeu que assim não chegava a bom porto. Mas, nesta temporada, tem ali um elo que lhe vai amolecer o coração, trazendo alguma fragilidade: a relação com a filha", explicou a atriz portuguesa. Esta filha, Mariana, é interpretada por Madalena Aragão.

"Ela tem um passado muito marcante que faz dela essa pessoa mais prática, mais fria, mais aparentemente insensível. Ela não tem muito jeito para relações, tem uma relação com o álcool que está ali presente de forma discreta, mas que faz parte do passado dela. Tem uma relação complicada com o ex-marido, com as filhas e, portanto, tudo isso faz com que seja muito dedicada ao trabalho. E depois tem outra questão: estamos a falar de 2001, numa altura em que na Polícia Judiciária não havia muitas mulheres. Ela tem de lidar com o machismo dentro da polícia. Há ali uma luta constante para conseguir fazer o trabalho dela, e essa luta acaba por ser o calcanhar de Aquiles dela", acrescentou.

Por último, a MAGG teve ainda a oportunidade de falar com Paolla Oliveira, que, depois de quase 20 anos vinculada à TV Globo, decidiu sair e explorar novos horizontes - horizontes esses que a levaram até "Rabo de Peixe", uma experiência que garante ter sido muito bonita. "Sou conhecida cá [em Portugal] pelas novelas, pela TV Globo, então fico muito feliz que o meu barco tenha parado aqui neste projeto maravilhoso, fazendo uma participação e bagunçando um pouquinho a vida da galera", disse. "Esta segunda temporada fala sobre de quem é a cocaína que bagunçou a vida de todo mundo, e aí aparece a minha personagem maravilhosa".

Por trás das câmeras: a continuação e os Açores com protagonista

RABO DE PEIXE. Ana Aleixo Lopes as REPORTER TV 21.27v + 24.51V, Rodrigo Tomás as Rafael in episode 02 of RABO DE PEIXE. Cr. Paulo Goulart/Netflix © 2024 créditos: Netflix

Mas a força de "Rabo de Peixe" não está apenas na evolução das personagens, porque sim, os atores sentiram mesmo a pressão de tentar evoluir nesta segunda temporada para não estagnar. Para André Leitão, o fator-chave foi o facto de os argumentistas terem conseguido "arranjar soluções muito interessantes e cativantes para a continuação desta história", uma vez que esta já estava bem construída e entranhada no público. "Acho que era o mais difícil, porque era: ‘o que é que vamos descrever depois disto? Como é que vão estar estas personagens?’. E acho que os argumentistas encontraram o equilíbrio perfeito para conseguir repescar a identidade destas pessoas, sempre com mais aventura, com mais dilemas morais, colocando as personagens em zonas diferentes e inesperadas", disse.

Mas não é por ser uma nova temporada que a dinâmica da amizade muda. Apesar dos altos e baixos ao longo dos episódios, a verdade é que só uma coisa é certa em "Rabo de Peixe": a amizade é um dos temas mais centrais desta produção. "Um dos temas é a amizade, a ideia de quanto amor há entre um grupo de amigos, que é algo importante para mim e que quisemos mostrar muito na série. Tentámos que assim fosse, e os amigos são muito importantes para eles todos", disse Augusto Fraga, o criador da série, à MAGG.

No entanto, outro dos temas centrais vai muito além das relações humanas: é uma reflexão sobre as desigualdades sociais que marcam a realidade. "'Rabo de Peixe' é sobre luta de classes, a ideia de por que é que uns nascem com tudo e outros nascem com tão pouco. Porque nós podemos nascer numa rua e, do outro lado, alguém ter muito menos que nós, e mais à frente alguém ter muito mais, e parece que isso tem a ver com mérito. Esta série é um exercício sobre se tem só a ver com mérito ou também com as condições que tens à partida, porque nem todos começamos na mesma linha. E depois há uma certa ironia: o destino não é justo, a vida não é justa. Às vezes é injusta e irónica contigo", disse.

E se o argumento e as personagens são o coração da série, os Açores continuam a ser, sem dúvida, a sua alma. “Eu acho que os Açores são um milagre. São ilhas lindas de morrer, marcadas pelo dramatismo da paisagem e da meteorologia. Os vulcões versus o mar, as tempestades que contrastam com dias de sol. Isso define as personagens, e nós tentamos usar as ilhas como metáfora da forma como elas vivem e reagem às coisas. O norte é mais forte, mais dramático do que o sul, e isso marca a personalidade deles, do Eduardo em particular. Tentamos usar isso como metáfora, mais do que outra coisa", explicou Augusto Fraga. Mas, claro, sem nunca deixar o humor de lado.

"Aquilo que é um evento dramático hoje, se tu olhas de fora, é comédia de alguma forma. E eu penso que a comédia é uma maneira muito intensa, muito profunda de transmitir sentimentos dolorosos. Estas personagens, em geral, reagem às coisas de forma muito humana, em que o mundo está a desabar e, no meio disso, o Rafael tem um comentário, ou o Ian tem um comentário que desmonta o que está a acontecer. Há ali um otimismo que tem a ver com o espírito que quisemos trazer para a série: está tudo a correr mal, mas há sempre alguém que tem um lugar para uma pequena piada, para fazer um comentário. E depois há comédia na situação e eles não sabem como gerir, porque não são traficantes, não são assassinos", disse o criador.

A terceira temporada: o que vem aí

RABO DE PEIXE. Maria João Bastos as Inspectora, Rafael Morais as Morcela in episode 03 of RABO DE PEIXE. Cr. Paulo Goulart/Netflix © 2024 créditos: Netflix

Quando se soube que a segunda temporada ia começar a ser produzida, rapidamente se soube também que "Rabo de Peixe" ia renovar para uma terceira, e as datas de lançamento ficaram ambas previstas para 2025. No entanto, uma vez que a segunda temporada será apenas lançada neste mês de outubro, não há qualquer previsão para a data da terceira, ainda que a Netflix não tenha anunciado que existiu qualquer alteração no ano de lançamento - ou seja, é possível que ainda saia até ao final do ano.

José Condessa e Augusto Fraga também não souberam responder, mas garantiram uma coisa: a terceira temporada vai ser "uma mudança muito grande". "Eu acho que é uma reinvenção. Ou seja, continuamos a não chover no molhado, e isso é bom. Tenho pena das pessoas que vão acabar de ver a segunda temporada e não ter mais nada", disse o ator. "Sim, a terceira temporada é uma mudança enorme, mas não existe a terceira sem a segunda. A segunda  vai marcar um caminho que, quando chegarem ao fim, vai deixar uma suspensão: o que é que vai acontecer a seguir?", rematou o criador.