Não sabemos se existe uma sondagem fidedigna mas diríamos, assim de cabeça, que, em festivais, o rácio de fãs hardcore vs. pessoas que só conhecem meia dúzia de músicas de uma banda será de 30/70. Estando nós no grupo dos 70%, foi com alguma expectativa (mas também algumas dicas pouco abonatórias) que rumámos ao concerto dos Red Hot Chilli Peppers, cabeças de cartaz do primeiro dia da 15ª edição do NOS Alive.

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O que sucedeu? 90 minutos entediantes, com quase nenhuma interação com o público, com honrosa exceção para Flea, o carismático baixista da banda nascida em 1983 em Los Angeles, que ainda ensaiou umas tiradas filosóficas sobre o rio Tejo e a lua (que, do nível a que estávamos, não conseguíamos ver).

De Anthony Kiedis ouvimos a voz, perfeitamente afinada, a cantar, um após outro, os êxitos da banda (e muita música que nunca tínhamos ouvido, mas admitimos que não papámos a discografia toda dos Red Hot Chilli Peppers), mas a desconexão com o público foi tal que tanto podia estar no Passeio Marítimo de Algés como no Coachella ou em Glastonbury.

Os Red Hot Chilli Peppers têm a nossa idade e isso, só por si, é um posto. Mas que foi um início anticlímax da 15ª edição de NOS Alive, lá isso foi. Ainda assim, destacamos três coisas que nos ficaram na memória deste concerto.

1. Os looks coloridos (e a impressionante forma física de Anthony Kiedis)

Não somos de intrigas mas parece que os Coldplay andam a criar tendência no mundo do rock. A banda britânica tem apostado nas cores fluorescentes na mais recente digressão Music of the Spheres e os Red Hot Chilli Peppers também usaram e abusaram dos tons néon. Longe vão os tempos em que o rock se vestia de negro (embora os Red Hot nunca tenham sido seguidores fieis dessa legião) e, por nós, tudo bem. Adorámos o conjunto irrepreensível de Flea (60 anos), com uma sweat shirt vermelha e uma incrível saia rodada azul (ou roxa?) e a malha fluorescente de Kiedis, conjugada com uns calções pretos com um coelhinho (da Playboy?) debruado a cristais.

red hot chilli peppers nos alive
red hot chilli peppers nos alive Anthony Kiedis e Flea créditos: Arlindo Camacho / NOS Alive

Mais discretos, mais igualmente coloridos, o guitarrista John Frusciante (53 anos) e o baterista Chad Smith (61 anos) também abusaram da cor (adorámos o colete preto com rosas bordadas de Smith). Apesar de não termos fotos do momento (os fotojornalistas puderam apenas captar imagens durante o início do concerto) não podemos deixar de referir a incrível forma física de Kiedis que, aos 60 anos, se mostrou em tronco nu, musculado, com um corpo de fazer inveja a muitos moços com idade para serem seus netos.

2. Perfeitinho, perfeitinho, como ouvir um CD naquela aparelhagem Sony comprada em 1996

Podemos dizer que os Red Hot Chilli Peppers não entregaram versões perfeitas das suas músicas? Não. Podemos dizer que, como alguns artistas, se puseram a fazer versões malucas dos seus melhores êxitos, tão diferentes que se tornam impossíveis de identificar (e de cantarolar, que é para isso que a pessoa vai a festivais)? Não. Mas, se fechássemos os olhos, e se não fosse o frio desagradável que fazia, quase conseguíamos dizer que estávamos no nosso quarto de adolescente forrado a posters, a ouvir o "Blood Sugar Sex Magik" na aparelhagem Sony que tínhamos recebido pelo Natal. Zero emoção, zero espontaneidade.

Chad Smith e Anthony Kiedis
Chad Smith e Anthony Kiedis Chad Smith e Anthony Kiedis créditos: Arlindo Camacho / NOS Alive

3. As (poucas) malhas conhecidas ficaram para o fim

Faltou interação com o público, faltaram vários êxitos da banda e os poucos que os Red Hot Chilli Peppers tocaram para o público português ficaram guardados para a parte final do concerto. Ao fim de 45 minutos, lá se dignaram a tocar "Tell Me Baby", o êxito esperançoso e colorido de 2006. Até "Californication" (também de 1999, do álbum homónimo) foi tocado a um ritmo mais lento, para desespero de quem ensaiava abanar-se de um lado para o outro (em parte para sentir a música, em parte para afastar o frio). E quando o público começava a achar que a banda já tinha zarpado em direção a Los Angeles, o coletivo lá voltou a palco para satisfazer, embora não totalmente, o desejo de cantar em uníssono. "Under The Bridge", "Give it Away", adeus e um queijo que os senhores têm mais que fazer.

Veja as fotos do concerto

E conseguimos escrever um texto sobre os Red Hot Chilli Peppers sem fazer trocadilhos com picantes e malaguetas. Incrível. Esta sexta-feira, 7, sobem ao palco principal do NOS Alive Linda Martini, Idles, Lil Nas X, Lizzo e Artic Monkeys.

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