A contagem decrescente para a 65.ª edição do Festival Eurovisão da Canção já começou. As semifinais acontecem a 18 e 20 de maio e a grande final a 22.
Os Países Baixos voltam a ser os anfitriões do certame depois de, em 2020, os planos terem ido por água abaixo devido à pandemia da COVID-19. Portugal concorre na segunda semifinal, com os The Black Mamba a tentarem garantir um lugar na final.
Quer seja fã do certame musical ou apenas um curioso, a MAGG fez o trabalho de casa e apresenta-lhe um resumo de cada uma das 39 músicas a concurso. Prepare-se, ponha o cinto, que isto vai ser como andar numa montanha-russa depois de um after no Kremlin.
Primeira semifinal
1 - Lituânia
The Roop - "Discoteque"
É assim que imagino que vamos todos dançar quando (finalmente) as discotecas e bares reabrirem: com espasmos pós-apocalípticos e como se estivéssemos dentro de um videoclipe dos Talking Heads.
2 - Eslovénia
Ana Skolić - "Amen"
A típica balada épica com mensagem de esperança cantada por uma loira franzina que, assim, à priori, ninguém dá nada por ela, mas depois abre as goelas e sai de lá um vozeirão. Tem coro de gospel, claro.
3 - Rússia
Manizha - "Russian Woman"
Rosie, a Rebitadora, célebre ícone feminista, troca a bandeira dos EUA pela russa e vai com tudo para o palco da Eurovisão. Ainda estamos para perceber como é que um hino ao empoderamento passou pelo crivo de Putin...
4 - Suécia
Tusse - "Voices"
A Suécia é assim uma espécie de mousse Alsa da Eurovisão. Faz-se rápido, à primeira vista parece caseira, mas depois vai-se a comer e sabe tudo a pacote.
5 - Austrália
Montaigne - "Technicolour"
É a Britney, são os Cranberries? É pop do final dos anos 90 ou é ópera? Montaigne tem uma voz do caraças, mas não temos pedalada para acompanhar tanta mudança de estilo ao longo de três minutos.
6 - Macedónia do Norte
Vasil - "Here I Stand"
Mais uma balada épica com uma mensagem de superação, acompanhada por uma orquestra de 5498 pessoas e ainda um coro. E ainda nem a meio vamos. Deus me dê paciência.
7 - Irlanda
Lesley Roy - "Maps"
Estão a ver aquelas músicas que põem a tocar no rádio do carro quando levaram uma tampa há duas semanas mas já acham que estão muito bem e a superar tudo com imenso estilo? É "Maps".
8 - Chipre
Elena Tsagrinou - "El Diablo"
Em 2018, o Chipre trouxe-nos a Lisboa uma Eleni com "Fuego". Três anos depois, levam a Roterdão uma Elena com "El Diablo". I-no-va-dor.
9 - Noruega
Tix - "Fallen Angel"
Das duas, uma: ou isto é a cena mais azeiteira que alguma vez pisou o palco da Eurovisão ou a crítica mais inteligente a todos os exageros cénicos do certame. Não conseguimos decifrar.
10 - Croácia
Albina - "Tick-Tock"
Podia ser um hino à rede social chinesa, mas é só uma moça muito gira a cantar com a voz muito bem disfarçada com auto tune. Prevemos desafinanço monumental em Roterdão.
11 - Bélgica
Hooverphonic - "The Wrong Place"
É aquele momento da semifinal para fazer um xixi ou ir à cozinha buscar uma bucha. Ninguém quer ouvir uma música decente com uma atuação discreta. Give me the fireworks!!!!!
12 - Israel
Eden Alene - "Set Me Free"
Israel é assim uma espécie de McDonald's da Eurovisão. Satisfaz, nunca desilude porque é o que é. Mas se preferíamos um bom bife da vazia, mesmo correndo o risco de vir demasiado passado? Preferíamos.
13 - Roménia
Roxen - "Amnesia"
'Tou, Roxen? A Billie Eilish ligou e diz que quer isso tudo de volta.
14 - Azerbaijão
Efendi - "Mata Hari"
O Azerbaijão raramente falha: música orelhuda, umas moças semidespidas e uma daquelas performances com efeitos especiais que hão-de custar os olhos da cara e fazem as outras parecerem uma atuação na rua de Santa Catarina.
15 - Ucrânia
Go_A - "Шум (Shum)"
"Canto branco" é uma técnica tradicional de canto popular usada na Europa oriental. Depois é só misturar com techno e dá "Shum". Com o que é que se parece? Com aqueles breves segundos em que achámos que Conan Osíris podia ganhar a Eurovisão.
16 - Malta
Destiny Chukunyere - "Je me casse"
Já perceberam que há alguns países que gostam de apresentar versões de marca própria das estrelas pop do momento, certo? De Malta, à falta de Lizzo, veio a Destiny. É lidar, child!
Segunda semifinal
1 - San Marino
Senhit - "Adrenalina"
San Marino é uma espécie de unicórnio da Eurovisão. Pouco ou nada sabemos desta micro-nação, mas o que é certo é que anda nestas lides eurovisivas desde 2008. E, este ano, com um fator surpresa acrescido: irá o rapper norte-americano Flo Rida atuar ao lado de Senhit? O tabu mantém-se.
2 - Estónia
Uku Suviste - "The Lucky One"
Eurovisão que é Eurovisão tem de ter um bonzão a cantar num inglês paupérrimo sobre o coraçãozinho partido por uma miúda qualquer. Uku vai aparecer no palco da Ahoy Arena no meio de uma tempestade e estamos capazes de apostar uma mini e uma bifana que isto vai meter chuva e camisas molhadas, coladinhas ao corpo.
3 - República Checa
Benny Cristo - "Omaga"
É fresco, é urbano e com potencial para se ouvir na rádio ou no Spotify, meses depois de passar o frenesim eurovisivo. Isto tudo vindo de um país onde nasceu malta animada e folgazona como Franz Kafka, Milan Kundera e Antonín Dvořák. Dá que pensar.
4 - Grécia
Stefania - "Last Dance"
Há um subgénero que só vê a luz do dia durante a época eurovisiva. Chamemos-lhe eurotrashdance music. É feita com recurso a um produtor que faz música a peso (até pode fazer hits para o Justin Bieber, mas pagaram-lhe pouco e saiu "Last Dance") e soa mais ou menos à música de fundo que toca na Stradivarius ou na Primark.
5 - Áustria
Vincent Bueno - "Amen"
Há um "Amen" em cada semifinal da Eurovisão 2021 e começamos a desconfiar que isto não é patrocinado pela Moroccanoil, mas sim pelo Vaticano. #teoriadaconspiração #illuminati
6 - Polónia
Rafał - "The Ride"
Nem os sintetizadores à la pop anos 80 nos fazem desviar os olhos do quão azeiteiro é o Rafal e a sua trupe de bailarinos. Menos. Muito menos.
7 - Moldávia
Natalia Gordienko - "Sugar"
Palavra de honra que eu acho que, a leste, deve haver fábricas que produzem estas Barbies supersónicas que fazem tudo bem: são top models, cantam que se fartam e dançam razoavelmente bem. Que nervos. Ah, a música? É fraquita.
8 - Islândia
Daði & Gagnamagnið - "10 Years"
É assim que, nos meus sonhos, imagino todos os islandeses. Uma grande família de nerds-hipsters, vestidos com pijamas iguais e com meios sorrisos indecifráveis. Fora de brincadeiras. A Islândia era favorita em 2020 e mantém esse estatuto este ano. PS: preciso desta coreografia na minha vida.
9 - Sérvia
Hurricane - "Loco Loco"
Eurovisão que se preze tem de ter: 1) pelo menos uma girlsband 2) ritmos latinos 3) palavras em castelhano metidas a martelo 4) uma máquina de vento para fazer esvoaçar cabelo. A Sérvia meteu tudo na Bimby e saíram as Hurricane.
10 - Geórgia
Tornike - "Kipiani You"
Aquele momento da segunda semifinal para um xixi, um post nas redes sociais ou para meter a loiça na máquina.
11 - Albânia
Anxhela Peristeri - "Karma"
Um dos aspectos mais apaixonantes da Eurovisão é podermos apreciar línguas que não ouvimos habitualmente. E o albanês, como se pode comprovar nesta canção, é de facto uma língua exótica e bonita. #momentocultural
12 - Portugal
The Black Mamba - "Love is On My Side"
PORTUGAL, PORTUGAL!!! Olé, olé, olé, olé, ooooooolé! E quem não salta, não é Tatanka! E salta Tatanka, e salta Tatanka, olé olé!
13 - Bulgária
Victoria - "Growing Up Is Getting Old"
Em português, esta música significa "Crescer é Envelhecer". Quem canta é a Victoria, mas bem podia ser a nossa conterrânea Lili Caneças, célebre autora de outro êxito da música pop, "Being Alive is the Opposite of Being Dead".
14 - Finlândia
Blind Channel - "Dark Side"
"É a versão finlandesa dos Linkin Park" é o mais simpático que podemos dizer deste punk rock genérico. Quer dizer, um dos vocalistas dá assim uns ares de Ville Valo, o vocalista da saudosa banda finlandesa HIM [inserir emoji apaixonado].
15 - Letónia
Samanta Tina - "The Moon Is Rising"
Adoramos a coreografia, que não é nada copiada do videoclipe "Run the World (Girls)" da Beyoncé. Mas pronto, a Samanta diz que é rainha, que faz a suas próprias regras e tal, e a malta respeita. Porque empoderamento e tal.
16 - Suíça
Gjon's Tears - "Tout l'Univers"
Suíça, país-berço do Festival Eurovisão da Canção, volta a apostar no idioma francês, depois de nove anos de canções em inglês. E bem. "Tout l'Univers" é elegante, poderosa e eficaz. Como um relógio suíço (vá lá, a piada estava a implorar para ser feita).
17 - Dinamarca
Fyr & Flamme - "Øve os på hinanden"
E, por falar em regresso às origens, a Dinamarca quebra a tradição de duas décadas a cantar em inglês, e aposta numa canção na língua de Hans Christian Andersen. "Øve os på hinanden" é uma matrioska eurovisiva, cheia de referências sonoras e visuais aos êxitos da década de 80.
Final (países com acesso direto)
França
Barbara Pravi - "Voilà"
Édith Piaf reencarnou em Barbara Pravi não só para cantar, mas também para dizer ao mundo eurovisivo: "O caneco é nosso. Vemo-nos para o ano em Paris, putains!"
Alemanha
Jendrik - "I Don't Feel Hate"
Eurovisão que se preze tem de ter uma atuação que ninguém realmente percebe, assim um misto de "isto parece giro, mas não sei" e "vou por isto como toque do telemóvel".
Itália
Måneskin - "Zitti E Buoni"
Desde 2017, ano em que Francesco Gabbani apresentou ao mundo a obra prima "Occidentali's Karma", que Itália se tornou demasiado boa para a Eurovisão. Este ano não é exceção. Não somos dignos de Måneskin. Não somos.
Espanha
Blas Cantó - "Voy A Quedarme"
Espanha venceu a Eurovisão dois anos seguidos (1968 e 1969) e pensou: "Pues que está muy bien, no queremos más eurovisiones en Madrid". E se assim o pensaram, melhor o fizeram. Tanto é que a última vez que estiveram no top cinco foi em 1991. E este ano não vai ser diferente.
Países Baixos
Jeangu Macrooy - "Birth Of A New Age"
Por norma, o país anfitrião não quer fazer má figura mas tenta sempre arranjar assim uma coisa que não comprometa mas que também não se arrisque a ganhar. É que isto de organizar a Eurovisão fica para cima de uma fortuna.
Reino Unido
James Newman - "Embers"
Aposto 50 paus como esta música vai parar a um anúncio de uma marca super jovem e dinâmica, tipo operadora de telecomunicações ou campanha de reversão do Brexit.