Segundo a definição da palavra no dicionário, alquimia refere-se a uma disciplina pré-científica, de carácter esotérico, que contribuiu para o desenvolvimento da química, e que tinha como principais objetivos, entre outros, descobrir a pedra filosofal, substância que seria capaz de converter os metais não nobres em ouro.

É verdade que o novo Al Quimia, o restaurante de fine dining do EPIC SANA Algarve, na Praia da Falésia, em Albufeira, não transforma materiais em ouro, mas arrisco a dizer que o nome escolhido para este espaço não podia ter sido mais perspicaz, ou não fossem as delícias elaboradas pelo chef Luis Mourão autênticas relíquias de sabor.

E falo em novo Al Quimia justamente porque o nome foi a única coisa que se manteve igual neste restaurante depois da grande renovação a que foi sujeito este ano. Derivado de uma necessidade de melhorar ainda mais a experiência aos clientes, o restaurante, inaugurado há seis anos, fechou portas durante meses para um makeover total, das mobílias aos pratos que chegam à mesa, para abrir novamente há cerca de um mês, com uma nova "cara" e conceito.

"Era importante adaptar o espaço à capacidade criativa e dinâmica da equipa, e partir à descoberta de novas experiências gastronómicas", conta o chef Luis Mourão, que reforça que a aposta do espaço é, sem dúvida, a utilização de produtos sazonais, locais e de origens sobretudo sustentáveis.

Morada: Pinhal do Concelho, Praia da Falésia, Albufeira
Telefone: 289 104 300

O chef garante que todos os elementos que compõem os pratos são tratados "com o respeito e integridade que merecem e o mar, que está aqui à vista, é também onde vamos buscar muita da inspiração". E foi justamente de mar, seja na vista ou no palato, que se fez a visita ao Al Quimia.

Chinelos e crianças estão proibidos — e faz todo o sentido

Visitei o restaurante cerca de três semanas depois da abertura oficial após a renovação, mas nada aqui indicava a pouca vida do novo Al Quimia. Mesmo tentando estar atenta a falhas, possivelmente justificadas pelas poucas semanas de existência do espaço, não consegui encontrar (quase) nada a apontar, desde o staff à decoração. E não há crítica possível à confeção da comida ou à frescura dos produtos — mas já lá vamos.

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Apesar de confessar não conhecer o espaço antes da renovação, este restaurante aposta em linhas sofisticadas, mas em dois ambientes muito distintos.

Se na esplanada, onde escolhi ficar, o ambiente é de tranquilidade e aproveita a 100% a paisagem natural do resort, com muita vegetação à frente e o som das ondas do mar — afinal, a praia está a escassos metros —, o interior do Al Quimia remete-nos para um mood mais cosmopolita, quase como se nos tivéssemos teletransportado para um requintado restaurante em Lisboa, Paris ou Nova Iorque.

A esplanada do Al Quimia é ideal para as noites mais quentes

E já que falamos no ambiente, tenha em mente que este é um espaço reservado a maiores de 12 anos e que tem de ter algum cuidado com o que leva vestido, embora não sejam restrições extraordinárias.

"Não é possível a entrada a clientes com vestuário de praia ou chinelos", afirma um funcionário do Al Quimia, algo que pude comprovar no dia do meu jantar, ao ver a hostess pedir educadamente a um jovem que fosse trocar de sapatos, dado que estava calçado com chinelos. Já o pai estava de calções (não de praia, lá está), e não lhe foi impedida a entrada.

Embora possa parecer restrito, faz todo o sentido. Num restaurante imaculado ao ponto de ter um novo guardanapo à minha espera de cada vez que me levantava da mesa, penso que não seria agradável escorregar na areia deixada por chinelos ou roupa de clientes vindos diretamente da praia.

E que me perdoem os pais mais puristas, mas também me fez todo o sentido que o espaço limite a admissão a maiores de 12 anos — até acho que peca por pouco, era capaz de subir a coisa até aos 14 anos. Sim, sou mãe, tenho outra criança a caminho, e a última coisa que queria ouvir num jantar num ambiente destes seria a birra de uma criança ou o som aos berros vindo de um tablet, fruto do vídeo de um qualquer youtuber.

Das pérolas do fundo do oceano a um cozido de carabineiro: assim é a maré de sabor do chef Luis Mourão

Apesar de existirem opções à carta, como o robalo do mar e caviar (34€), o salmonete com xerém (34€) ou o cabrito (36€), os dois menus de degustação, com sete e dez momentos, são a aposta ideal se quer conhecer ao detalhe a mestria do chef Luís Mourão e "a viagem pela cozinha portuguesa e algarvia", como afirma o próprio.

Se o menu O Farroba, com mais pratos de carne, é dedicado à comida de conforto, a escolha pelo Maré Cheia, composto apenas por pratos de peixe — à exceção das duas sobremesas —, pareceu-me ideal numa noite quente de agosto, e num ambiente de férias e descontração.

E por onde começar, meus amigos, por onde começar? Em primeiro lugar, não se deixe assustar pela quantidade de pratos que vai provar, dado que este se trata do menu com dez momentos, aos quais ainda acrescem o couvert, o amuse-bouche e, no final da refeição, a acompanhar o café, ainda o tentam com uns chocolates.

No entanto, e apesar de acabar a refeição mais do que satisfeita, todos os pratos tinham a quantidade certa para um menu de desgustação, e complementavam-se bem uns aos outros, não resultando num sentimento de enfartamento que, por vezes, se sente numa refeição deste tipo e que nos leva a saltar momentos e a recusar pratos.

Mas regressando aos momentos do menu, não posso dizer que algum dos pratos tenha gorado as minhas expectativas, muito pelo contrário. Todos primavam pela frescura dos produtos, quase sempre com um peixe ou molusco como protagonista, mas existem alguns dignos de nota extra, seja pela originalidade ou pela explosão de sabores no palato (sim, andamos claramente a ver episódios de "MasterChef" a mais).

Já passaram alguns dias desde o meu jantar no Al Quimia, mas há pratos do Maré Cheia que ainda não me saíram da memória (ou das papilas gustativas): falo da Pérola, nome dado a uma das entradas, onde a protagonista é uma ostra da Ria Formosa com rábano, com uma "pérola" comestível criada pelo chef que nos faz sentir que engolimos um pedaço de mar, no bom sentido, claro.

O Cozido a Mar, uma reinterpretação do típico cozido à portuguesa, mas com carabineiro e sapateira, completado com um caldo de enchidos que nos leva de imediato até aos almoços de domingo em família é uma combinação improvável, mas vencedora, e os produtos de mar complementam-se a 100% com o caldo mais tradicional, recheado de sabor.

E se estes momentos já merecem uma distinção extra, tenho de arranjar um nível superior extra para o Cataplini, um prato de massa de choco com todo o sabor das tradicionais cataplanas algarvias, que mesmo sendo o sexto momento a ser servido, me fez querer fazer uma paragem e repeti-lo — ou voltar ao Al Quimia todos os dias apenas por este prato.

Exatamente ao mesmo nível, fica o Alimado, um filete de salmonete com xerém, que fecha o menu de degustação no que diz respeito aos pratos salgados, e é bem capaz de ser uma das melhores coisas que já comi na vida. O xerém era saboroso, mas não demasiado pesado e maçudo como pode acontecer com este tipo de pratos, e o peixe cozinhado na perfeição.

Este salmonete ainda não nos saiu da cabeça

Talvez seja nas sobremesas, uma mais ácida com recurso a citrinos e flor de laranjeira, e uma segunda bem doce, com figo e framboesa, que consiga encontrar um ponto menos bom: a meu ver, e depois de um menu tão extenso, talvez não fosse mesmo preciso colocar dois momentos doces — mas sou uma pessoa muito mais de salgados, por isso acredito que os "doceiros" fiquem felizes com a dupla.

Com várias opções de vinhos na carta, se optar por um dos menus de degustação, e estiver mesmo interessado em apostar tudo na experiência gastronómica, recomendo que peça a ajuda de Hugo Ribeiro, o sommelier do Al Quimia, e escolha a harmonização de vinhos.

O talento de Hugo Ribeiro para conjugar os diferentes vinhos com a dezena de pratos eleva ainda mais a experiência, e só tenho pena do meu atual estado de gravidez não me ter permitido aproveitar em pleno a harmonização do sommelier do espaço. Ainda assim, com uma prova aqui e ali, e sempre atenta ao cheiro, destaco o incrível espumante da Bairrada a abrir a refeição, que mostra a muitos que os produtos nacionais são tão bons (ou melhores) como muitos champanhes internacionais.

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Não resisti também a provar um late harvest de 2017, Petit Manseg, da adega Sousa Lopes — uma colheita muito restrita, com apenas duas mil garrafas fabricadas —, com o sabor mais improvável: maçã cozida. Entre as outras notas da colheita tardia, o sabor a maçã cozida era muito distinto e um dos primeiros a identificar. E não, a gravidez não me deixou maluca, com o sommelier a confirmar a minha descoberta.

O menu de degustação Maré Cheia, com dez momentos, tem o valor de 110€ por pessoa, sem bebidas. Caso opte pela harmonização de vinhos, é acrescido um valor de 55€, também por pessoa. O Al Quimia está aberto de terça-feira a sábado, entre as 18h30 e as 22h30. Pode reservar a sua mesa através do telefone 289 104 500.

E o que é que tem o hotel?

Para além do jantar no Al Quimia, tive a oportunidade de ficar alojada durante o fim de semana no EPIC SANA Algarve, o resort de cinco estrelas que acolhe o restaurante de fine dining, mas tem muito mais para oferecer. Continuando a falar de comida, o empreendimento na Praia da Falésia tem mais cinco espaços dedicados às refeições e à bebida, entre restaurantes familiares, de refeições mais leves, gastronomia nacional e italiana, e ainda dois bares.

O Open Deck, mesmo junto a uma das piscinas, serve snacks, saladas, peixe e refeições mais leves durante o dia, dando apoio aos clientes que passam o tempo junto à água, para durante a noite se transformar num ambiente mais requintado e deliciar os mesmos clientes com o melhor da cozinha portuguesa.

Já o Lima, o restaurante de comida italiana, divide-se entre pastas, risottos e pizzas, e o Abyad aposta no conceito buffet, sendo também neste restaurante que se servem os pequenos-almoços.

Mesmo junto à praia, este é o hotel ideal para umas férias em casal ou em família. Pode optar por descer até à Praia da Falésia através do acesso privado do resort (embora a praia seja pública e não consiga escapar às enchentes dos meses mais quentes), ou escolher as várias piscinas do hotel — ao total, são cinco, incluindo a interior e a dedicada a crianças.

E recorda-se de lhe dizer que tanto casais como famílias ficam satisfeitas com a oferta do hotel? Saiba que uma das piscinas é exclusiva para adultos, com camas duplas ideais para namorar e apanhar sol junto à mesma. Ao lado, fica a piscina principal, aberta a todos, e com uma maior dimensão e água aquecida.

Os quartos são espaçosos, as casas de banho apostam num design algo futurista e as varandas permitem-lhe uma vista incrível do Oceano Atlântico. O EPIC SANA Algarve conta ainda com o spa Sayanna Wellness, com várias opções de tratamentos e massagens.

Nesta época do ano, os preços para a estadia de uma noite em quarto duplo começam nos 333€.

*A MAGG visitou o Al Quimia e o hotel a convite do EPIC SANA Algarve.