Ainda antes de entrar começa a ecoar-nos na cabeça “Welcome to the jungle, we’ve got fun and games”, mas seria mais justo se fosse numa versão de bossa nova, porque se a selva do Sauvage tivesse de corresponder a um estilo musical, seria bastante mais calmo e alegre do que aquele para aonde a eletricidade dos Guns N'Roses nos transporta.
O novo restaurante de fine dining de Lisboa não fica nos lugares mais óbvios, o que significa que para comer envolto num glamour descontraído não precisa de se deslocar aos pontos preferidos dos turistas, como o Chiado, Príncipe Real ou Cais do Sodré. Ainda que pensado para receber quem quiser entrar, será naturalmente uma aposta que serve mais portugueses do que estrangeiros, não fossem as Avenidas Novas, bem perto do Campo Pequeno, um local mais residencial do que turístico.
Descontraído e para descontrair, nasce no sítio que antes pertencia ao Masstige Avenidas. António Carrilho e Rui Jácome, os dois sócios do Sauvage, não estranham o espaço, porque também já estavam envolvidos na sociedade que formava o negócio anterior. Mas está tudo diferente, começando pela decoração e terminando na carta, os dois elementos em que a materialização do novo restaurante é mais evidente.
"Criámos uma marca nova, com uma identidade nova, com um conceito novo", explica à MAGG António Carrilho.
Com 60 lugares sentados no interior e 24 na enorme esplanada num pátio interior, as plantas espalhadas por todo o espaço, a trepadeira que cobre a parede da entrada, os papéis de parede, as aves exóticas representadas em quadros, as madeiras das mesas e os tons terra transportam-nos para uma espécie amazónica. Olhar para a carta, composta por mais de 30 opções, elaboradas pelo chef Ricardo Gonçalves, é como cair de paraquedas num sítio que é vários, porque há vestígios de muitos sítios do mundo, se bem que sempre com um twist português.
Vejamos. Para começar, há nigiri de pato fumado, com molho teriyaki de laranja; há taco com recheio de carne de porco desfiada, alface romana e molho barbecue (9€, duas unidades), há foie gras com pão de focaccia e espuma de café (10,50€). Entre os principais, além de saladas, massas e risottos, há pratos do mar e da terra: sugere-se o lombo de bacalhau lascado com ketsiap de tomate, cebolada, gelatina de sala e baratas à portuguesa (16,50€); ou ainda o magret de pato, com puré de pastinaca, cebola caramelizada, couve romanesca e molho de laranja brandy (16,50€).
Entre as sobremesas, tem uma nova versão de mousse de chocolate, que aqui leva creme mascarpone e nougat de amendoim (4€), sem esquecer a panna cotta de chocolate branco, com culi de frutos vermelhos (4€).
Somamos a tudo isto uma vantagem muito prática: neste fine dining, onde a refeição à noite ronda os 25€, há menus de almoço a um preço muito acessível: por 10€ tem direito a um prato de carne ou peixe, estabelecidos previamente pelo chef, uma sopa ou sobremesa, uma bebida e ainda café.
Terminamos com aquilo com que começa o restaurante: o bar. Mesmo que não queira almoçar ou jantar, convida-se quem passa pela Avenida António Serpa a parar ao balcão e a escolher uma das opções da carta — onde se incluem 12 cocktails que podiam ser clássicos, não fosse o twist à Sauvege — e a desfrutá-la, até porque nas noites mais animadas as portas do restaurante estão abertas até à uma da manhã. E não nos podemos esquecer que há uma esplanada tropical. Venha daí esse verão.