A vista do terraço do hotel Memmo Alfama é uma daquelas que deixa um lisboeta com aquele orgulhozinho a fervilhar no peito, aquela coisa do "porra, a minha cidade é a mais linda do mundo". Era lá que nos esperava, ligeiramente incomodada pelo sol que já ardia na cara, a manequim Sara Sampaio, 31 anos, eventualmente a portuguesa mais conhecida do mundo, se descontarmos a malta mais velha que conhecia a Amália Rodrigues, vá. A Angel da Victoria's Secret, que vive em Nova Iorque, não vinha com um look super trendy, para nos esfregar na nossa cara de leigos quem é que percebe de moda. Não. Vinha num modo jovem empresária, num formal descontraído, com umas calças de linho (isto sou eu a arriscar, podia ser outra coisa, não prometo) caqui e uma camisa acetinada branca, aberta de forma a mostrar uma corrente de ouro simples com um pendente elegante cor de esmeralda. O cabelo apanhado fazia sobressair dois brincos dourados grandinhos, mas não suficientemente grandes para distrair a atenção. Nos pés, umas mules abertas, com salto curto, que insistia em prender-se no chão irregular do terraço, e que por pouco, muito pouco, não criou o momento do ano, quando Sara esteve pertinho de cair para dentro do pequeno tanque que dá um ar de piscina. Teria sido épico.

Sara Sampaio esteve a um passinho de cair dentro do tanque
Sara Sampaio esteve a um passinho de cair dentro do tanque Sara Sampaio esteve a um passinho de cair dentro do tanque créditos: Foto: Rita Almeida/MAGG

Simpática, descontraída, cumprimentou a equipa da MAGG com beijinhos, e não com um formal aperto de mão, e ao fim de alguns segundos já a conversa tinha ido parar a aventuras de viagens, à vida nos States, a tudo menos àquilo que nos levava ali. E o que é que nos levava ali? A Phunk. E o que é a Phunk?, perguntam os leitores menos por dentro das bebidas da moda. É uma hard seltzer. E o que é uma hard seltzer?, insistem vocês. Uma hard seltzer é uma bebida que mistura água com gás com um sabor e uma bebida alcoólica, que pode ser vodka, rum ou, agora, tequilla. Agora porquê? Pois, foi isso que levou a MAGG a ir ter com Sara Sampaio ao terraço do Memmo.

Mas o que é que a Sara Sampaio tem que ver com isto tudo? Tem tudo. A manequim portuguesa é desde o ano passado uma das sócias da Phunk, que já tinha quatro sabores diferentes no mercado, e tem trabalhado ao longo dos últimos meses na criação de uma nova Phunk, que tem por base a tequilla, e apresenta três novos sabores, um doce, um picante e um fresco (vão ter de ler a entrevista para os conhecer, sorry).

Para lá de sócia, Sara é a Chief Innovation Officer da Phunk, um nome todo fancy que significa, na verdade, que é ela quem controla o processo criativo da marca, bem como a comunicação e o tom com que a Phunk se apresenta no mercado. Isto explica o look de empresária com que ela chegou à entrevista.

MAGG — Já vi pelo teu look que estás em modo empresária…

Sara Sampaio — É… (risos) Hoje é em modo empresária.

MAGG — E a escolha do look não me parece inocente. Em que papel é que te sentes melhor? Empresária ou manequim?

SS — O papel em que me sinto melhor é aquele quando estou em casa, no meu sofá, com um cobertor por cima, a dar festinhas aos meus cães e a ver televisão. Esse é o look em que me sinto mais confortável (risos).

MAGG — Certo. Era mais em termos profissionais. Mas vá, sentes que tens uma veia empreendedora? Ou que desenvolveste essa veia empreendedora?

SS — Desenvolvi, acho que é isso. Sempre tive uma veia artística, isso sim, desde pequenina. Nestes últimos anos estive rodeada de muita gente empreendedora e acho que isso me fez mexer com o bichinho…

MAGG — Mas é uma coisa de que gostas, esta área mais de negócios?

SS —Eu gosto mais da parte criativa, na verdade. Aquela parte chata de falar com fornecedores, isso já não (risos).

MAGG — Ficas com a parte gira, portanto.

SS — Isso. Gosto de criar os sabores novos, as campanhas, a comunicação, essas coisas.

MAGG — Mas gostas de arriscar? Ou és mais conservadora? Como é que é a tua relação com o risco?

SS — Eu sou mais conservadora. Mas sei que sem riscos não há petiscos (risos).

MAGG — Mas o que é que te levou a querer investir num negócio de bebidas?

SS — Eu já era muito fã de hard seltzers, mesmo nos Estados Unidos. E quando vinha a Portugal não sabia muito bem o que beber, porque nem sempre me apetecia beber vinho, queria uma coisa mais leve, mais fresca. E depois encontrei a Phunk, o Duarte, que é hoje meu sócio, apresentou-me o projeto e eu gostei bastante. Adorei a bebida, os sabores.

MAGG — Mas foi por isso que investiste?

SS — Às vezes mais do que apostar nos produtos tu investes nas pessoas por detrás dos produtos. Eu gostei muito do Duarte e isso também me levou a entrar neste negócio.

MAGG — E foste sem medo? Não é fácil investir assim numa área que não é a tua, da qual não conheces muita coisa.

SS — Não digo que tive medo (hesita)… Acho que estou mais excited do que com medo, sabes? Porque acredito mesmo que isto vai ser um sucesso, porque temos as pessoas certas por detrás e o produto é muito bom.

MAGG — Estás numa área, a Moda, e vives num País, os Estados Unidos, em que cada vez mais se sente uma pressão enorme para fazer tudo de acordo com o politicamente correto, em que o movimento Woke está a ganhar uma expressão cada vez maior. E isso também está a chegar em grande força à Europa. Em algum momento pensaste que uma pessoa como tu, associada à moda, lançando um produto que tem álcool, ou que tem gás, isso possa ser visto com algo negativo?

SS — Não. Eu acho que… (hesita). Bom, eu nunca escondi que gosto de beber álcool, tequillas, margaritas, desde que haja sempre um controlo, claro. Eu também não bebo todos os dias (risos). A Phunk é um produto que é um miminho. Não quero que as pessoas bebam isto 24 horas por dia, porque isso não é saudável para ninguém. Mas nem sequer me lembrei disso do movimento Woke…

Os novos sabores da Phunk
Os novos sabores da Phunk O pack com os três novos sabores da Phunk, que tem tequilla

MAGG — Mas sendo tu uma pessoa da comunicação, e havendo aqui uma aspiração a, de futuro, entrar num mercado como o americano…

SS— Não é o nosso foco. Eventualmente podemos entrar.

MAGG — Os focos são Europa e Brasil.

SS — Sim. Mas neste momento são Portugal, Espanha e sul da Europa. Mais à frente, Brasil e, se tudo correr bem, os Estados Unidos.

MAGG — Certo. Mas era aí que queria chegar. Provavelmente estás a par do que aconteceu com a Bud, uma marca de bebidas alcoólicas…

SS — Sim, a Budweiser.

MAGG — Sim. Fizeram uma campanha de comunicação muito virada para as ideias do movimento Woke e tiveram uma quebra brutal nas vendas. Estando tu com a área da comunicação da Phunk, qual será a estratégia de posicionamento da marca nesse sentido? Que tipo de estratégia vão ter? Uma coisa mais a virar para a inclusão ou algo diferente?

SS —… (hesitação grande) Não gosto muito de falar do movimento Woke. Primeiro porque estás a dar uma conotação negativa a um movimento que é importante. Agora, é preciso saber fazer a distinção entre o querer mostrar às pessoas que a inclusividade é uma coisa normal, e é o que deveria acontecer sempre, e o usar essa inclusividade para criar um burburinho que vai ajudar a promover o produto. O problema que vemos hoje em dia é que as pessoas sentem-se obrigadas a fazer aquilo que é correto.

MAGG — Mas sentes que as pessoas são empurradas a fazer e a pensar de acordo com aquilo que a sociedade lhes exige?

SS — Nem é o empurrar. É o facto de que nós nem devíamos estar a pensar em diversidade.

MAGG — Isso já devia ser algo interiorizado, normal.

SS — Exatamente. Eu nem deveria pensar em ter diversidade na minha campanha, isso teria de acontecer naturalmente.

MAGG — Não devia ser forçado.

SS — Não devia ser forçado, exato. Devia estar enraizada em nós a ideia de que somos todos diferentes e é aí que às vezes as marcas se perdem um bocadinho e fazem certas coisas porque sabem que a reação que isso vai gerar vai fazer com que se fale das marcas.

MAGG — Achas que forçam o posicionamento.

SS — Se pões uma campanha para a frente, vais defendê-la com unhas e dentes. Não se deve é usar a diversidade para promover um produto.

MAGG — Muito bem. E o que é que uma Sara Sampaio pode aportar, em termos de inovação ou diferenciação, a um produto como a Phunk?

SS — Neste momento, só temos dinheiro para mim. Só há dinheiro para um cachet. E nem é bem um cachet porque sou sócia. (risos) Mas o que espero é que a marca possa viver sem mim, e que possamos evoluir graças a quem gosta do produto.

MAGG — Certo. Mas o que é que tu, concretamente, Sara Sampaio, poderás aportar ao produto? De futuro, como é que vês o teu papel na inovação e criação de produtos novos da Phunk?

SS — Ah, sim, sim. Então, este é o meu primeiro produto, que é uma Phunk que combina duas das minhas coisas favoritas: tequilla e hard seltzer.

MAGG — Mas vai ter algum sabor?

SS — Sim. Este é um produto que está a ser trabalhado há um ano. Tem sido muito divertir estar no processo desde o início, ver as receitas, provar…

MAGG — E o resultado? Há vários sabores?

SS — Sim. Temos um de maracujá, um de lima e jalapeño, que é mais spicy, para aquelas pessoas que gostam de spicy margaritas, por exemplo, e o terceiro é de limão e menta, que é mais fresco. Ou seja, temos um doce, um spicy e um fresco.

O cartaz de campanha do lançamento das novas Phunk
O cartaz de campanha do lançamento das novas Phunk O cartaz de campanha do lançamento das novas Phunk

MAGG — E qual é o mais Sara Sampaio? É o mais doce?

SS — É o mais doce (risos). Eu sou um doce. (risos)

MAGG — Às vezes aquilo que vemos não é necessariamente aquilo que é (risos).

SS — Eu tenho uma língua muito, muito sensível ao picante, por isso foi contra-intuitivo para mim fazer uma bebida spicy. E esta foi a última receita que fechámos. Eu já nem aguentava as provas, aquilo pica (risos). Mas outras pessoas diziam que nem sequer pica. Se calhar sou só eu que sou muito sensível.

MAGG — E o que é que vamos ver da Sara Sampaio na promoção destes sabores? Vamos ver cartazes pelo país, fotos nas redes sociais, o quê?

SS — Ontem estivemos a fotografar a campanha e foi muito bom ter o controlo todo da sessão fotográfica. Foi tudo muito criativo, jogámos muito com as cores das latas, com maquilhagem, cor das roupas. As imagens ficaram muito divertidas.

MAGG — E onde é que as vamos poder ver?

SS — Em supermercados, digital e vamos ter uns muppies.

MAGG — E já estás a pensar nos próximos sabores?

SS — Claro. Mas não podemos estar a lançar sabores todos os meses.

Sara Sampaio é contra o facto de as marcas usarem a diversidade como veículo de promoção
Sara Sampaio é contra o facto de as marcas usarem a diversidade como veículo de promoção Sara Sampaio é contra o facto de as marcas usarem a diversidade como veículo de promoção créditos: Foto: Rita Almeida/MAGG

MAGG — Certo. Mas a inovação vai passar sempre pelos sabores e cores das latas?

SS — Não necessariamente. Temos muitas ideias… até acho que já temos ideias a mais (risos). Mas vá, para já a grande novidade é mesmo que vamos ter uma hard selzer em Portugal e na Europa, com tequilla, e não há mais nenhuma.

MAGG — E investimentos futuros? A Sara Sampaio empreendedora vai mostrar mais vezes o look empresária.

SS — Sim. Mas ainda não posso falar disso.

MAGG — Nem sequer das áreas?

SS — Nem sequer das áreas. (risos) Mas vão ficar fartos do meu look empresária. (risos)