Com tanta América do Sul a entrar em Portugal, qualquer dia temos a patanisca numa luta desigual com o ceviche. Isto não é uma crítica, atenção, é só uma achega, até porque sabemos que desse lado do Atlântico há bem mais do que peixe cru envolto num molho cítrico.
"Sabemos que a comida sul americana está em todo o lado, mas aquela que nós apresentamos é diferente", garante Oliver Gil, o venezuelano que decidiu atracar em Lisboa e abrir no Mercado de Campo de Ourique o "Verde", um restaurante com um toque de Caribe, Portugal e Venezuela, numa vertente mais saudável.
Mas como promessas de vendedor são como elogios vindos dos pais, o melhor mesmo é confirmar — e provar — se tudo isto é verdade.
Comecemos pelas arepas que, por serem feitas à base de farinha de milho, são naturalmente isentas de glúten. Ponto na caderneta do mundo saudável. Os recheios podem ser do mais variado possível, desde a famosa carne mechada, típica da Venezuela, cozida sem gordura durante mais de cinco horas, até frango desfiado com queijo holandês, picanha grelhada ou, na versão vegetariana, espinafres, abacate, cogumelos e tomate seco (mais um ponto). Mas e a tal parte de juntar Portugal à festa? "Temos uma arepa especial", avisa Oliver. Chama-se Ronaldo e é recheada com bacalhau, "o prato preferido do craque".
Ficámo-nos pela veggie, até porque tem sido uma das mais vendidas. Ótima conjugação de sabores e, se pecar, é por excesso. Torna-se difícil dar uma trinca naqueles discos de milho sem termos metade do recheio a cair na mesa. E não estamos em alturas de desperdício. Damos essa dica ao chef, que nos responde com uma salada em forma de obrigada. "Ai salada, lá estão eles outra vez com isto do saudável", parece que já ouço alguém dizer. Mas quero ver essa onda crítica a terminar uma destas taças e a queixar-se de fome.
As saladas são bem servidas, com base de verdes e toppings que podem ter a conjugação de tomate, queijo e abacate no caso da Capresa (7,50€) ou abacate, tomate cherry, pimentos, azeitonas do Douro, iogurte grego com pêras caramelizadas a vinho tinto, caso a opção seja a Salada Verde (8€). Se mesmo assim achar que isto não enche barriga, há sempre a hipótese de juntar mais proteína. Aí pode escolher entre frango, picanha, salmão, camarão grelhado, ovo ou carne mechada.
Da América do Sul vêm ainda os nachos (7€), servidos com tostas estaladiças de milho, acompanhado de queijo e guacamole; empanadas de carne mechada ou frango (2€), bem típicas da Argentina; ou ainda tequeños (4€), uns mini folhados de queijo que, segundo Oliver, não podem faltar na Venezuela como acompanhamento de uma cerveja bem fresca.
E já que falamos em bebidas, apresentamos o menu especial, do qual faz parte o rum —ou não estivéssemos nós numa espécie de bolha sul americana — mas onde o destaque vai mesmo para os chás. Desta é que não estava à espera, aposto. São vinte sabores divididos em seis categorias: preto, branco, verde, infusões de frutos, rooibos e puh-Er, uma espécie de chá que por ser fermentado adquire um sabor mais intenso. Não se admire se vir o funcionário de temporizador na mão enquanto lhe prepara o chá. O tempo de infusão é contado ao minuto e, se preferir beber o chá frio, é arrefecido e filtrado para um copo gelado.
Os mais atentos vão dizer que o Mercado de Campo de Ourique já tinha os batidos detox da "Goji" ou os tártaros da "Carpacceria". Mas o saudável nunca está a mais, muito menos quando esta dose de saúde extra vem em forma de arepa recheada de abacate.