Estreou-se há apenas três dias e é já um grande sucesso. "A Sociedade da Neve" é a mais recente adição do catálogo da Netflix, tendo chegado ao streaming esta quinta-feira, 4 de janeiro, e retrata a história real de um grupo de amigos que sobreviveu dois meses na neve, depois de o avião em que viajavam se despenhar numa zona de difícil acesso na cordilheira dos Andes, na América do Sul.
A história é bem conhecida e já foi contada anteriormente, nomeadamente em Hollywood, sendo o filme "Estamos Vivos", protagonizado por Ethan Hawke, um dos exemplos. Contudo, esta produção da Netflix, realizada por Juan Antonio Bayona, conhecido por ter estado aos comandos de "O Impossível" (2012), é inspirada na obra de Pablo Vierci, amigo de infância das vítimas do fatídico voo 571.
Veja o trailer.
Gravada parcialmente no Valle de las Lágrimas, nas cordilheiras dos Andes, "A Sociedade da Neve" é um filme protagonizado por jovens do Uruguai e da Argentina, como Enzo Vogrincic, Matías Recalt, Agustín Pardella e Esteban Bigliardi. E mesmo não tendo um elenco de celebridades reconhecidas internacionalmente, este drama está na corrida para garantir uma vaga na corrida aos Óscares, na categoria de Melhor Filme Internacional.
Ao contrário das produções anteriores, o realizador quis contar a história não só de forma a pintar o acidente, mas tendo também o relato dos sobreviventes como mote. "Penso que, de alguma forma, é a primeira vez que estamos a contar a história de toda a sociedade e isso foi muito importante, não só para os sobreviventes mas também para as suas famílias", conta, citado pela "The Hollywood Reporter".
E o que não falta são relatos impressionantes (e, sobretudo, arrepiantes) sobre o rescaldo deste acidente, que remonta a 13 de outubro de 1972. É que, a bordo da aeronave, seguiam 45 pessoas, das quais 29 sobreviveram ao impacto, avança a "Visão" – e, numa luta pela sobrevivência, quem conseguiu viver para contar a história teve de ignorar todos os seus princípios até chegar a altura de serem salvos.
Mas vamos a contextos. O voo, que era fretado, transportava uma equipa amadora de râguebi, os Old Christian Club, bem como os seus familiares, amigos e até uma mulher que tinha comprado um bilhete à última hora para ir ao casamento da filha. A aeronave partiu de Montevideu, no Uruguai, com destino a Santiago, no Chile. Depois de algumas horas no ar, o piloto quis aterrar em Curicó, mas fez mal as contas e acabou por colidir com uma montanha.
Para muitos, o impacto foi fatal. Para outros tantos, não chegou a sê-lo – mas aquilo que os esperava não era melhor que a morte, já que ficaram presos a 3.500 metros de altitude, onde a neve o frio se faziam sentir com pujança. A par disto, não tinham mantimentos suficientes para enfrentar as condições climatéricas adversas, pelo que construíram abrigos improvisados.
Mas não foi só isso que acabou por marcar os sobreviventes. Confrontados com a escassez de alimentos e a impossibilidade de encontrar recursos na imensidão da montanha, foram forçados a fazer o impensável: recorrer ao canibalismo, segundo o "Estadão". Isto é, os sobreviventes começaram a consumir os corpos dos que tinham morrido no desastre. Embora tivessem perdido toda a humanidade, restava-lhes apenas a fé de que iriam ser resgatados.
Depois de várias complicações nos dias que se seguiram, e de mais umas quantas mortes, três dos jogadores de râguebi partiram em busca de ajuda. Tendo em mente informações que o piloto da aeronave forneceu antes de morrer, optaram por subir a montanha e descer em direção ao Chile – e, após uma jornada de dez dias e 60 quilómetros, conseguiram encontrar ajuda.
Do desastre ao salvamento, foram 72 dias, já que os 16 sobreviventes só foram resgatados a 22 de dezembro. E sobre esta vontade de viver, enfrentando a catástrofe e um cenário de incontáveis adversidades, que fala "A Sociedade da Neve".