A 25 de fevereiro deste ano ocorreu, no Porto, a Gala Michelin Portugal 2025. Ainda não foi desta vez que passou a existir algum projeto galardoado com três estrelas. Mas, afinal, o que falta para esse marco? Falámos com três chefs premiados para tentar perceber.

Gala Michelin Portugal 2025. Portugal continua sem 3 estrelas (mas Marlene Vieira salvou a noite)
Gala Michelin Portugal 2025. Portugal continua sem 3 estrelas (mas Marlene Vieira salvou a noite)
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Todos os oito restaurantes distinguidos com duas estrelas Michelin em 2024 mantiveram a distinção (ALMA, Belcanto, Casa de Chá da Boa Nova, Il Gallo d'Oro, Ocean, The Yeatman, Antiqvvm e Vila Joya), não tendo sido acrescentado nenhum outro.

"A Estrela MICHELIN é atribuída a restaurantes que oferecem uma experiência gastronómica excecional. Temos em consideração cinco critérios universais: a qualidade dos ingredientes, a harmonia dos sabores, o domínio das técnicas, a personalidade do chefe expressa através da confeção e, não menos importante, a regularidade em todo o menu e ao longo do tempo", pode ler-se no site. O que está por cumprir?

Chef Rui Silvestre (Fifty Seconds, 1 estrela Michelin)

"Falta tempo, só. Temos cada vez mais talento em Portugal, temos muitos restaurantes que trabalham melhor. Há alguns anos, via-se muita coisa parecida em todos os restaurantes, os mesmos produtos, as mesmas técnicas, e parecia que havia uma fórmula que todos achavam que era a verdadeira para ganhar estrelas ou outros prémios. Hoje em dia, trabalha-se muito bem de norte a sul do País, com muitas cozinhas diferentes, muitas personalidades diferentes", nota o chef.

"Qualquer restaurante galardoado hoje em dia faz trabalhos muito próprios. É uma questão de tempo. Somos um País com muita cultura gastronómica de casa. A nível de restaurantes de autor, de fine dining, não somos tão antigos quanto isso. Há cinco anos tínhamos 12 restaurantes com uma estrela Michelin. Hoje temos 38", relembra.

"Quer dizer que a Michelin está a reconhecer o valor que nós temos. As novas gerações estão a trabalhar muito bem, sempre com o apoio das gerações antigas. É inevitável que Portugal vá ter três estrelas Michelin. Não tenho dúvidas de que, quando estivermos nesse nível, a Michelin vai reconhecer", conclui.

Chef Rui Paula (Casa de Chá da Boa Nova/DOC/DOP, 2 estrelas Michelin)

"Portugal é um País maravilhoso, pequeno e eclético. Temos 14 regiões de vinho, coisas únicas, uma gastronomia própria, com história. Temos de nos comparar com outros países. A nossa dimensão não é assim tão grande. Acho que isso deve ser um dos parâmetros, porque ainda não há. Não quer dizer que não se mereça, mas, se calhar, o Guia Michelin acha que ainda não…", reflete.

"Nós não começámos assim há tanto tempo a dar os primeiros passos. Temos uma comida muito boa, com história, estufados, cozidos, fritos, grelhados, imenso potencial, mas não havia restaurantes à altura para mostrar essa gastronomia. Hoje há uma geração de jovens a dar os seus passos. Temos de continuar este trabalho forte, ou seja, mostrar a comida de outra maneira, que os vinhos estejam adequados para os pratos, que estejam à temperatura correta, respeitar o produto, não deixar secar o peixe ou a carne, e nós já estamos a fazer isto", crê.

"Se vamos ter este ano, no ano que vem, não sabemos. Acho que os inspetores são umas pessoas muito válidas, e é um guia que paga as suas contas. Vai ao restaurante, paga a sua conta e vai-se embora. Eu quero jogar esse jogo, eu quero que eles me visitem, mas eles pagam a sua conta e são livres de acharem o que quiserem. Quem sou eu para dizer que eles estão errados? Posso ter as minhas opiniões, mas a verdade é que eles é que sabem", acredita.

"Também não podemos ser ressabiados. Não podemos andar a falar mal disto, porque nós queremos isto. É continuar o caminho que estamos a ter, porque a vamos ter, mais tarde ou mais cedo. A nossa gastronomia tem muito potencial. É navegar nestas águas para atingir o bom porto", termina.

Chef Hans Neuner (Ocean, 2 estrelas Michelin)

"Outros países começaram há 60/70 anos e nós estamos aqui há uns 20. Acho que é só uma questão de tempo. O tamanho do País não é a principal razão. Acho que as novas gerações têm de trabalhar por isso. Mais tarde ou mais cedo, alguém vai conseguir. Há tantas vezes na vida em que temos de esperar para as coisas boas acontecer. Às vezes demora mais tempo. É um jogo de poder", compara.

"Não quero irritar ninguém da Michelin. Se eu soubesse a resposta, já teria a estrela. Acho que já não faltará muito tempo. Todos temos de nos esforçar mais e mais, de ficar juntos. E depois vamos consegui-la. Andar a lamentarmo-nos não nos leva a lado nenhum", menciona.

"Chorar ok, todos chorámos depois da gala Michelin, muitos não gostaram, mas, no dia seguinte, temos de o pôr para trás, manter a concentração e trabalhar. Não desistir. Se fosse muito fácil de atingir, não teria tanto valor", remata.

Relembre as distinções da Gala Michelin Portugal 2025

1 estrela Michelin

  • Arkhe (chef João Ricardo Alves)
  • Blind (chef Vítor Matos e Rita Magro)
  • Grenache (chef Philippe Gelfi)
  • Marlene, (chef Marlene Vieira)
  • Oculto (chefs Vítor Matos e Hugo Rocha)
  • Palatial (chef Rui Filipe)
  • Vinha (chefs Henrique Sá Pessoa e Jonathan Seiller)
  • Yõso (chef Habner Gomes)

Estrela Verde

  • Encanto (chef José Avillez)

Bib Gourmand

  • Canalha (chef João Rodrigues e Lívia Orofino)
  • Contradição (chef Óscar Geadas)
  • Oma (chef Luís Moreira)
  • Pigmeu (chef Miguel Azevedo Peres)
  • Terruja (chef Diogo Caetano)

Recomendados (35)

  • Bistrô by Vila Foz (chef Arnaldo Azevedo)
  • Cibû (chef Hugo Portela)
  • Culto ao Bacalhau (chef Américo Peneda)
  • Esperança Verde (chef Hugo Sousa)
  • Flor de Lis by Vila Voz (chef Arnaldo Azevedo)
  • Kaigi (chefs Nuno Brás e Vasco Coelho)
  • Le Babachris (chef Christian Rullán)
  • Mito (chef Pedro Braga)
  • O Filho da Mãe (chef Wesley Amorim)
  • Real by Casa da Calçada (chef Emiliano Savio)
  • Seixo by Vasco Coelho Santos (chef Vasco Coelho Santos)
  • Tokkotai (chef Paulo César Nogueira)
  • Ceia (chef Renato Bonfim)
  • Conceito (chef Daniel Estriga)
  • Izakaya (chefs Tiago Penão e Isaac Jorge Penão)
  • Las Dos Manos (chef Kiko Martins)
  • Memórias Santar (chef Luís Almeida)
  • Omakase Ri (chef William Vargas)
  • Oven (chef Hari Chapagain)
  • Prosa (chefs João Covas e Rui Paula)
  • Safra (chef Sérgio Silva)
  • Vibe by Mattia Stanchieri (chef Mattia Stanchieri)
  • Ákua (chefs Júlio Pereira e Liliana Abreu)
  • Atlântico (chef João Sousa)
  • Audax (chef César Pereira)
  • Avista Ásia (chefs Rui Pinto e Benoît Sinthon)
  • Cavalariça Évora (chefs Bruno Caseiro e Catalina Viveros)
  • Gazebo (chef Filipe Janeiro Grácio Gomes)
  • Hibrido (chef João Narigueta)
  • Legacy Winery (chef Emanuel Rodriguez)
  • Mapa (chef David Jesus)
  • Oxalis (chef Gonçalo Bita Bota)
  • Restaurante F (chef Luis Oliveira)
  • Sublime Comporta Beach Club (chef Diogo Gonzaga)
  • Vistas Monte Rei (chef André Simão)
  • Prémio Sala (distinção atribuída ao melhor chefe de sala português): Nelson Marreiros (Ocean)
  • Prémio Jovem Chef: José Diogo Costa (William)
  • Prémio Melhor Sommelier: Marc Pinto (Fifty Seconds)