O olhar de quem passava pelo número 113 da Rua dos Bacalhoeiros era guloso, a pedir para entrar. Não havia montra, mas o vidro deixava ver o que estava exposto na vitrine: dez tipos de éclairs, tão bem trabalhados pelo chef pasteleiro João Henriques, que desfazê-los dá sempre pena, mas só até ao momento em que os saboreamos. Daí em diante, não sobra um pingo de remorso. E pouco mais de duas dentadas bastarão para dar cabo do protagonista da pâtisserie francesa, representados nesta casa com o brio que mandam as regras.

“Estamos fechados”, dizia na quarta-feira, 26 de setembro, Matthieu Croiger que, em conjunto com João Henriques, é um dos proprietários franceses, mas luso-descendentes, dos dois espaços em Lisboa: o L'Éclair, no Saldanha, que abriu em 2014, e o mais recente que, desde quinta-feira, 27 de setembro, já recebe todos os clientes que passam pela Rua dos Bacalhoeiros.

A nova loja tem 15 lugares sentados. Ainda sem certezas, há a possibilidade de surgir uma esplanada.
A nova loja tem 15 lugares sentados. Ainda sem certezas, há a possibilidade de surgir uma esplanada.

A loja do Saldanha, pela sua localização, recebe mais os residentes de Lisboa. Apesar de já terem um espaço no Time Out Market, no Cais do Sodré, com o novo L’Eclair espera-se chegar a um público diferente. Com um conceito mais pensado para comprar e levar, as novas portas, a poucos passos do Campo das Cebolas, serão cruzadas sobretudo por quem visita a cidade, ainda que todos sejam bem-vindos. A sala é mais pequena e tem apenas 15 lugares. Prevê-se a introdução de uma esplanada com 20 lugares, mas apenas quando as obras da autarquia previstas para a Rua dos Bacalhoeiros — que será transformada numa zona pedonal — começarem e terminarem.

Vizinha da Cantina José Avillez e do restaurante SáLA, do chef João Sá, é inaugurada com dez éclairs doces ainda da estação de verão. A partir de 16 de outubro, passa a estar disponível a carta outono-inverno, pela primeira vez com onze éclairs doces, em que se mantém alguns dos mais famosos, se reinventam outros e se acrescentam opções totalmente novas, como é o caso do de pistácios e laranja, aquele que estreia como 11.º. Semanalmente, serão ainda adicionadas entre uma a duas inspirações criadas por João Henriques, que explica que um dos objetivos da futura oferta passa por "reduzir os químicos". É através do Instagram que os novos e limitados sabores são anunciados.

Do lado dos salgados, há saladas, tostas e cinco éclairs, dois dos quais (o de magret de pato, com pinhões e o de salmão com creme mascarpone e lima) nos chegaram à mesa em forma de miniatura. A estes juntar-se-ão, também a partir de 16 de outubro, o de camarão e abacate com molho de cocktail ou o de presunto, rockford, nozes e passas. O pequeno-almoço, à semelhança do que acontece na L’Éclair da Avenida Duque D’Ávila, também será uma refeição contemplada. Seguirá o modelo francês, mas na loja da Rua dos Bacalhoeiros acrescentam-se mais opções, como ovos mexidos, ovo cocotte servido em brioche ou croissant misto com bechamel. A tudo isto, somam-se mais protagonistas da pâtisserie francesa, todos feitos por João Henriques: os macarrons, os caracóis, pain au chocolat ou pontualmente, tartes de fruta, que também são anunciadas no Instagram.

Á esquerda, Matthieu Croiger. À direita, João Henriques.
Á esquerda, Matthieu Croiger. À direita, João Henriques.

Desde 2014 que já foram vendidos meio milhão de éclairs. Apesar de terem aterrado em Lisboa da noite para o dia, diretamente vindos de França, em 2013, os dois proprietários já eram ágeis no negócio: Matthieu, formado em Hotelaria e Restauração, com especialização em Gestão e Marketing, trabalhava na direcção do Sofitel, depois de acumular experiência em vários palácios e hotéis de cinco estrelas; João é formado pela Êcole Grégorie-Ferrandi e dirigiu várias secções de pastelaria de restaurantes, tendo ainda trabalhado na Fleur de Mets, uma das mais reputadas empresas de catering francesas.

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Dado o volume de produção, a fábrica, que antes ficava na loja do Saldanha, precisou de mais espaço e passou para Sete Rios, ponto a partir do qual é feita a distribuição. É aqui que tudo é produzido de raiz, incluindo a massa folhada, a componente mais trabalhada e demorada, mas também uma das mais determinantes para se conseguir um produto de qualidade. De acordo com os proprietários, não estão a planear, para já, mais nenhuma abertura. Mas não escondem: “Estamos sempre a pensar no Porto.”

A loja funciona terça-feira, quinta-feira e domingo no horário entre as 9 horas e as 20 horas. Sexta-feira e sábado, está aberto das 9 horas às 23 horas.