- Pensar que tudo isto começou num guia feito para ajudar quem andava na estrada é surreal.
Pelos pudins de santola, as trufas negras e o lavagante que por aqui já passaram, cheira-me que já ninguém se lembra que o primeiro guia Michelin, criado em 1889, tinha informações tão técnicas como onde está a bomba de gasolina mais próxima, como se muda um pneu ou qual o restaurante onde se pode trincar qualquer coisa antes de continuar viagem.
Os irmãos Michelin perceberam que de todo esse almanaque, era a comida que puxava carroça e é por isso que, para saber onde pôr gasolina ou aprender a mudar um pneu contamos com as aplicações no telemóvel, mas ninguém nos tira a curiosidade em saber quais os restaurantes de beira de estrada — ou a pedir um desvio — que nos obrigam a parar.
E é por isso que hoje não há caminhos alternativos. Todas as estradas do mundo —gastronómico, pelo menos, — vão dar ao Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, onde acaba de ser apresentado o Guia Michelin ibérico de 2019.
Para Portugal, que se estreia enquanto anfitrião da gala, há boas e más notícias. Primeiro as boas que, afinal, o dia é de festa. Portugal não perde nenhuma das estrelas conquistadas no ano anterior e às 28 estrelas espalhadas por território nacional, junta mais quatro. Agora a má notícia: ainda não é desta que temos um restaurante português com três estrelas, a classificação máxima dos críticos, que se traduz numa “cozinha de nível excecional".
O foco estava apontado para o Belcanto, de José Avillez, não só por ter já duas estrelas desde 2015, mas também porque o chef venceu este ano o prémio de “Melhor cozinheiro do ano”, o Grand Prix de L’Art de la Cuisine, atribuído pela Academia Internacional de Gastronomia.
Arrumadas as previsões que não se concretizaram, foquemo-nos nas conquistas. Portugal ganha quatro novas estrelas e tem atualmente 32 estrelas.
O Alma, espaço de Henrique Sá Pessoa soma mais uma estrela e é agora um restaurante com duas estrelas Michelin.
As estreias neste mundo dos prémios gastronómicos dá-se com a estrela entregue ao Midori, em Sintra, do chef Pedro Almeida e a festa continua a norte, com a entrega da primeira estrela ao G Pousada, em Bragança, do chef Óscar Geadas, e ao A Cozinha, em Guimarães, do chef Pedro Loureiro.
Feitas as contas, Portugal soma 32 estrelas, espalhadas por 26 restaurantes.
Não nos podemos esquecer é que a esta gala é ibérica e Espanha também tem estrelas a somar às conquistadas. O restaurante Dani Garcia conquista três estrelas e as duas estrelas são atribuídas aos restaurantes Cocina Hermanos Torres (Barcelona), El Molino de Urdaniz (Urdaitz) e Ricard Camarena (Valencia). Com uma estrela, Espanha ganha 22 novas entradas na lista.
Por encerramento do estabelecimento, por alteração de local ou simplesmente porque os inspetores não reconhecem a mesma qualidade, foram treze os restaurantes espanhóis a perder uma estrela Michelin.
E antes de darmos um fim à festa — que há canapés de chef para provar —, é importante lembrar uma distinção sem direito a estrelas mas nem por isso menos importante. Os Bib Gourmand distinguem restaurantes com uma boa relação qualidade/preço e, este ano, distinguem a tasca do Zé Tuga, em Bragança, e o Avenida, em Lagos.
Aqui fica a lista completa de Estrelas Michelin 2018 para Portugal Michelin:
Restaurantes com duas estrelas:
- Alma (Lisboa), Henrique Sá Pessoa — MAIS UMA ESTRELA
- Belcanto (Lisboa), José Avillez
- Il Gallo d’Oro (Funchal, Madeira) - Benoit Sinthon
- Ocean (Armação de Pêra), Hans Neuner
- The Yeatman (Vila Nova de Gaia), Ricardo Costa
- Vila Joya (Albufeira), Dieter Koshina
Restaurantes com uma estrela:
- A Cozinha (Guimarães), Pedro Loureiro
- G Pousada (Bragança), Óscar Geadas — NOVO
- Gusto by Heinz Beck (Conrad Algarve Hotel, Almancil)
- Vista Restaurant (Praia da Rocha, Portimão)
- Antiqvvm (Porto), Vitor Matos
- Bon Bon (Carvoeiro), Rui Silvestre
- Casa da Calçada (Amarante), André Silva
- Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira), Rui Paula
- Eleven (Lisboa), Joachim Koerper
- Feitoria (Lisboa), João Rodrigues
- Fortaleza do Guincho (Cascais), Miguel Vieira
- Henrique Leis (Almancil), Henrique Leis
- LAB (Penha Longa, Sintra), Sergi Arola
- L’And Vineyards (Montemor-o-Novo, Alentejo), Miguel Laffan
- Loco (Lisboa), Alexandre Silva
- Pedro Lemos (Porto), Pedro Lemos
- São Gabriel (Almancil), Leonel Pereira
- William ( Funchal, Madeira), Luís Pestana
- Willie’s (Vilamoura), Willie Wurger