"No outro dia apareceu-me aqui um senhor a apontar para o ecrã do telemóvel e a dizer: 'É isto que eu quero comer'", conta Ana Lopes. A fotografia era do Instagram e mostrava um dos pratos mais pedidos da casa, os ovos no forno com tomate e espinafres.

Anda que as fotografias encham os olhos, o Escalfado devia era apostar em vídeos feitos em câmara lenta. Talvez só assim se conseguisse apanhar aquela fração de segundo em que a gema rebenta com a faca, espalhando o creme amarelo mesmo a pedir uma fatia de pão. E o que é servido aqui é da Terrapão. Casamento perfeito.

Morada: Rua do Merca-Tudo, 4, Lisboa

Horário: 9h-17h (fecha à segunda-feira). Em breve abre para jantares às quintas, sextas e sábados

O nome escalfado "é giro de se dizer", garante Ana, enquanto o repete algumas vezes. "Mais giro ainda quando dito por estrangeiros", acrescenta, até porque são muitos os que fazem questão de parar por aqui para uma refeição que se quer sem hora marcada.

No Escalfado, ainda que a funcionar das 9 às 17 horas, não existe hora para pequenos-almoços e lanches, que podem ser pedidos a qualquer hora, até mesmo ao almoço, ainda que nesse período haja sempre um menu especial. Pastéis de massa tenra de camarão com arroz de marisco (12€), barriga de porco com puré de ervilha, ovo escalfado e presunto crocante (12€) ou bacalhau escalfado com puré de grão (13€) são algumas das especialidades que ficam sempre na carta, às quais se juntam pratos especiais, como a carbonara. Quem teve a sorte de provar, diz que está aqui uma das melhores de Lisboa.

Comida de conforto, agora também ao jantar

Não foi fácil encontrar um espaço que considerasse perfeito para abrir o seu primeiro restaurante. É que Ana é arquiteta e, como tal, não lhe servia qualquer loja equipada à la IKEA. Foi no antigo Merca-Tudo, restaurante mítico de Lisboa, que encontrou tudo aquilo que queria: azulejos na parede, mármores à vista, balcões antigos. Pormenores de construção aos quais juntou uma decoração minimalista, de onde apenas se destacam os vasos de flores.

É esta a equipa do Escalfado. Ana (segunda à esquerda) juntou as suas ideias a quem as sabe pôr em prática
É esta a equipa do Escalfado. Ana (segunda à esquerda) juntou as suas ideias a quem as sabe pôr em prática

Quanto à cozinha, deixou-a nas mãos de Mariana Claro que, com 27 anos, já passou pelas cozinhas da Bica do Sapato, Feitoria e Pasta Non Basta. Talvez venha daí o segredo da carbonara.

Ainda assim, o menu foi pensado em equipa, até porque, ainda que Ana não cozinhe profissionalmente, sabe bem aquilo que quer ver nos pratos que lhe saem da cozinha. "Queria ter um restaurante a servir confort food, onde as pessoas se sentissem satisfeitas e em casa, sem aquelas etiquetas do fine dining", explica à MAGG. E agora, a partir de maio, vai adaptar os horários aos apetites mais tardios dos portugueses e passa a servir jantares às quintas, sextas-feiras e sábados. O menu, esse, ainda está em aberto, mas Ana garante que será "de petiscos, de partilha, simples, mas cheio de sabor".

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Já no menu que enche o dia, nota-se uma mistura entre o tradicional e o moderno em pratos como o bacalhau escalfado, uma espécie de meia-desfeita, ou a barriga de porco com puré de ervilhas e ovo, numa versão diferente de ervilhas com ovos escalfados.

E aqui não vão de modas. É certo que há tostas de abacate, mas só as servem quando têm abacates portugueses. Mas mesmo se não houver, não se preocupe. O que não falta aqui são pratos de nos deixar naquela indecisão entre mais uma garfada ou mais uma foto para encher o feed.

Na secção de pequeno-almoço servido todo o dia, há bolos à fatia (2,50€), panquecas de aveia (6€), panquecas de ricotta (7€), torrada com húmus de beterraba, tahini e ovo escalfado (5,50€) ou espargos grelhados com ovo escalfado e molho bearnês (7,5€).

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Nota-se muito que escalfado é umas das formas preferidas que Ana tem de comer ovos? Mas gostos à parte, a verdade é que a escolha do nome do restaurante ficou da logística de ter uma cozinha pequena para servir os 48 lugares que enchem a sala e a esplanada. "Os quatro bicos de fogão não eram suficientes para fazer ovos escalfados, mexidos, estrelados e omeletes. E a escolher, claro, ficaram os escalfados".