Aos 33 anos, Sara Sampaio é um nome que dispensa apresentações – tanto dentro como fora de Portugal –, mas cada projeto que abraça parece reescrever a forma como nos relacionamos com o seu talento e versatilidade. A manequim portuguesa, que tomou o mundo da moda de assalto, tendo sido um dos rostos mais conhecidos da Victoria’s Secret, está a explorar novos territórios, que vão do universo da beleza aos grandes ecrãs.

Em outubro, um projeto no qual trabalhou com a Kiko Milano viu, finalmente, a luz do dia. Falamos das Dazzling Eyeshadow Palletes, o trio de paletas de sombras assinado pela manequim, de cuja campanha foi rosto, tendo sido também uma criadora ativa na mesma, visto que procurou imprimir o seu ADN nas criações, graças ao seu envolvimento na escolha das cores de cada um dos produtos ou no design das embalagens.

A parceria com a marca italiana, conhecida pela qualidade e acessibilidade dos produtos, foi levada a cabo com uma intenção clara: trazer autenticidade e simplicidade ao universo da maquilhagem, prometendo ser indispensável para o dia-a-dia de quem as utilizar. O resultado? Três paletas diferentes, cada uma com cinco tons diferentes, que pendem entre os mattes e os brihos, com preços que se fixam nos 26,99€.

Foi no âmbito desta colaboração especial (e a convite da insígnia) que a MAGG a entrevistou, mas a conversa não se ficou por aqui. A modelo falou abertamente sobre a importância de uma rotina de pele simples e eficaz e, acima de tudo, de ouvir o corpo e a mente, refletindo uma abordagem que não podia ser mais pragmática – especialmente numa era em que está a fazer de tudo para pôr a saúde mental em primeiro lugar.

É por isso que, embora a conheçamos pelo trabalho que fez em cima das passerelles, é na representação que Sara Sampaio parece estar a encontrar o seu eu mais verdadeiro e feliz. Este sempre foi o seu sonho, um objetivo que ficou em suspenso durante os anos dourados na moda. Agora, com aulas regulares e novos projetos no cinema, como o facto de ter sido escolhida para interpretar Eve Teschmacher em "Superman: Legacy", está finalmente a dar corpo e alma ao desejo de uma vida.

Leia a entrevista

A Sara já trabalhou com várias marcas. Como é que surgiu esta oportunidade de se aliar à Kiko Milano?
Eles contactaram os meus agentes, já há muito tempo estavam interessados em trabalhar comigo, mas, na altura, a coisa certa nunca apareceu. Desta vez, contactaram porque queriam fazer esta colaboração e eu achei que era uma proposta engraçada e pronto, foi assim que surgiu.

Em que moldes é que esteve envolvida na criação das paletas? É que temos aqui algumas propostas diferentes em termos de cores, mas todas com o mesmo mood, que é fazer looks mais arrojados.
Estive envolvida na criação das cores e dos metálicos e até das embalagens. Eles mostraram-me certas imagens, que obviamente tinham que ir ao encontro da imagem da Kiko. E foi isso praticamente – escolher as minhas cores favoritas e criar aquelas paletas que tivessem um bocadinho do meu ADN, não é?

E por que razão quis criar paletas? É algo que usa muito na sua rotina de maquilhagem?
Sim, se repararem, sempre que faço red carpets, gosto muito de dar intensidade aos meus olhos e gosto muito de brincar. As cores que eu geralmente uso mais estão à volta dos rosas e dos castanhos, mas, de vez em quando, gosto de usar azuis e até verdes. Acho que uma maneira muito engraçada de elevar a maquilhagem é dar intensidade ao olhar. Então eu achei giro pôr as minhas cores favoritas todas em paletas – e que fossem fáceis de transportar também.

E o que é que gostaria que o público retirasse desta colaboração? De que forma gostaria que as paletas fizessem parte da rotina de quem as usa?
Eu gostava que as paletas fossem um staple [básico, em português] do dia-a-dia das pessoas e também que elas se divertissem com as cores, experimentassem looks novos. Acho que conseguimos, acho que a consistência do produto é muito bom, espalha-se bem e pronto, o objetivo é que comece a ser um staple na maquilhagem das mulheres no dia-a-dia.

Dizia que as sombras se espalham bem. Nesse sentido, sente que estas paletas também podem ser usadas por iniciantes que queiram aventurar-se no mundo das sombras?
Acho que sim, porque, para ser sincera, eu também não tenho o maior talento no que toca a maquilhagem. Eu tenho muitas vezes pessoas a fazerem maquilhagem que são profissionais da área e, quando faço a mim própria, também não sou pro nenhuma e estas paletas realmente são muito beginner friendly [indicadas para iniciantes, diga-se].

Uma vez que diz não ter o maior jeito para a maquilhagem, houve algum truque de beleza que tenha aprendido ao trabalhar com a Kiko?
Não necessariamente, não que me consiga lembrar. Mas eu acho que o que eu mais aprendi sobre maquilhagem tem sido mais através de trabalho ao longo da minha carreira, não é? E para mim é sempre less is more [menos é mais, em português].

Dizia que menos é mais. Tendo em conta que o mundo da beleza está a experienciar polos completamente opostos, porque de um lado temos, por exemplo, a Clean Girl Aesthetic e do outro temos a tendência "Brat", quais é que são as tendências que a deixam mais entusiasmada?
Eu sempre gostei mais do Clean Girl Aesthetic. Para mim, a maquilhagem deveria enaltecer a tua beleza e não esconder, não é? Mas eu acho que a maquilhagem também é uma forma de expressão. Por isso é o que acho que as tendências às vezes não importam muito – é aquilo que te faz feliz, é aquilo com que te sentes melhor. É a única coisa que importa.

Sendo a Sara modelo e, agora, também cada vez mais presente no cinema, indústrias em que a imagem é obviamente muito importante, que cuidados de beleza é que são completamente imprescindíveis? 
Eu acho que é muito importante ter um sérum e um creme bons. Para mim é muito importante não ter fragrâncias e eu tenho uma pele muito sensível e por isso preciso...

De coisas mais neutras?
Exato, produtos mais neutros, mas que sejam bons e que realmente hidratem a pele. Beber água, evitar tudo que seja açúcar refinado e depois faço outras coisas, como máscaras da pele, vou à minha facialist todos os meses – ela limpa os meus poros e faz alguns lasers. E à medida que vamos ficando mais velhos é preciso outros tipos de cuidados, mas eu tento sempre fazer coisas mais simples, porque a minha pele é muito sensível.

"Durante muito tempo na minha carreira, fazia trabalhos que não me davam prazer"

É curioso ter falado em envelhecimento. Já sente o peso da idade?
Um bocadinho. Já se começam a notar umas rugazitas aqui e ali, mas não me chateia muito, acho que faz parte da vida e pronto, é o que é (risos).

A Sara está cada vez mais presente no cinema e, ao mesmo tempo, um bocadinho mais distante das passerelles. Não é onde quer estar atualmente?
Não muito. Neste momento, estou-me a dedicar mais à representação e é o que realmente me faz feliz. Obviamente que faço coisas de moda, mas que façam sentido e acima de tudo que eu goste de fazer. Eu acho que, durante muito tempo na minha carreira, fazia trabalhos que não me davam prazer e acho que estou numa altura em que estou a tomar mais conta da minha parte mental, que é realmente divertir-me a fazer estes trabalhos e pronto. Não quer dizer que nunca vá fazer passerelles no futuro, se a coisa certa aparecer, mas, neste momento, não é onde me estou a focar.

No nosso percurso, quando estamos a crescer, tendemos a focar-nos mais na parte profissional do que na nossa saúde mental. A longo prazo, isso acaba por refletir-se no nosso desempenho. É por isso que, neste momento, está mais focada do que nunca no seu bem-estar?
Exato! E eu sei que sou muito privilegiada no facto de poder ainda fazer isso, não é? Poder dar prioridade à minha felicidade e à minha saúde mental. Foi uma decisão que eu fiz há uns tempos e que, para já, tem corrido bem. E eu acho que, quando nós realmente começamos a dedicar àquilo que realmente nos faz feliz, as coisas se começam a assentar bem na vida.

As novas paletas de sombras da Kiko são icríveis (e já pode ter o olhar de Sara Sampaio)
As novas paletas de sombras da Kiko são icríveis (e já pode ter o olhar de Sara Sampaio)
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Afinal, o mundo da moda também não é um mar de rosas como muitas pessoas que estão de fora pensam?
Nem é tão por isso, é mais por estar a fazer uma coisa que nunca tinha sido o meu sonho.

Então, o seu sonho já passava por ser atriz? Já tinha tido curiosidade em relação à área? 
Exato. Esse tinha sido sempre o meu objetivo e depois a moda apareceu assim do nada. Eu agarrei a oportunidade e não estaria onde estou se não fosse por isso, mas não era o meu sonho desde que eu era pequena. Sempre quis ser atriz, sempre gostei de representar na escola e, na altura, quando foi para ir para a universidade, queria ir para o conservatório estudar representação, mas depois acabei por estudar outra coisa com mais futuro, não é? Como dizem os pais (risos). Quando concorri ao Cabelo Pantene, até tinha sido para ver se conseguiria entrar para a parte de representação. Mas pronto, a moda lá aconteceu e correu super bem e não poderia estar a fazer o que estou a fazer agora se não tivesse sido por esse percurso.

E entretanto, agora que está cada vez mais ligada ao cinema, investiu em formação? Foi uma coisa importante para si?
Sim, sim. Eu ainda agora tenho aulas e faço muitas aulas de sotaque, tenho muitas aulas de representação todas as semanas, tenho audições. Foi uma coisa que eu sempre quis e, como tudo a que eu me dedico, quero fazer as coisas bem e não quero só estar à espera por ser uma cara laroca, quero ter longevidade na carreira. Então acho que a formação é importante e acho que nunca acaba. Estás sempre a aprender e a mim dá muito prazer estar em aulas e representar. Sinto-me muito feliz [a concretizar este sonho], sinto que finalmente estou a fazer aquilo que sempre quis fazer. Então, é continuar.

silence sara sampaio
silence sara sampaio créditos: Instagram

Entretanto, também esteve cá em Portugal no Tribeca Film Festival, porque foi à estreia do "Silence", que é mais um dos projetos que vai integrar. Como é que foi trabalhar com outro nome português, que é o Francisco Froes?
Nós tínhamos filmado essa curta em 2019 – já foi há bastante tempo. Na altura, eu lembro-me de que o Francisco estava a fazer uma série que ele escreveu com o Tiago Felizardo e ele perguntou-me se eu queria ter um pequeno papel, só que na altura não consegui lá estar e depois até a fui eu que lhe disse: 'Olha, se tiveres outras coisas, eu estou disponível até para ter essa oportunidade de começar esse bichinho da representação'. E pronto, foi por isso que ele depois surgiu com esta curta, apresentou-me, eu gostei bastante, filmámos e finalmente cinco, seis anos depois conseguimos apresentar o filme. Mas foi muito giro, eu já conhecia o Francisco há bastante tempo e ele tornou-se um grande amigo.

Entretanto, também vai fazer parte do próximo filme da saga "Super-Homem". Como é que foi aceitar esse projeto?
Aceitar foi fácil, não é? (risos) Quando soube que tinha sido escolhida, fiquei muito feliz e as filmagens foram incríveis, o elenco é mesmo fantástico, não há dúvida nenhuma. Toda a gente estava mesmo lá porque sabíamos que estávamos a fazer uma coisa muito especial e o James Gunn é incrível, é super divertido e sabe o que está a fazer. E ele é mesmo fã de comic books, então não havia pessoa mais certa para fazer este remake do Super-Homem do que ele.

E não ficou nervosa? Afinal, é o Super-Homem. Não é qualquer super herói – é o super-herói dos super-heróis.
Sim, acho que estava um bocadinho nervosa, mas como há muita preparação antes de realmente começarmos a gravar, começa a acalmar. Não fico assim tão nervosa porque fui, assim, devagarinho e como há muita preparação até ao primeiro dia de filmagens, ajudou a que esses nervos se fossem acalmando.

sara sampaio
sara sampaio Sara Sampaio com o elenco. créditos: Instagram

Entretanto, também esteve no Rock in Rio a promover a Phunk [marca de hard seltzer da qual é sócia e sobre a qual já tinha falado com a MAGG]. Como está a correr o negócio? Há novidades?
Está a correr tudo bem. Nós agora estamos a tentar expandir – entrámos agora na Grécia. E é continuar este trabalho devagarinho, mas já nos tornámos a hard setlzer [uma bebida que mistura água com gás com um sabor e uma bebida alcoólica, que pode ser vodka, rum ou, agora, tequilla] mais vendida em Portugal, então é continuar.

Com todos estes negócios e áreas em que se envolve, qual é que foi, para si, o momento mais marcante da sua carreira? Quais é que sente que foram as suas maiores vitórias?
Obviamente que entrar agora no próximo Super-Homem vai ser, sem dúvida, uma das melhores experiências que eu já tive na minha carreira e é o que eu mais estou à espera para que saia.

Olhando para a sua infância, que foi passada entre Rio Tinto e Leça da Palmeira, a Sara dessa altura alguma vez imaginou que pudesse chegar até aqui e fazer tanta coisa?
Eu nem sei. eu acho que, quando era mais pequena, sempre tive o sonho de que ia viver para os Estados Unidos e essa é uma das únicas coisas que eu me lembro. Mas acho que nunca em mil anos conseguia imaginar que o ia concretizar ou que ia fazer tantas coisas como tenho feito.

E ainda se sente em casa em Portugal ou é uma sensação diferente de casa? 
Sim, sinto-me bastante em casa, principalmente quando vou ao Porto e fico em casa dos meus pais. Para mim, é confortável; para mim, é casa. A minha família está toda lá, um dos meus cachorrinhos está lá também e as minhas sobrinhas. Então sim, em Portugal – e no Porto principalmente – sinto-me muito em casa.

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sara sampaio Sara Sampaio e a família, no Porto. créditos: Instagram

E foi duro quando teve de se mudar para o estrangeiro, sendo que era apenas uma jovem que estava a tentar a sua sorte? Como é que foi essa adaptação?
Não foi muito difícil. A adaptação mais difícil foi quando me mudei para Paris, onde estive nove meses, porque não falava a língua tão bem e os franceses não são muito acolhedores, principalmente quando não falas a língua. Mas depois, quando me mudei para os Estados Unidos, senti-me sempre muito bem. Eu também era muito novinha e quando tens 19, 20 anos é tudo novo, é tudo incrível, é tudo divertido. E também trabalhava muito, ou seja, não tinha muito tempo para pensar.

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 E como é que é hoje um dia de trabalho na sua vida, sendo que está em todo o lado ao mesmo tempo?
Depende. Os dias podem ser tão diferentes. Pode ser viajar e apanhar o avião ou pode ser um dia de photoshoot, de filmagens, de press. Mas um dia normal, para mim, envolve acordar bastante cedo, dar de comer aos cães, passear os cães, tratar de mim, ir ao ginásio, cozinhar e trabalhar um bocadinho para aulas. Há sempre uma data de coisas para fazer, mas, geralmente, é tomar conta de mim, da minha cabeça e preparar aulas. E tomar conta dos cães, que às vezes parece que é um trabalho a tempo inteiro.

Uma coisa é certa: estes 33 anos foram completamente recheados. Como é que se imagina nos próximos 33 e onde é que gostava de chegar? 
Espero poder estar a continuar a fazer aquilo que gosto. Espero, sei lá, ter filhos, estar feliz e é isso. É a única coisa que importa.