
No momento em que o Governo liderado por Luís Montenegro caiu, a 11 de março deste ano, estávamos prestes a ter, pela primeira vez, um jantar com cinco estrelas Michelin, preparado pelo chef Rui Silvestre (Fifty Seconds, 1 estrela Michelin), pelo chef Rui Paula (Casa de Chá da Boa Nova/DOC/DOP, 2 estrelas Michelin) e pelo chef Hans Neuner (Ocean, 2 estrelas Michelin).
Esta experiência única aconteceu no Fifty Seconds, o restaurante situado no edifício mais alto de Portugal, a Torre Vasco da Gama, no Parque das Nações, em Lisboa, com 145 metros de altura. Este espaço, que abriga o hotel Myriad by SANA, foi o palco escolhido para a união da mestria deste trio de chefs.
O menu, intitulado 1497, fazia referência à partida de Vasco da Gama na viagem em que chegaria à Índia e às origens indianas do chef Rui Silvestre. Foi composto por 15 momentos que tiveram o oceano como protagonista. Tanto as propostas de comida como de bebida impressionaram, quer pelos sabores, quer pela conjugação de ingredientes, mas mais ainda pela atenção ao detalhe.
Afinal, uma experiência Michelin é isso mesmo. Quer-se distinta das restantes, com maior qualidade, e nada pode falhar. No que difere de uma ida a um restaurante não distinguido por este guia? Em muita coisa, como o silêncio entre os funcionários e a forma como comunicam com o olhar, sem margem para erro.
Os talheres são trocados a cada prato, assim como a loiça, que é imaculada, escolhida a dedo e, muitas das vezes, exclusiva. A toalha permanece intocada durante toda a refeição, sem um único pingo derramado, já que existe o cuidado de limpar a cada despejo.
Não nos sentamos sem a ajuda de alguém, que nos puxa a cadeira, e até as malas têm direito a um assento. O nosso guardanapo é substituído enquanto vamos à casa de banho, que é limpa a cada utilização (e que possui possivelmente a melhor vista de Lisboa, melhor do que a de muitos rooftops).
Quem nos serve está sempre numa coordenação brutal. Uns usam luvas, outros ficam atentos para antecipar e colmatar necessidades. É realmente um serviço de excelência que impressiona, assim como o espaço, que contribui para esta atmosfera especial.
Entre mesas redondas, garrafeiras iluminadas e tons azuis e rose gold, o Fifty Seconds aposta com frequência neste tipo de eventos premium. Com cerca de 70% de clientela estrangeira, ocupa facilmente todos os 35 lugares à disposição. O espaço liderado por Rui Silvestre está há sete anos a trabalhar pela segunda estrela Michelin.
A ementa da noite: 1497
O menu 1497, a seis mãos, teve o custo de 350€ por pessoa, com harmonização de vinhos incluída.
- cogumelos | citrinos | anchovas | sapateira | Singapura | shiso - chef Rui Silvestre;
- wasabi | alho negro | beterraba - chef Hans Neuner;
- taco | frutos do mar - chef Rui Paula;
- ouriço | cebola | imperial gold | lírio | jalapeño | pepino - chef Rui Silvestre;
- lavagante | ananás dos Açores - chef Rui Paula;
- atum | caviar oscietra | wasabi - chef Rui Silvestre;
- carabineiro | kohlrabi | pimenta kampot - chef Hans Neuner;
- enguia fumada | masala | beterraba | polvo | alioli | gochuan | pregado | berbigão | yuzu kosho - chef Rui Silvestre;
- citrinos | shiso | gengibre | avelã | arando | coco | aletria | manga | alfarroba | pistácio | chocolate cravinho | caramelo - Patrícia Godinho;
- harmonização de vinhos encabeçada pelo sommelier Marc Pinto, que elegeu referências como Hehn Reserva 2017, Oboé Vinhas Velhas 2013 e Rafael Palácios Louro 2016.
O novo menu de degustação do Fifty Seconds
"Começo agora o meu segundo ano no restaurante, o primeiro foi quase um ano zero, agora com outro à vontade e com um senso de pertença muito maior. Vamos ficando mais experientes", disse o chef Rui Silvestre, em entrevista à MAGG.
"Ano após ano, temos sido mais consistentes, mais focados naquilo que realmente interessa: a experiência do cliente. Quero que seja única, que não possa ser repetida noutros restaurantes, com muita personalidade, muita atenção ao serviço. Continuamos a trabalhar com os melhores produtos possíveis e imaginários", afirma, sobre o novo menu de degustação "Fauna e Flora, que está disponível em três formatos: dez pratos (195€), 12 pratos (215€) e 14 pratos (235€).
- ostra Bloody Mary;
- harissa | lavagante;
- gamba violenta | tom yum;
- sapateira | malagueta | lima kaffir;
- lírio | jalapeño | pepino;
- atum balfegó | oscietra caviar | wasabi;
- ouriço do mar | imperial gold | cebola;
- carabineiro | caril | limão;
- pregado | funcho | yuzu kosho | curcuma;
- polvo | masala | beterraba;
- borrego | alcachofras | tagine;
- citrinos | ruibarbo | gengibre;
- avelã | coco | arando;
- aletria | manga | alfarroba | pistácio.
"O nosso objetivo é evoluir sempre, ser melhor, ser mais consistente, dar uma experiência cada vez melhor aos clientes. A Michelin é soberana. Enquanto profissional, deram-me tudo — oportunidade de ter um nome, de viajar, de ter o meu valor reconhecido. É o terceiro restaurante onde tenho uma estrela Michelin. Quero a segunda, a terceira estrela. O caminho faz-se caminhando", conclui.