Pai de uma menina, dentista de profissão, médico em ascensão e capitão da Seleção Nacional de Râguebi sempre que necessário. Tomás Appleton, de 30 anos, é um dos nomes mais comentados da atualidade do desporto português, depois de ter feito história, em conjunto com a sua equipa, no Mundial de 2023 de râguebi. Agora, o capitão lançou um livro, "Vencer Contra a Corrente", sobre todo o percurso dos Lobos nesta competição, e o que não faltam são testemunhos reais deste que foi o momento mais alto da história do râguebi português.
Desde o início da sua paixão pelo desporto de alta competição até aos momentos finais do maior jogo da sua carreira (pelo menos até agora), Tomás Appleton não deixa de fora todos os sacrifícios e as emoções sentidas ao longo deste grande percurso.
Com uma vida fora do râguebi, onde trabalha numa clínica dentária com o seu nome e estuda medicina ao mesmo tempo, o capitão consegue tempo para ainda treinar — pelo menos duas vezes ao dia — , ser pai de Benedita e companheiro de Marta, mostrando que, com uma boa gestão e um bom núcleo familiar, tudo é possível.
É um dos jogadores portugueses de râguebi que mais vezes vestiu a camisola de Portugal, tendo já ultrapassado as 70 internacionalizações. É o jogador que por mais vezes liderou a Seleção Nacional enquanto capitão e é também um dos jogadores que sempre soube que o seu destino seria representar o nosso País. Mas é também um homem de família, que dá o crédito todo à companheira e que sabe que, sem saúde mental, também não há saúde desportiva.
O que o levou a escrever este livro? Sentiu a necessidade de explicar ao povo português o que é o núcleo do râguebi, com as suas derrotas, vitórias e contratempos?
Este projeto surgiu num horário curioso porque eu nunca tinha pensado nisso. Já na altura do Mundial de 2007, no primeiro Mundial a que Portugal foi, o Vasco Uva, o capitão, tinha escrito um livro, e isso não me passou pela cabeça. Mas depois a Leya abordou-me e falou-me deste projeto e eu comecei a pensar nisso, porque a nossa história era demasiado boa para não ser contada. Este livro é não só para as pessoas que fazem parte da comunidade do râguebi em Portugal, que na verdade até é curta, mas também para as pessoas de fora conhecerem um pouco mais e, talvez, apaixonarem-se também.
Obviamente que o râguebi teve um grande boom em Portugal depois do mundial de 2023, e se começaram a ligar minimamente ao râguebi a partir daí, acho que precisam de conhecer e de ter noção dos bastidores de que eu falo neste livro. É, realmente, um pouco diferente da Seleção tradicional a que estão habituados, e quero fazer com que tentem perceber um pouco do que está por trás da história dos Lobos.
Começa logo o livro com o prefácio de Bernardo Silva, um dos maiores nomes da Seleção Nacional da atualidade do futebol. Porquê esta escolha?
Fui eu que escolhi, sim. Eu na verdade já o conheço há uns anos por amigos de amigos, ele era da turma de um dos meus melhores amigos e conheci-o quando ele ainda estava na academia do Benfica. Estive com ele algumas vezes antes de toda a fama e ele sempre foi uma pessoa impecável, sempre de portas abertas, e eu lembrei-me dele porque quando chegámos ao ponto de decidir qual era o foco deste livro e o seu público-alvo eu não queria cingir apenas às pessoas que fazem parte da comunidade do râguebi.
Muito mais do que querer que o Bernardo escrevesse sobre râguebi, queria que ele escrevesse sobre como é representar a Seleção Nacional, o que é fazer desporto de alta competição, o que é conciliar o desporto com o resto da vida, e a verdade é que o Bernardo é um amigo que chegou tão longe e tem uma carreira tão boa que achei que seria a pessoa perfeita para escrever sobre isso.
E é por aqui que também começa o seu livro. "Um desporto de amigos, um desporto de irmãos", onde nos conta como é que a paixão pelo râguebi começou, tudo graças ao irmão mais velho. Como é que isto aconteceu?
Se calhar isto até pode parecer mal, mas naquela altura os irmãos mais velhos são os nossos ídolos, e tudo o que o meu irmão fizesse eu queria fazer também e ia atrás dele para tudo. Parece que soa mal, mas fosse o que fosse, futebol, andebol, qualquer desporto, e acabou por ser o râguebi. Na altura o meu primeiro contacto foi sem dúvida por causa do meu irmão, era sempre aquela coisa de tentar mostrar ao irmão mais velho que também conseguia competir, e a verdade é que muita da minha carreira jovem foi um pouco isto, e o facto de o meu irmão também ter tido uma carreira muito boa no râguebi nacional ajudou a tudo isso.
Diz várias vezes que desde cedo que teve o objetivo de representar a Seleção Nacional de râguebi de Portugal. Mas porquê? De onde vem esse sentimento?
É o expoente máximo, e não acho que todos os desportos sejam exatamente assim. Temos o exemplo do futebol que pode variar um pouco, como vimos agora por exemplo na apresentação do Mbappé no Real Madrid. O seu sonho de criança era jogar por esta equipa e não sabemos se jogar pela Seleção era, portanto pode sempre variar de nível. Quando olhamos para o râguebi em si, para desportos olímpicos, sabemos que a Seleção Nacional e representar Portugal é o expoente máximo dessa modalidade, e esta vontade de todos os miúdos tem que ver com isso mesmo.
Depois vai mudando ao longo dos anos, quando realmente lá estamos. O representar Portugal hoje em dia, para mim, ou mesmo quando me estreei nos seniores, não foi olhar para aquilo e pensar em chegar ao nível mais alto que havia. Tem muito mais um valor emocional e especial do que propriamente só jogar um nível alto. Se fosse só isso poderia ser uma seleção qualquer. Quando vais crescendo é que acho que tens a verdadeira noção do que é fazer parte daquilo.
Para contextualizar, a equipa portuguesa de râguebi não é profissional, e sim composta por muitos jogadores amadores que têm uma vida profissional além deste desporto. Como é que isto, na prática, funciona?
Não é uma logística fácil. Quando jogamos campeonatos nacionais normalmente tem muito que ver com a fase do ano, e durante esta fase alternamos. Logo de manhã vamos ao ginásio e ao final do dia treinamos, ginásio às 7 horas e treino às 20 horas.
Chegamos a casa tarde, portanto saímos de manhã para treinar, temos todo o dia de trabalho pela frente e depois saímos novamente para ir treinar. Quando vamos à Seleção é um pouco diferente. Uma das imposições do Patrice [ex-treinador dos Lobos] na altura para a nossa preparação foi ter de meter férias, e alguns até acabaram por perder o comboio e o processo. Mas sim, nos dias de hoje, quando estamos na Seleção, acabamos por meter férias do trabalho para poder lá estar.
E por falar em Patrice, em 2019, o treinador escolhe o Tomás para usar a braçadeira de capitão da Seleção de râguebi, equipa onde sempre ambicionou estar. No entanto, diz que não era um objetivo ser capitão. Era algo que não estava realmente nos planos?
Honestamente, eu acho que não estava nos planos porque nunca tinha pensado no assunto. Acho que é um processo natural das coisas, estar na Seleção é muito de provares os teus valores a nível individual e provares ao longo dos primeiros anos que mereces o teu lugar, e obviamente à medida que vais consolidando isso, as portas vão-se abrindo.
Mas eu acho que foi um pouco passo a passo, obviamente quando o Patrice falou comigo sobre isso, a escolha pareceu-me natural, porque era um dos que já lá estava há mais tempo, na altura era o que tinha mais internacionalizações, hoje ainda o sou, e apesar de isso não ser o fator que decide, pareceu-me algo natural.
No entanto, existe todo um grupo de liderança, nunca sou só eu. Mas não, o foco nunca foi esse. Lembro-me de ser miúdo e as minhas rotinas serem "eu vou ser internacional por Portugal" e não "eu vou ser capitão da Seleção".
Esta performance, aliada à sua profissão, ao curso que está a tirar, à falta de presença num núcleo familiar, acredito que há dias em que o cansaço tente levar o melhor de si. Como é que é possível conciliar tudo isto?
Sim, sem dúvida, o cansaço muitas vezes tenta levar-nos para aquele dark place, e há dias menos bons. Mas depois uma pessoa vai aprendendo a lidar com o cansaço, fica habituada ao cansaço do dia a dia e vai fazendo uma gestão tentando equilibrar estas áreas todas.
Obviamente que é sempre um desafio ter de chegar a casa às 11 da noite e sair de casa às sete da manhã para poder ir ao ginásio, ir para o hospital e depois ir trabalhar. Chegar tarde com uma mulher e uma filha em casa é um grande desafio, não vou dizer que não, mas com muito esforço em casa e da minha mulher, acho que as coisas se vão fazendo. Eu também às vezes penso que daqui a três ou quatro anos se calhar isto já não vai existir na minha vida, e se eu não o fizer agora, depois vou-me arrepender. Até agora tem tudo corrido relativamente bem, e vou aproveitar os meus últimos anos de carreira.
Tocou aqui num ponto interessante, na sua mulher. Também ela teve de fazer sacrifícios, tanto que há um episódio no dia do nascimento da vossa filha Benedita que deixou a situação ainda mais difícil. Como é que a Marta leva a vida sabendo que também ela tem de fazer a sua vida quase que à volta da sua?
Foi um processo que se foi construindo, foi uma diferença gigante nas nossas vidas a partir do momento em que a Benedita nasceu. O próprio episódio levou aqui alguma logística, mas eu acho que a Marta, com imenso sacrifício e imenso trabalho, tem vindo a aprender a gerir isso. Tem um desafio gigante porque os meus horários são muito mais apertados, e muitas vezes ela tem de fazer a vida dela em função da minha. Até pode soar um pouco egoísta, mas a verdade é que é impossível dizer que isto não é uma logística de equipa.
Ser mulher dos jogadores, e neste caso a Marta, é um grande desafio, mais ainda quando tens filhos em casa e rotinas. Acho que a Marta também tem vindo a aprender isso.Veio ver quase todos os jogos em França e ela diz que efetivamente nos estádios é que percebeu que todos os esforços feitos ao longo dos anos valeram a pena. A Marta conheceu-me já eu jogava na Seleção, mas estamos a falar de logísticas diferentes quando existe uma família por trás, e nisso a Marta tem sido irrepreensível, tem ajudado muito neste processo que, honestamente, sem ela não teria sido possível.
Voltando aqui ao núcleo do livro, este resume-se ao trajeto dos Lobos até ao apuramento para o Mundial, onde, no final, fizeram história. Mas até lá foram várias as emoções, desde a eliminação total dos Lobos até à oportunidade de conquistarem um lugar. Como é que descreve o momento em que a equipa percebeu que a entrada no Mundial poderia ser novamente possível?
Uma das maiores desilusões da minha vida foi a eliminação em Madrid, foi mesmo um grande processo que nós montamos e imensos sacrifícios que foram feitos e de repente vai tudo por água abaixo. Já estávamos com uma desilusão brutal e de repente começam a surgir os boatos de que se calhar existia mais uma oportunidade por causa dos problemas com a documentação de Espanha, mas na altura não comecei a ficar demasiado entusiasmado. Mantive a calma, porque há imensos boatos no râguebi europeu e mundial, e as coisas acabam por não acontecer.
Nós temos um grupo no WhatsApp da Seleção onde falávamos sobre todo o processo até ao jogo em Madrid, e nesse grupo o Patrice até já se tinha despedido como treinador, mas do nada surge uma mensagem dele a dizer que realmente tinha acontecido, e de repente começámos a pensar que tínhamos mais uma oportunidade.
Mas na altura não existiu sentimento de histerismo e não ficámos demasiado contentes, porque na verdade não ficámos qualificados para o Mundial, porque perdemos em Madrid. Apesar dos sacrifícios, não merecíamos lá estar porque perdemos, portanto naquele momento houve o sentimento de não sermos suficientemente bons para irmos ao Mundial. Mas foi aí que começámos a montar uma campanha, em 2022, e a pensar "o que é que vamos fazer agora com isto".
A entrada da Seleção no primeiro jogo no Mundial, contra Gales, diz ter sido um momento muito especial, não só para si como para toda a equipa, depois de toda a trajetória com altos e baixos de que acabamos de falar. Tinha finalmente caído a ficha de que Portugal tinha chegado ali?
É isso mesmo. Obviamente que tudo aquilo que o jogo em si envolve, a chegada ao estádio, por exemplo, é uma coisa brutal, teres pessoas a ir de Portugal para França para te verem é brutal. Mas aquilo envolveu muito mais que isso. Tudo o que se estava a passar representava muito mais graças a todo o trabalho que fizemos ate lá, isso foi o que tornou o momento ainda mais especial. Estás tantos anos, tanto tempo a trabalhar para aquilo e fazer a tua vida e a vida das pessoas que te rodeiam direcionada para aquilo, que quando lá chegas é surreal. Simbolizou a nossa chegada, do género "Portugal está aqui, nos estamos cá". Sabíamos que queríamos ser competitivos, mas chegou ali aquele momento em que pensámos "pronto, já chegámos e vamos fazer aquilo que realmente sabemos fazer e aproveitar a nossa jornada no Mundial".
E acredito que ainda mais especial do que a entrada no Mundial foi o jogo épico contra as Fiji, onde Portugal conquistou a sua primeira vitória nesta competição. O que é que mais o marcou naquele dia? Foi aqui que não só os portugueses como o resto do mundo começou a olhar para o râguebi com outros olhos?
Foi um dia muito especial para o râguebi português, mas acho que também já vem um pouco de trás. Falei disto no livro várias vezes, nós quando fomos ao Mundial dissemos que íamos lá para competir, que íamos bater de frente com qualquer equipa. Acho que também tivemos alguma sorte no grupo em que calhámos, mas também sabíamos que não éramos favoritos em nenhum jogo, era apenas a segunda vez de Portugal no Mundial. Estamos a falar de equipas de topo, e a verdade é que íamos para competir e na altura focamo-nos muito no jogo contra Gales, no primeiro jogo, no termos de criar uma boa impressão.
Acho que isso nos levou a montar um processo que depois se traduziu na vitória contra as Fiji. É um pouco à portuguesa, deixámos tudo para a última, e teve de ser no último jogo em que conseguimos ir buscar uma vitória. Eu não quero dizer que o râguebi mundial nos começou a respeitar, acho que a nossa prestação noutros jogos também foi muito boa e demos a possibilidade de mostrar do que é feito o râguebi português, portanto acho que foi um culminar de todas as coisas. Mas obviamente que teve um impacto brutal para esse reconhecimento, e foi certamente um dos maiores dias do râguebi português, se não o maior.
Um aspeto importante é o seu compromisso com a saúde mental. Aborda mais tarde no livro que, como capitão, pediu mesmo que a Seleção fosse acompanhada e que tivesse este apoio psicológico. Do que é que beneficiaram com isto? O que é que quis dar aos seus companheiros?
É importante no desporto de alta competição exatamente por ter dois prismas: traz-nos lições brutais para a vida, e eu falo várias vezes disso, é inegável tudo o que podemos transportar do desporto para a vida, mas depois entramos também no limiar da pressão que sentimos ao fazê-lo. E essa pressão é imposta por treinadores, por jogadores, por nós mesmos, pela competição, e é mesmo brutal. Eu acho que a maior pressão, e falando mais por mim, é 100% imposta por mim, e às vezes é preciso alguém com quem falar, especialmente alguém que seja imparcial.
Uma coisa é eu desabafar com a Marta, com os meus treinadores, com algum dos jogadores, outra coisa é eu desabafar com alguém profissional, e isso para nós enquanto jogadores ajudou sem dúvida a procurar algum equilíbrio. É muitas vezes não nos deixarmos levar pela situação e tentar ir buscar o melhor de nós, e cada vez mais acho que termos sido acompanhados nesta parte da saúde mental foi fundamental. Da mesma maneira que treinamos no ginásio e no campo esta parte também tem de ser trabalhada, e tem sempre um papel fundamental no nosso desempenho e no nosso rendimento. Cada vez mais vejo isso assim.
Passando agora para outra parte também importante do desporto, como expressa no livro: os adeptos. Como é que explica este amor tão presente? O que é que o râguebi tem de tão especial?
Há várias coisas que podem levar a isso. O desporto em si não é um desporto fácil de começar a gostar, mas quando entranha, as pessoas ficam muito agarradas e apaixonadas. É um desporto que é relativamente difícil de perceber pois existem muitas regras e depois elas estão em constante evolução. Mas em primeiro lugar, é um desporto ultra transparente, está constantemente a tentar melhorar como desporto para se tornar mais espetacular e verdadeiro, e eu acho que isso é algo que apaixona.
Algo de que também falamos sempre é a relação com os árbitros. Se compararmos a relação com os árbitros que nós temos com qualquer outro desporto, é uma cortesia brutal, temos um respeito enorme pela hierarquia e o que isso simboliza. Eu não acredito que o râguebi seja um desporto violento, é apenas um desporto ultra técnico em todo o contacto, e o ambiente que se vive nos jogos é de máximo respeito e de amizade.
Acho que, especificamente com Portugal, nós jogámos um râguebi muito evasivo, espetacular. Tínhamos o estatuto de "underdog" que toda a gente gosta de ver a dar a volta por cima, e acho que isso também fez com que se apaixonassem por nós. Esta relação foi crescendo e nós também demoramos a perceber isso, e por isso é que também foi um choque tão grande quando percebemos que essa relação era maior do que aquilo que pensávamos.
Era exatamente nisso que queria pegar, na receção a Portugal depois de ter sido eliminado do Mundial. O mar de gente no aeroporto era enorme, e todos a torcer pelos Lobos. Não tinham mesmo ideia de que Portugal estava a lutar com vocês?
Honestamente, nós tínhamos noção de que tínhamos feito algo histórico para o râguebi português, mas a comunidade do râguebi em Portugal é muito pequena, as pessoas que foram de Portugal para França para nos ver nós já conhecíamos, e tínhamos também uma comunidade luso-francesa a apoiar-nos que vimos lá. Estávamos naquela bolha de "pronto foi isto e já passou", e de repente lembro-me de estar a chegar a Lisboa e receber uma mensagem de um amigo meu que costuma seguir os jogos todos a dizer que não ia conseguir estar no aeroporto para nos receber, e aí eu pensei "se ele não vem então não vai mesmo estar ninguém para nos receber".
Ele estava a mentir obviamente e estavam lá imensas pessoas. Aliás, o nosso piloto que nos levou de França a Portugal fez o voo de propósito para nos levar, ele estava de férias e mudou o voo por nossa causa, e aí eu também pensei que se calhar até tínhamos tido algum impacto. Depois à medida que fomos entrando no aeroporto as pessoas começaram a cumprimentar-nos, as pessoas que lá trabalhavam, e de repente quando chegámos as portas de chegada vimos todo aquele mar de gente. Aquilo foi completamente surreal.
O que é se se segue para os Lobos?
Isso é um grande desafio, porque eu acho que a seguir a qualquer pico é preciso saber capitalizar. Eu já disse isso muitas vezes e estou sempre a repetir-me, mas o nosso grande objetivo ou um dos grandes objetivos da Seleção era mudar o râguebi português para sempre, e isso passava por inspirar muitos miúdos a jogar râguebi e a inspirar as pessoas a seguir o râguebi. Mas isto tem de ser capitalizado, porque este boom no râguebi só vai trazer resultados concretos daqui a 10 anos, e o grande desafio aqui está em como é que vamos conseguir fazer isso, como é que vamos conseguir manter a Seleção Nacional nesta onda vencedora.
A verdade é que já este fim de semana passado [20 e 21 de julho] estivemos na África do Sul e tivemos o choque verdadeiro de como é que é jogar contra a melhor equipa do mundo, e percebemos que ainda nos falta muito para lá chegar. Um dos caminhos, a meu ver, que é fundamental para isso é a profissionalização do râguebi em Portugal. É muito bonito eu estar a inspirar pessoas e a dizer que sou dentista e estudante de medicina e que jogo na Seleção Nacional e que vou jogar contra os melhores quando isso está no papel, mas se o meu rendimento em termos de râguebi for prejudicado por causa disso, e eu sei que o é, vamos estar sempre aquém e não vamos conseguir ter profissionais neste deporto.
Portanto o caminho, se calhar não comigo ainda como jogador, da Seleção Nacional e dos clubes em Portugal, é esse. Usamos muito o nome "Lusitanos", que são uma Seleção do campeonato nacional, e sinceramente acho que vai ter de começar por ai. Já estamos a tentar montar isso, e a partir do momento em que nos conseguimos dedicar exclusivamente ao râguebi a nossa performance acaba por sair muito melhor. No entanto, também é possível fazê-lo através do desporto escolar, onde poderá dar para ver o que dá para rentabilizar em termos de captações de miúdos. Estas são duas bases que eu vejo para o desenvolvimento do Mundial 2027, e acredito que estamos num bom caminho.