Lisboa nunca tinha visto nada assim. Propunham-se servir um menu que mudava com aquilo que o mercado e as hortas davam, sem estarem presos a ementas fixas ou a menus de degustação. E é por isso que, hoje, tal como no primeiro dia, uma refeição no Prado é sempre uma surpresa.
"Do almoço para o jantar já se notam diferenças, há sempre pratos a entrar e a sair", conta à MAGG o chef António Galapito que, aos 27 anos, dirige aquele que foi reconhecido pela revista Condé Naste Traveller como um dos melhores novos restaurantes do mundo.
Uma das mais conceituadas publicações do mundo quando o assunto é comer, dormir e viajar incluiu o restaurante português numa lista de nove daqueles que são as mais importantes novidades do último ano.
"Não trabalhamos para os prémios", garante António Galapito, "mas claro que é motivador". O chef, que voltou para Lisboa depois de uma temporada em Londres, onde trabalhou com o chef Nuno Mendes no restaurante Taberna do Mercado, tem dificuldade em decifrar imediatamente aquilo que justifica este tipo de reconhecimento internacional, mas depois de alguma insistência da MAGG, eis que chega a um veredicto: "Trabalhamos com produtos sazonais e locais e, além disso, damos primazia a tudo o que é feito na grelha ou cozinhado de forma bastante simples", explica.
Todas estas características fazem com que o menu seja sempre diferente. "Muda todos os dias e é possível que, ao longo do mesmo dia, sejam retirados ou, normalmente, acrescentados pratos ao menu", explica, do qual fazem parte uns habituais 14 pratos, mais as sobremesas e os vinhos, também eles orgânicos.
Este conceito diferenciador não passou ao lado dos críticos gastronómicos da revista que começam por lembrar uma Lisboa de outros tempos feita de tascas com luzes fluorescentes e travessas cheias de bacalhau à Brás. Não que não as haja, atenção, mas atualmente já temos exemplos como os do Prado que "de uma forma casual-chic serve pratos de partilha feitos de alimentos sazonais, orgânicos e locais". Falam de um menu que é "uma carta de amor a Portugal" e do qual destacam os pratos com carne de porco ibérico, sem esquecer os pratos que juntam o berbigão ao espinafres e aos coentros.
Atualmente, para conseguir jantar no Prado, "às horas portuguesas", como o chef as denomina — algo entre as 20h30 e as 22h — só com uma reserva de pelo menos uma semana. Para os outros horários, apesar de mais folgados, talvez seja melhor que a marcação seja feita dois dias antes.
Confrontamos António Galapito com a expressão "estrela Michelin" e ele reage como se a tivesse ouvido pela primeira vez. "Não é para isso que trabalho. Gostamos do que fazemos e isso chega-nos".