Donald Sutherland morreu aos 88 anos, vítima de doença prolongada. Foi o filho, o também ator Kiefer Sutherland, que deu a notícia esta quinta-feira, 20 de junho, nas redes sociais. “É com o coração pesado que vos digo que o meu pai, Donald Sutherland, morreu. Pessoalmente, acho que foi um dos mais importantes atores da história do cinema”, escreveu, acrescentando que este “nunca se deixou intimidar por um papel bom, mau ou feio”. “Amava o que fazia e fazia o que amava, e ninguém pode pedir mais do que isso. Uma vida bem vivida”, continuou.
O ator, nascido no Canadá, teve uma carreira de seis décadas e desempenhou papéis nos mais variados géneros, desde dramas a thrillers, passando pela ficção científica. Estreou-se no cinema em 1964 com “Terror no Castelo dos Mortos-Vivos”, mas foi com “12 Indomáveis Patifes” que deu nas vistas três anos depois.
Posteriormente, integrou o elenco de mais de 150 filmes, como “M.A.S.H.”, “A Invasão dos Violadores”, “Gente Vulgar”, “Buffy, Caçadora de Vampiros”, e, mais recentemente, na saga “The Hunger Games - Os Jogos da Fome”. Eis cinco coisas que não sabia sobre Donald Sutherland.
1. Donald Sutherland teve uma experiência de quase-morte
Numa entrevista ao “The Guardian”, o ator revelou que morreu por pouco tempo na Jugoslávia em 1968. Donald Sutherland explicou à “Smithsonian Magazine” que contraiu meningite bacteriana no rio Danúbio, enquanto filmava “Heróis por Conta Própria”, que o levou a entrar em coma.
“Atrás do meu ombro direito, vi o meu corpo em coma deslizar pacificamente por um túnel azul. Esse mesmo túnel azul de que os quase mortos falam sempre. Uma viagem tão tentadora. Tão serena. Tudo ia correr bem”, recordou.
“E então, quando eu estava a segundos de sucumbir às seduções daquela luz branca e fosca que brilhava puramente no que parecia ser o fundo do túnel, uma força primordial agarrou ferozmente os meus pés e obrigou-os a cravar os calcanhares. A viagem para baixo abrandou e parou”, contou.
Depois disso, o ator foi levado de avião para o Hospital Charing Cross, em Inglaterra, onde esteve a recuperar durante seis semanas. Depois, voltou às filmagens. “Tinha recuperado. Mais ou menos”, continuou. “Conseguia andar e falar, mas o meu cérebro estava verdadeiramente frito. As camadas infetadas das minhas meninges tinham-nas apertado de tal forma que já não funcionavam de uma forma familiar”, disse na altura.
2. Em vez de ator, poderia ter sido escultor
Donald Sutherland tinha outra paixão, que quase perseguiu: a escultura. Segundo a “Rolling Stone”, este era um dos artistas da família e um escultor ávido. Contudo, sabia que este não era o seu caminho. “Eu sabia que nunca poderia ser um escultor. Precisava de resposta, precisava de um público... O meu irmão era poeta e podia fazer coisas em privado”, começou por explicar.
“Mas eu, eu precisava do teatro. Ainda me lembro de me debater com a ideia do que fazer, e acabei por ir ao cinema uma tarde – nem sequer sabia o que estava a passar. Mas os créditos começaram e era 'A Estrada', de Fellini. Pensei: ‘meu Deus, isto é fantástico’”, disse. Donald Sutherland acabou mesmo por trabalhar mais tarde com Fellini em “Casanova”.
3. Donald Sutherland não conhecia a saga “The Hunger Games”
Muitos conhecem Donald Sutherland pelo seu papel exímio em “The Hunger Games”, onde interpretou o Presidente Snow desde 2013.
Curiosamente, o ator não conhecia os livros antes de participar nos filmes, mas quando conheceu a história ficou bastante impressionado. “O meu agente envia-me estas coisas, porque tenho 80 anos e ainda gosto de saber o que se passa”, disse. “Eu nem sequer tinha ouvido falar dos livros, mas tornou-se evidente para mim que se tratava de algo especial. Foi a primeira coisa que li em anos que poderia tornar-se um estímulo político criativo para os jovens”, contou ao “The Telegraph”.
Donald Sutherland afirmou ao “The Guardian” que a mensagem política de desigualdade destes filmes deveria inspirar o público a mudar. “O filme apenas expõe as coisas à luz do dia e permite-nos olhar para elas. E se retirarem dele o que espero que retirem, fará com que pensem um pouco mais sobre o ambiente político em que vivem e não sejam complacentes”, referiu.
4. As alterações climáticas preocupavam bastante o ator
Além do seu trabalho enquanto ator, o ativismo político de Donals Sutherland era bastante evidente, sendo anti-guerra e tendo trabalhado ao lado da atriz e ativista Jane Fonda para defender os esforços anti-guerra. Além disso, também fez campanha por Barack Obama, segundo a "The List".
Contudo, numa entrevista à “Reader’s Digest”, o ator revelou que considerava as alterações climáticas e a crise ambiental as questões políticas mais importantes. “Vou dizê-lo três vezes: clima, clima, clima”, disse. “Apercebi-me disso há 20 anos. Comecei a ver alforrecas onde nunca tinham estado antes. E nas Caraíbas, quando a temperatura da água aumenta apenas um grau, isso é enorme, porque os furacões alimentam-se de água quente. E agora eles têm um presidente nos Estados Unidos que não acredita em... nem vale a pena”, atirou.
Além disso, Donald Sutherland utilizou o Festival de Cinema de San Sebastian, no País Basco, para alertar sobre a urgência de as pessoas se concentrarem na forma como o planeta está a mudar. “Tenho filhos, tenho netos, e o mundo que lhes deixei, e que lhes vou deixar, não é aquele em que eles vão poder viver”, reforçou.
5. Donald Sutherland admirava bastante duas atrizes
Durante a sua longa carreira, Donald Sutherland trabalhou com bastantes atores e realizadores, nomeadamente com Helen Mirren. Durante uma entrevista à “Reader’s Digest”, o ator revelou que a atriz de “A Mentira Perfeita” foi uma das pessoas que o impressionaram seriamente, considerando-a “extraordinária”.
“Trabalhei com duas mulheres que, mais do que qualquer outras, me impressionaram: Helen Mirren e Jennifer Lawrence. A inteligência, a sagacidade e a capacidade que estas duas têm são de cortar a respiração. Adoro a Helen em todos os aspetos, na forma como se comporta numa conferência de imprensa ou numa entrevista. Tudo o que diz respeito a este negócio, a Helen faz na perfeição”, disse.
Ao “The Telegraph”, o ator também elogiou Jennifer Lawrence. “Ela é um sistema de entrega da verdade. Ela é o papel de cigarro que segura o tabaco no cigarro”, referiu.