Nos anos 1950, Beth Harmon é reconhecida pelos seus pares como uma jovem obsessiva, mas genial e assertiva nas suas convicções. Mas esse reconhecimento depressa começa a abranger-se a comunidades ainda mais amplas à medida que esta, com apenas 22 anos, decide tentar tornar-se na melhor jogadora de xadrez do mundo — um meio, especialmente naquela altura, dominado por homens. Assim é a história de "Gambito de Dama", a nova série da Netflix que conquistou a crítica internacional e de que todos estão a falar.
E ainda que a empresa não divulgue, de forma transparente, os dados de visualização referente às suas séries originais, a verdade é que, à data da publicação deste artigo, a nova produção da Netflix surge destacada no segundo lugar de séries mais vistas em Portugal.
A explicação, uma de muitas, pode ter que ver com o facto usar elementos de época, à medida que acompanha a figura de uma mulher emancipada nos anos 1950, convicta daquilo que quer para a sua vida, mas que, ainda assim, se vê obrigada a lidar com vários obstáculos — como a autossabotagem através do consumo de álcool e drogas, que a incapacitam física e psicologicamente.
Os problemas de Beth remontam à infância, quando ficou órfã de mãe depois de esta ter morrido num aparatoso acidente de carro. O luto ficou suspenso quando a protagonista é obrigada a ir viver com a mãe adotiva que, sabe-se logo ao início da história, se trata de uma pessoa mentalmente instável e que projeta as suas inseguranças na criança que aceitou acolher.
É neste ponto da vida de Beth que entra o xadrez. Embora seja o jogo, para Beth é um escape à realidade que se viu obrigada a aceitar. O traço humano puxa pelo instinto afetivo do espectador que, logo desde o primeiro episódio, quer ver a protagonista singrar — mesmo que, durante o percurso, tenha de a ver cair uma e outra vez em desgraça, consequência dos demónios que só vão sendo potenciados com o consumo de álcool e drogas.
A história de "Gambito de Dama", adaptada por Scott Frank e Allan Scott para televisão do livro com o mesmo nome assinado por Walter Tevis, é segundo a crítica "uma história de um mundo que por vezes se sente impenetrável e que, aqui, é contada através dos olhos de uma prodígio que abraça a sua genialidade, mas que é tão humana quanto qualquer outra pessoa".
Além disso, a série conta já com uma pontuação de 8.9 (numa escala de zero a dez) no IMDb, o agregador de pontuações de séries e filmes. Os sete episódios de "Gambito de Dama" já estão inteiramente disponíveis no catálogo da Netflix, mas por estar a ser publicitada como uma minissérie, não se sabe se haverá continuação da história.
Do elenco fazem parte nomes como Anya Taylor-Joy, Chloe Pirrie, Bill Camp, Marielle Heller e Marcin Dorocinski.