A morte de Jorge Costa na terça-feira, 5 de agosto, vítima de uma paragem cardiorrespiratória depois de se ter sentido mal no centro de estágio do FC Porto, deixou um vazio profundo no futebol português. Conhecido como "o Bicho", o antigo defesa-central foi, pelos comentários dos jogadores que prestaram homenagem, mais do que um atleta talentoso, e sim um líder nato e carismático. Capitão durante anos, era visto como o dono do balneário, e foi precisamente nesse espaço que conheceu José Mourinho, que não conseguiu aguentar as lágrimas ao falar do seu amigo. 

Jorge Costa morreu aos 53 anos. Ex-jogador do Porto tinha sido levado para o hospital em estado muito grave
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“É parte da minha história que se vai”, começou por dizer o treinador do Fenerbahçe. “Temos capitães e temos líderes, e às vezes não é sobre a braçadeira e sim sobre o que representas. O Jorge era um desses rapazes que limpava o ‘lixo’ e deixava o treinador fazer o seu trabalho como treinador, e não como um líder do balneário. Isso é a perfeição para um treinador, quando o seu capitão faz este trabalho. Estou muito triste, é parte da minha história que se vai, mas vamos esquecer o futebol”, disse também. 

“Vamos focarmo-nos nele, nos filhos dele, que eu conheci quando eram pequenos. E sim, estou muito triste, mas eu sei que se ele pudesse falar comigo agora ele iria dizer-me ‘vamos lá, faz a tua conferência de imprensa’ e iria dizer ‘amanhã, joga o jogo, treinador, e ganha, esquece-me por agora’. Esse seria o Jorge, então é isso que eu vou tentar fazer. Vou fazer o meu trabalho hoje, o meu trabalho amanhã, e choro depois”, rematou José Mourinho. 

Os dois conheceram-se em janeiro de 2002, quando o “Special One” foi escolhido para substituir, na altura, o treinador do FC Porto. Jorge Costa foi um dos seus jogadores-chave durante as épocas que ficou no clube azul e branco, e os dois conseguiram estabelecer uma ligação como nenhuma outra entre treinador e capitão. Juntos, venceram dois campeonatos de Portugal (2003 e 2004), uma Taça de Portugal (2003), uma Liga Europa (2003) e uma Liga dos Campeões (2004), e Jorge Costa tornou-se, assim, numa das figuras centrais da história moderna do FC Porto.

E foi logo desde o primeiro momento que José Mourinho soube que podia contar com o ex-jogador para manter a equipa unida, para gerir tensões e para ser a extensão do treinador dentro de campo. Um dos episódios que, inclusive, melhor ilustra essa ligação aconteceu num jogo contra o Belenenses, no Estádio do Restelo, de que o treinador falou numa entrevista em 2019. Jorge Costa pediu a José Mourinho para não entrar no balneário e para o deixar falar com a equipa ao intervalo, depois de estarem a perder por duas bolas a zero, e acabou por fazer o tal “limpar de lixo” que José Mourinho falou na conferência. 

“Tive capitães que não eram líderes. Tive um no FC Porto, o Jorge Costa, que, num jogo com o Belenenses, que perdíamos 0-2 ao intervalo, me disse 'espera dois minutos fora do balneário, por favor'. Eu estava furioso e os jogadores podiam ver-me a fumegar. O Jorge entrou no balneário, fechou a porta e fez o trabalho sujo por mim. Depois, abriu a porta e disse 'dê-nos instruções'. Ele fez tudo o que eu faria. Ganhámos 3-2. Há os capitães e há os líderes, e os líderes não se compram nem se formam”, recordou o treinador, citado pela "A Bola".