Nas literais linhas dos carris, ou sob rodas, há quem se dedique a fazer-nos chegar ao trabalho ou à escola. Os deveres esperam-nos, tal como eles nos esperam ver todos os dias a entrar, picar o bilhete e procurar um lugar — ou o buraco mais próximo, na melhor das hipóteses.
É verdade que andar na Carris pode ser uma aventura em horas de ponta, mas também ou em certas zonas por serem mais turísticas. Júlio Delicado, de 46 anos, está há 13 na Carris e começou como guarda-freio em 2007. Pelo meio mudou de empresa, mas voltou à Carris em 2013 para conduzir o elétrico da linha 28. Ora, não fosse este um dos elétricos mais emblemáticos, fazendo até parte de muitos roteiros turísticos, e Júlio não se tinha fartado dos turistas.
Isto para não falar das horas que ficou parado porque não conseguia passar com o transporte entre os carros mal estacionados, fazendo do elétrico a sua cama de uma noite não dormida. No fim de 2018 passou para a serralharia, onde a desvantagem de ganhar menos é compensada pela tranquilidade, pela saúde mental e pelo tempo que consegue passar com a família.
Com mais alguns anos de casa, neste caso transporte, Dário Ussumane trabalha na Carris como inspetor desde os 26 anos. Mesmo com esta profissão, cujo nome deixa qualquer um de pé atrás, a verdade é que o ambiente com os colegas não podia ser melhor. E ainda que no final do ano tenha de os avaliar, isso não é tarefa difícil para Dário — e o mesmo revela porquê: "Lisboa tem os melhores elétricos e guarda-freios do mundo", diz, sem deixar sombra de dúvidas de que a avaliação nunca é negativa.
E quanto a José Clemente? Podemos não conhecer este nome, mas na Carris não passa certamente despercebido. É que anda por aqui desde os 14 anos e, apesar de não ser o mais velho dos trabalhadores, é o que soma mais tempo de casa — 40 anos. Aprendeu parte do que sabe hoje para ser eletricista no local onde é agora o Centro Comercial Amoreiras.
Ainda que goste do que faz, não desejava o mesmo para as filhas. Essas já estão encaminhadas, não nas linhas do carris, mas nos estudos. Em tom de brincadeira José Clemente revela à MAGG que a única coisa boa de ter começado a trabalhar tão jovem é poder reforma-se aos 60.
Além destes três homens, encontrámos o rosto de duas mulheres e de outros funcionários que mantêm a empresa fundada em 1872 a funcionar. Conheça os outros retratos da Carris em Lisboa.