Numa das pastelarias onde trabalhou, Márcio Alves pôde provar um dia um cheesecake cuja base era feita com Nestum. Aquele sabor a infância ficou-lhe no palato — e na cabeça — e assim que teve nas suas mãos a cozinha do Choupana decidiu voltar a usar esse ingrediente mágico na criação de uma receita que, ainda que na altura não soubesse, ficou como imagem de marca e continua a ser uma das mais pedidas.
Agora que o Choupana se multiplica e abre um um novo espaço do terminal de cruzeiros de Lisboa, Márcio Alves não quis deixar a receita do croissant com recheio de Nestum no Choupana da Avenida da República e, em dia de inauguração, era vê-lo a estender, rechear e enrolar a massa cor-de-rosa que todos procuram para um lanche mais guloso.
A massa, que passa vezes infinitas pela máquina até que fique no ponto de folhado, é um original da Pastelaria Pólo Norte, em Mafra, que em tempos pertenceu ao irmão, Fernando Lúcio, atual dono do Choupana.
"Quando a trouxemos para o Choupana, tornei-a minha", explica Márcio Alves, 29 anos. Deu-lhe o nome de Croissant Red Velvet e concorda em revelar apenas parte da receita: ovos, açúcar, farinha, manteiga, extrato de frutos vermelhos e corante. "O resto é segredo".
O novo Choupana
Enquanto Márcio Alves se ocupa da cozinha, Fernando Lúcio faz de mestre de cerimónias a um espaço onde ainda poucos entraram. Aliás, para dar entrada no terminal de cruzeiros, há até que mostrar o cartão do cidadão, como se de um aeroporto se tratasse. "Mas assim que o Choupana abrir ao público esta sexta-feira, 25, é só chegar e subir o elevador", explica o dono do Choupana.
E assim que o elevador chega ao primeiro andar, abre-se uma vista sobre o Tejo que pode ser apreciada na esplanada do novo café. Aliás, do total de 104 lugares, 80 são no exterior.
A escolha do local não foi ao acaso e Fernando Lúcio, além de contar com os lisboetas, tem na mira as centenas de pessoas que todos o dias chegam a Lisboa em cruzeiros.
Apreciamos o cenário, aproveitamos o cheiro a pastelaria acabada de fazer do interior da loja e Fernando decide levar-nos a outro nível, literalmente. Abre-nos a porta de uma sala que vai estar disponível para festas e eventos privados e uma outra com acesso a um terraço de perder de vista, também ele guardado para eventos feitos em parceria com o terminal de cruzeiros. "Um sunset ou aniversário de uma empresa ou até um Santo António mais sofisticado", revela.
Mas como junho ainda vai longe, foquemo-nos no que o Choupana tem para oferecer no imediato. Aqui a grande novidade face ao café do Avenida da República são os pratos compostos, com opções de carne, peixe, vegetarianos, saladas, sopas e sobremesas.
Estaladiço de frango aromatizado com manjericão (17€) ou cachaço de porco confitado (16€) são duas das opções entre os pratos de carne e, de peixe, a escolha pode ser, por exemplo, entre lombos de bacalhau assado com cebolada (18€) ou polvo à lagareiro (19€). Para quem prefere pratos vegetarianos há risotto de cogumelos e legumes (15€), strudel de legumes (14€), penne com espargos (16€) ou lasanha (15€).
Os conhecidos brunches do Choupana, que fazem com que ao fim de semana as filas assustem os mais esfomeados, também fazem parte da lista e aqui são servidos diariamente.
Todos partilham a mesma base: cesto de pão, croissant, scone, cappucino, sumo, duas manteigas, doce, mel e iogurte. A partir daqui tem que escolher entre o Alfama (24€) com bife da vazia, salsicha toscana, batata rosti, bacon e ovo estrelado, o Cruzeiro (25€) composto por bagel de salmão marinado, queijo creme, cebola roxa, alcaparras, cebolinho e limão e ainda o Ponte (22€) com legumes frescos salteados e batata doce.
Da lista de cafetaria fazem ainda parte as torradas, sandes, panquecas, tostas, bagels e wraps. E os croissants, claro, que chegam a vender-se aos cem por dia — 200 a fim de semana — e que neste momento estão prestes a entrar no forno.
Márcio Alves já espalhou a massa e cortou-a em triângulos. Vai buscar agora um balde de 22 quilos de chocolate e um pacote de Nestum e prepara-se para pincelar o recheio. "Há quem os prove e me diga que, ainda que não saiba explicar porquê, há ali um sabor familiar", conta.
Depois de enrolados, a massa descansa durante pelo menos meia-hora e vai ao forno por 15 minutos, até que se transformem numa mistura de estaladiço por fora, fofo por dentro e guloso seja qual for o ângulo. O sabor, esse, é a infância.