Tiago Aldeia está atualmente a dar vida a Nelson na novela “A Promessa”, na SIC, uma personagem “muito peculiar”. À MAGG, o ator de 38 anos conta como está a ser este projeto, recordando também o Henrique de “Sangue Oculto”, que era bissexual.

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Tiago Aldeia popularizou-se ao dar vida ao bad boy das duas primeiras temporadas dos “Morangos com Açúcar”, na TVI, o Rodas. Além de falar sobre o impacto que a série teve na sua vida, também revela como foi lidar com a perda da mãe, vítima de cancro, enquanto estava no auge do fenómeno “Morangos”.

O ator tem exibido a sua forma física invejável nas redes sociais, mas nem sempre foi assim. Tiago Aldeia começou a preocupar-se mais com a sua imagem e com o seu corpo depois de ter perdido um papel por não ter a “estrutura corporal” desejada. Atualmente, o ginásio é o seu melhor amigo e até lhe mostramos uma sessão fotográfica bem escaldante do ator.

Leia a entrevista.

Atualmente, integra o elenco da novela “A Promessa”, da SIC. Como está a ser dar vida a Nelson?
O Nelson é uma personagem muito peculiar. É muito ingénuo, um pinga-amor, apaixona-se ao minuto, não sai de casa sem ver o horóscopo e, no fundo, como costumam dizer os outros personagens, um bocadinho choninhas. Mas é muito querido, tem bom coração. O feedback das pessoas tem sido fantástico, riem-se imenso com ele e agradecem-me, isso é o mais importante. Paralelamente a isso, tem uma família maravilhosa, não podia estar mais bem entregue na minha família, à Luísa Cruz, ao Adriano Luz, ao Ivo [Lucas] e a todo o elenco com que tenho o prazer de contracenar.

Antes d’ “A Promessa”, deu vida a Henrique em “Sangue Oculto”, na SIC. Esta personagem, além de conferir um lado cómico à novela, era homossexual. Sentiu uma responsabilidade acrescida por isso?
Ele não era homossexual, era bissexual e não sabia (risos). Porque ele apaixonou-se, aquilo ficou implícito, pelo Tó Jó [personagem interpretada por Sérgio Praia]. Responsabilidade não, porque esse tema foi abordado subtilmente, foi mais abordado o facto de duas pessoas do mesmo sexo terem uma cumplicidade que, de repente, é tão forte que começam a estranhar. E foi ligeiramente abordado, mas acho que não advém grande responsabilidade daí, a não ser que essas coisas podem acontecer, não é? Acho que foi a mensagem que se quis passar na novela.

Acha que este tipo de papéis são importantes para ajudar a acabar com o preconceito?
Obviamente, quanto mais se naturalizar estas questões, quanto mais naturais elas forem na ficção, acho que tem o seu papel para combater preconceitos, numa vida plural onde há espaço para todos.

Não podemos deixar de falar do bad boy das duas primeiras temporadas dos “Morangos com Açúcar”, na TVI. Continuam a associá-lo ao Rodas?
As pessoas reconhecem-me como ator e por Tiago Aldeia, mas falam-me sempre do Rodas. O Rodas é aquele personagem que eu digo que é eterno, porque o tempo passa, mas as pessoas não se esquecem do Rodas, até porque na altura não havia redes sociais, não havia box para puxar para trás, portanto a televisão tinha um outro impacto que hoje está espalhado por várias plataformas.

E, portanto, teve esse impacto, teve o impacto também de abordar assuntos, e é uma série que continua a repetir em vários canais de cabo. Quando eu acho que é já uma coisa que fica só na memória dos mais velhos, aparece uma criança que me chama Rodas e que diz que é muito fã e tal (risos). Portanto é, de facto, um personagem eterno, acho.

Rodas
Rodas Tiago Aldeia deu vida a Rodas nos "Morangos com Açúcar", entre 2003 e 2005.

Ao participar na primeira temporada, não tinha como antever o impacto que a série iria ter. Como é que foi, de repente, sentir o fenómeno “Morangos”?
Foi interessante, porque, ao início, os “Morangos” receberam imensas críticas dos conservadores da altura, enfim, de alguns jornalistas. Não eram jornalistas, eram comentadores, sei lá, diziam que era uma coisa juvenil, que dava maus exemplos e nós não estávamos à espera.

Lembro-me até que ficámos um bocadinho desiludidos com aquilo. Estávamos a tentar dar o nosso melhor e estávamos a fazê-lo, mas de repente aquilo foi uma brutalidade de audiências e de sucesso e, portanto, tudo isso, todos esses comentários menos bons se dissiparam rapidamente. E a questão de lidar com a fama é sempre consequência do trabalho. Claro que, na altura, foi um impacto fortíssimo, não é? Era uma loucura. Tivemos que adaptar um bocadinho as nossas vidas e começar a ir a sítios mais privados, porque senão era complicado andar na rua.

Desde aí, ainda mantém uma amizade com alguns desses atores, como o José Mata, a Benedita Pereira, a Filomena Cautela, entre outros. Foi o ambiente de bastidores que criou estes laços tão fortes?
Sem dúvida. Passávamos 12 horas juntos por dia e, às vezes, ao fim de semana, gravávamos ao sábado. E também por esta questão anterior do sucesso que aquilo foi, nós acabámos por criar uma amizade muito forte e andarmos sempre muito tempo juntos. E isso foi forte, não é? Tanto é que se mantém até hoje. Para além de que, no meu caso então, eu tinha 16 anos, portanto aquilo foi quase a minha adolescência, foram os meus amigos de adolescência que ficaram até hoje.

Como é que viu o regresso da série? Viu as primeiras temporadas?
Não, eu não vi a série, tive a oportunidade de fazer um zapping, vi algumas imagens, mas não tive a oportunidade de acompanhar. Até porque não aparecia o Rodas, portanto perdeu logo o interesse (risos). Acho que é interessante tentar recuperar um produto que foi de sucesso e atualizado aos dias de hoje, com as temáticas de hoje. Não obstante, o original ainda continuar a bombar nos canais por cabo, nas repetições.

Mas gostaria de voltar a dar vida ao Rodas passados cerca de 20 anos? A série tem repescado personagens antigas.
Acho que era interessante. Eu acharia interessante fazer um personagem passado tantos anos, mas isso não me compete a mim decidir.

Enquanto estava a viver o auge do fenómeno "Morangos", estava também a passar por um momento pessoal delicado, com a morte da sua mãe, com cancro da mama. Como é que foi lidar com estes dois extremos?
Bom, isso é a vida, como se costuma dizer. Temos que arranjar mecanismos para continuarmos bem e para nos defendermos disso. O trabalho também teve aí o seu papel importante, de eu me focar numa coisa mais positiva quando, na minha vida privada, estava a acontecer uma coisa muito triste.

Se tivesse de destacar uma personagem de todas as que já fez, qual destacaria e porquê?
Isso é uma pergunta muito injusta, porque há imensas personagens que eu fiz e que gostei bastante. Bom, do Rodas já falámos bastante, portanto vou passar a outra (risos). Não sei, cada personagem tem o seu encanto, tem o seu desafio. Agora, fiz personagens interessantes. Fiz “Os Conselhos da Noite”, um filme do qual fui protagonista, que era o primeiro filme rodado em Braga e, portanto, o filme era muito sobre a personagem.

Eu estava em todas as cenas e o filme desenrolava-se um bocadinho com os conflitos emocionais que a personagem tinha. Foi bastante intenso e a personagem também estava com uma doença terminal, portanto foi um processo interessante de fazer, bastante intenso. Foi um desafio importante, mas como muitos outros.

Falou de ter protagonizado o filme “Os Conselhos da Noite”, mas nunca foi protagonista de uma novela. É algo que ambiciona?
O protagonista também é uma coisa positiva, mas eu preocupo-me mais com a personagem ser desafiante e ter sumo, características suficientes para se construir, do que propriamente a incidência que a mesma tem. Mas estou aberto a todos os desafios, desde que as personagens sejam interessantes.

Numa entrevista à MAGG em 2021, revelou que começou a preocupar-se mais com o seu corpo após perceber que “não era escolhido para alguns papéis por não ter músculos”. Como é que começou a ter noção disso? Foi-lhe mesmo dito diretamente?
Foi. Não me recordo qual era o personagem nem nada, mas lembro-me que seguiu uma proposta e a resposta foi: ‘nada contra o Tiago, o Tiago é maravilhoso, muito talentoso e tal, mas precisamos de alguém com mais estrutura corporal, mais físico’.

Pronto e eu disse: ‘bom, que isto não seja mais uma desculpa’ e comecei a trabalhar mais. Para além de ser importante para a saúde, tanto física como mental, é também importante pelo facto de eu trabalhar com a minha imagem. Comecei a frequentar o ginásio regularmente e hoje também faz parte um bocadinho da minha imagem de marca, tanto é que agora até sou embaixador de uma cadeia de ginásios. As coisas depois desenvolveram-se naturalmente.

Esta transformação física começou quando?
Começou, sei lá, há uns 10 anos, não sei, 8 ou 10, 8 talvez. Não foi há muito tempo, comecei tarde a ter essa preocupação. Hoje em dia, se eu soubesse o que sei hoje, teria começado bem mais cedo, porque é uma questão de saúde, em primeiro lugar, e depois, claro, é uma questão de imagem, porque te sentes mais confiante e, no meu caso, é três em um porque ainda estou a trabalhar com o ginásio. Eu faço ginásio, efetivamente, e faço com o PT três vezes por semana.

Treino, não só para descarregar o stresse, mas também porque, quando tens o teu corpo como tu gostas, também te faz bem, é uma coisa que faz bem à tua autoconfiança, faz-te bem sentires-te bem. É para ti próprio, com o teu corpo. Treinar no ginásio ou fazer um desporto, fazer alguma atividade física regular é um compromisso que temos connosco próprios e com o nosso corpo, com a nossa saúde. Isso é sempre um escape para relaxar, mesmo que não seja o relaxar normal que as pessoas estão habituadas. No fundo, é uma maneira de descomprimir.

Veja as fotos escaldantes do ator.

"Não é uma profissão muito estável, principalmente em Portugal, porque o mercado é pequeno"

A sua profissão pode ser incerta a nível de trabalho e mexe muito com as emoções. Isso pode afetar a saúde mental dos atores.
Há várias profissões, umas mais fáceis e outras menos fáceis. A profissão de ator, de facto, é uma profissão que não é fácil, porque trabalhas com as tuas emoções. Trabalhas física e emocionalmente, tens de gerir essas emoções, e tem aquele fator que referiu que é a instabilidade.

Não é uma profissão muito estável, principalmente em Portugal, porque o mercado é pequeno. Mas haverão outras profissões que também precisam de descomprimir no final do dia, pessoas que têm grandes responsabilidades. Mas, acima de tudo, com mais intensidade ou menos intensidade, [o exercício] é uma maneira de descomprimir para as pessoas dependendo do contexto em que estão inseridas. Independentemente disso, diria que, no final das contas, sim. Agora, é complicado, porque os nossos horários das gravações não são fixos, portanto arranjar tempo para treinar entre gravações ou depois das gravações é que é mais complexo.

Nas redes sociais, além de partilhar um pouco da sua vida, o seu trabalho e looks, por vezes aborda temas importantes, como fez recentemente com um apelo para aumentar a pena para os incendiários e até sobre o abandono de animais quando encontrou uma ninhada de gatos. Acha importante haver esta dualidade de não partilhar apenas o lado estético da vida e ter uma voz sobre certos assuntos, principalmente por parte das figuras públicas, que têm uma influência maior nas pessoas?
Claro, acho que é sempre importante a partir do momento em que as pessoas se sintam confortáveis com isso e que lhes seja um assunto que os toque de alguma forma. Primeiro, sou ator e a fama vem como consequência do meu trabalho, mas eu tenho uma responsabilidade pública, pelo menos no meu entender, de, pelo menos, dar algum exemplo ou poder contribuir naquilo que eu posso para a sociedade onde vivo. Nesses dois casos específicos, são duas coisas que me chocam. A primeira é abandonar animais, as pessoas que o fazem, pessoas que não têm cuidado com os animais. E, depois, os incêndios florestais, que é uma coisa que afeta o nosso País regularmente, praticamente todos os anos. Vê-se o combate, vê-se isso tudo, mas esquece-se que os incêndios não começam sozinhos. Ou alguém os põe ou é por negligência.

Quando um incêndio começa em 20 sítios ao mesmo tempo, não foram 20 pessoas que foram fazer um churrasco e atiraram sem querer uma fagulha. Eu acho que, nesse caso, tem que haver mão pesada para o fogo posto, porque é uma coisa que me choca imenso. Uma coisa é os bens imóveis, e está tudo certo, mas temos que defender, em primeiro lugar, a vida humana, a vida animal, que é muito importante também porque há muitos animais que perdem o seu habitat e que morrem nesses incêndios, e depois as nossas florestas, que são importantes para termos o oxigénio que respiramos e é uma coisa que demora imenso tempo a recuperar. Uma casa, mal ou bem, reconstrói-se. É importante olhar para este assunto. Quando eu falei, foi numa questão mais de mão firme para as penas, mas também como de vigilância. A vigilância também é muito importante.

Nasceu em Lisboa, mas, recentemente, construiu uma casa no campo. Fê-lo à procura de um refúgio da cidade?
Sim, completamente. Eu nasci na cidade, mas sempre que tinha oportunidade gostava de, aos fins de semana, mudar de ares e ir para o campo. É no campo que se respira melhor, no sentido lato da palavra, de efetivamente respirar e estar conectado com a natureza.

O Tiago não tem parado de trabalhar nos últimos anos nesta área, mas que ambições tem ainda para o seu futuro? Um papel, uma carreira internacional...
É assim, se vier... Eu não gosto de criar muitas expectativas. O que eu gosto e quero continuar a fazer é personagens interessantes, diferentes de mim, que é isso que me desafia e continuar a conseguir fazer personagens diferentes, ser um bocado versátil na minha profissão. Ir da comédia para o drama, como para o vilão. Isso é uma coisa que eu procuro sempre fazer. Agora, se surgir o internacional será bem-vindo.

Créditos das fotos: David Velez