Tudo começou em 2013 com uma motinha amarela dentro do Castelo de São Jorge. Parada, deu a conhecer as conservas portuguesas premium da Miss Can aos turistas, mas Tiago Ribeiro, responsável pela marca, decidiu pôr as rodas a funcionar e levá-la pelo mundo. O objetivo não era propriamente chegar e deslumbrar os estrangeiros, mas levar um pouco de Portugal aos portugueses emigrados.
A motinha Ape 50 da Piaggio passou pelos principais países com comunidades portuguesas, como Espanha, França e Suíça, e acabou em Copenhaga, Dinamarca, onde se destacou no concurso Arla Food Innovation Challenge, no Creative Business Cup. A Miss Can mostrou que pode mesmo tudo, tanto, que teve a lata de saltar para o prato. É assim através da nova loja online, cujas conservas tradicionais chegam ao pratos dos portugueses, bem como da petiscaria que, desde 2016, serve os clientes como amigos em casa.
"Se vamos a casa de alguém e nos servem um vinho, não vamos dizer que queremos outro. Aqui temos os da casa e são esses que servimos", explica Tiago, que é o anfitrião desta casa, em quem os convidados confiam na escolha do vinho. O tinto é servido à moda antiga, num pequeno copo, e é pedido independentemente de aqui se servir peixe (e um nadinha de carne, já lá vamos). Na petiscaria Miss Can também há rosé, branco e verde, ginja para terminar, embora normalmente a preferência seja uma cerveja.
Nas opções sem álcool, é sugerida uma limonada (2,50€) — receita da casa e aquela que nos acompanhou a bordo desta navegação entre peixes da costa portuguesa.
A Miss Can e nós também conseguimos acabar com tudo num ápice
O nome Miss Can deriva de uma ideia com mais de 100 anos: o avô de Tiago Ribeiro, Alberto Soares Ribeiro, que foi responsável da conhecida marca de conservas portuguesas Gizela, considerava que as conservas deviam ter nomes de mulheres para representar o amor platónico do conserveiro. Foi por isso que surgiu esta miss pela qual nós, que não somos conserveiros, ficámos também apaixonados.
Primeiro, chegaram à mesa da petiscaria azeitonas e tremoços (1,50€). Porquê esta oferta inicial numa casa de conservas? Porque muitos dos estrangeiros que aqui passam — menos do que na era pré-COVID-19 — não sabem o que é um tremoço nem como comer. Tiago quer dar a conhecer um pouco de tudo o que temos na gastronomia portuguesa, por isso, não podia faltar esta combinação para dar inicio à viagem pelo mar português e uma coisa é certa: "Eles adoram", confirma o responsável.
Depois de um gaspacho fresco e no ponto certo (3€) e de um queijo fresco artesanal de ovelha (2€), seguiram-se as conservas, apresentadas em pequenos pratos e acompanhadas de saladas variadas (3,50€ cada): de batata, ovo cozido e salsa, temperada com azeite; de feijão frade, com chouriço (ora aqui está a carne), cebola e salsa picada; e de tomate à algarvia.
Assim que a mesa estava composta, o cheiro inaugurou a refeição. Cheirava a peixe fresco, quase como se estivéssemos a comprar num mercado local, mas sem ser desagradável. As conservas são de peixes da costa portuguesa — exceto o bacalhau que vem da Noruega — e são todas preparadas por cá de forma artesanal (o descabeçamento e evisceração são feitos à mão, bem como o embalamento de cada lata) e "com amor", diz Tiago, por vários parceiros da sua confiança que são quase família. As conservas são sujeitas a uma leve cozedura a vapor, o que faz com que a gordura não vá para a lata, tornando o sabor ainda mais autêntico e a textura igualmente única. Conferimo-lo com uma seleção de conservas, algumas novas na Miss Can e outras que já fazem parte da casa e são um sucesso. Vamos dedicar um momento a cada uma delas (desde 4,50€).
Aliás, um momento especial à nossa nossa favorita: a ventresca de atum. Trata-te da barriga do atum, que ao contrário dos filetes, por exemplo, não é nada seca e quase desliza na boca. Por falar nisso (e a razão de esta ter sido a nossa conserva favorita) foram várias as vezes em que deslizámos o pão no molho de azeite, que era bastante suave.
Seguiu-se o polvo em azeite, que não é daqueles para meter a despachar numa salada de polvo. É para comer assim mesmo, como merece esta conserva, e a acompanhar das saladas especiais. A viagem continuou pelas lulas recheadas em azeite, uma nova versão das anteriores à portuguesa, com têm arroz e uma espécie de tomatada, que permite desfrutar do sabor puro das lulas.
Não falamos em fim, porque foi uma roda viva entre mais um pedaço de atum e um tentáculo de peixe, mas ainda provámos a nova proposta da Miss Can: lingueirão ao natural que não ficou para contar história, bem como o molho. Esta nova conserva levou-nos por momentos para junto do mar apesar de estarmos no centro histórico de Lisboa. Para rematar, a petiscaria Miss Can tem uma mousse de chocolate caseira (3,50€) e não daquelas instantâneas que comemos só pela gula.
Não precisa de ficar com inveja porque além de ser sempre bem-vindo na petiscaria junto ao Castelo de São Jorge, pode sempre fazer uma encomenda na nova loja online. Se não quiser o verdadeiro sabor do peixe e preferir algo mais elaborado, a Miss Can tem uma seleção com temperos mais elaborados, desde as conservas à portuguesa, à poveira, com grão-de-bico, alho e em tomate. Para os amantes de picante há duas versões, uma simples e outra com pickles (trouxemos esta última para casa e vão por nós: o picante é quanto baste e dá um toque especial a qualquer salada simples).
Pode encomendar latas individuais (desde 4€), um pack de quatro, com diferentes temperos para um mesmo tipo de peixe e, se pedir vários, completará um puzzle que remete para a sereia Miss Can (a partir de 11€) — ofertas que também vai encontrar à venda na petiscaria — ou, caso seja esquecido e queira garantir que tem sempre conservas premium em casa, pode aderir à canmunity, um serviço de subscrição mensal em que packs de quatro, seis ou nove conservas lhe chegam a casa todos os meses (desde 12€).